Valsa com Bashir: memórias de uma guerra em animação.
Valsa com Bashir foi um dos filmes mais elogiados da década passada, desde que começou a ser exibido em festivais foi apontado como um dos melhores do ano e cotado para várias premiações. Só no Oscar estava na mira de três categorias: melhor documentário, melhor animação e filme estrangeiro. Não lembro de nenhum outro caso de um longa que tenha deixado a dúvida em qual dessas categorias se enquadrava melhor. Acabou conseguindo uma vaga na categoria de filme estrangeiro (a qual ganhou no Globo de Ouro), mas perdeu para o pouco badalado japonês A Partida. Basta ver os primeiros minutos de Valsa com Bashir para entender o motivo da derrota. O filme é essencialmente um documentário feito com o mesmo estilo de animação utilizado por Richard Linklater em Waking Life (2001) e O Homem Duplo (2006) - mas com a vantagem do cineasta Ari Folman e sua equipe ter um senso estético nfinitamente mais apurado do que os apresentados por estes filmes americanos. Sendo um documentário, a narrativa não se compara ao de uma história redondinha como de um filme de ficção com início, meio e fim – e nem adianta utilizar como fio condutor o resgate das memórias de Folman sobre a guerra do Líbano. O filme é montado a partir dos encontros do diretor seus parceiros de guerra, a partir daí se constituí de pequenas jornadas pessoais destes personagens reais dentro dos horrores da guerra, até o momento final do massacre de Sabra e Shatila. A opção pela animação torna tudo isso mais assistível. Por amenizar a brutalidade das imagens, tudo se torna mais lírico, poético e até fantasioso (ainda que na maior parte da sessão tenha entre as suas virtudes o realismo) - existem até momentos metalingüísticos (como quando o diretor pergunta a um dos seus ex-companheiros se poderá desenhá-lo brincando com o neto). Além de caprichar na concepção visual dos episódios narrados pelos entrevistados, o filme procura ter uma montagem ágil pela maior parte da sessão e uma enérgica trilha. O filme merece ser visto por explorar um momento histórico pouco falado (a guerra aconteceu em 1982 e ficou marcada no imaginário do país pela participação do Estado no massacre realizado nos campos de refugiados), mas seu maior mérito é (evidentemente) o capricho visual. Mas, Folman é esperto o suficiente para saber que as cenas do massacre possuem o efeito perturbador somente com o uso das cenas reais - e não animadas por sua equipe - este desfecho é mais do que uma opção estética ou para chocar, mas marca o momento em que suas lembranças reencontram finalmente a realidade que tanto procurava.
Valsa com Bashir (Vals im Bashir/Israel - 2008) de Ari Folman. ☻☻☻☻
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