sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

N@ CAPA: INDICADOS AO OSCAR 2014 - MELHOR FILME


Domingo é dia de Oscar e nada melhor para ser a capa do mês de fevereiro do que os nove contemplados com o reconhecimento da Academia como os melhores filmes de 2013. Alguns já passaram por aqui, outros estão em cartaz e alguns ainda vão estrear, mas todo mundo ouviu falar deles durante o mês de passou. Já tem o seu favorito? 
A seguir os candidatos a melhor filme:

Capitão Phillips Apesar dos comentários de que o verdadeiro Phillips foi bem menos heroico do que conta o filme, existe um burburinho que aponta que o filme pode surpreender na categoria. Será? Não acredito muito que o filme que ajudou a dar um upgrade na carreira de Tom Hanks (que faz tempo precisava de um sucesso desse porte) chegue tão longe com a história real de um barco que é tomado por piratas. O filme está indicado em seis categorias: Filme, montagem, edição de som, mixagem de som, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Barkhad Abdi tem chances de levar!)

Clube de Compras Dallas É sempre interessante quando um filme que ficou na gaveta por tanto tempo consegue ser finalizado e chegar tão longe. Muita gente torce o nariz pelo filme concorrer na categoria de melhor filme do ano, mas não deixa de ser honroso que a Academia reconheça os méritos de uma história real de contravenção: um grupo de pessoas portadoras do HIV realizam uma espécie de cooperativa que faz contrabando de remédios mexicanos para os EUA. A trama concorre a seis estatuetas: Filme, montagem, cabelo e maquiagem, roteiro original, ator (Matthew McConaghey, favorito na categoria) e ator coadjuvante (Jared Leto, idem). 

12 Anos de Escravidão Quando foram divulgados os indicados, a história real do negro livre que é enganado e vendido como escravo no interior dos EUA estava longe de ser favorito ao prêmio, mas gradativamente chamou atenção pela firmeza com que conduz um assunto que os americanos adoram esconder debaixo do tapete. O filme não poupa o expectador dos horrores causados pelo período e sua força narrativa nasce exatamente daí (embora alguns críticos brasileiros não vejam novidade nisso, já que por aqui até as novelas das seis abordam o tema). O longa está no páreo nas categorias: filme, direção (Steve McQueen), figurinos, montagem, design de produção, roteiro adaptado, ator (Chiwetel Ejiofor), ator coadjuvante (Michael Fassbender) e atriz coadjuvante (Lupita Nyong'O, que tem fortes chances) 

Ela concorre em cinco categorias (Filme, canção, trilha sonora, design de produção e roteiro original - o qual é favorito) e, curiosamente, é a primeira vez que um filme de Spike Jonze concorre na categoria principal. O roteiro escrito pelo diretor conta a história de um futuro próximo, onde um homem solitário se apaixona por um sistema operacional com voz da Scarlett Johansson! Menos do que uma crítica, o filme aborda a necessidade que o ser humano tem em conectar-se com alguém para lidar com sua existência. Considerado um dos filmes mais originais (e tristes) da temporada, Ela deve ser contemplado com o prêmio de roteiro original - o que seria o primeiro Oscar de Spike Jonze. 

Gravidade Filmes de ficção científica não costumam ser lembrados na categoria mais importante do Oscar, mas o longa de Alfonso Cuarón está bem perto de ser considerado o melhor filme do ano. A seu favor está a sensação de proporcionar ao espectador uma experiência cinematográfica e sensorial única. A qualidade do filme é impressionante ao contar a história da astronauta que se perde no espaço e precisa enfrentar vários desafios. Cuarón deve levar o prêmio de diretor, mas o filme concorre em outras nove categorias - sendo favorito em todas as técnicas (fotografia, montagem, trilha sonora, design de produção, edição de som, mixagem de som, efeitos especiais), além de concorrer na categoria de melhor filme e atriz (Sandra Bullock no papel de sua vida).

Nebraska Às vezes tenho a impressão que nem Alexander Payne acredita que tem, mais uma vez, uma obra sua sendo lembrada pela Academia. É verdade que Nebraska chamava a atenção desde a sua estreia em Cannes - e a indicação de Bruce Dern pela atuação de um senhor que acredita que receberá um prêmio de um milhão de dólares era praticamente certa. A jornada desse personagem curioso por pessoas e lugares de sua história é temperada com o tom cômico de Payne, sendo lembrada em seis categorias: melhor filme, diretor (Payne), ator (Dern), atriz coadjuvante (June Squibb), fotografia e roteiro original, mas é favorito em nenhuma delas. 

O Lobo de Wall Street Leonardo DiCaprio realizou seu quinto trabalho com Martin Scorsese, a diferença é que dessa vez a iniciativa foi do ator em escalar o consagrado diretor para dirigir a cinebiografia de Jordan Belfort - que ficou famoso por fazer fortuna com crimes cometidos em nome dos excessos do capitalismo na Terra do Tio Sam. O longa concorre aos prêmios de filme, direção (Scorsese), ator (DiCaprio), ator coadjuvante (Jonah Hill) e roteiro adaptado. Apesar do sucesso de bilheteria, é público e notório que a Academia tem suas ressalvas com um longa metragem repleto de sexo, drogas e contravenções. 

Trapaça Se o Oscar fosse realizado há um mês atrás, o filme de David O. Russell provavelmente teria sido o grande favorito. A verdade é que a trama que mistura trapaceiros, agentes do FBI, políticos corruptos e uma ex-mulher ensandecida perdeu força conforme se aproximava a data da cerimonia. O filme acabou perdendo seu favoritismo, mas o sucesso de bilheteria ainda o mantém no páreo com o ar de tributo a Scorsese. O filme - ao lado de Gravidade - é o que concorre em mais categorias: filme, diretor (Russell), ator (Christian Bale), atriz (Amy Adams), ator coadjuvante (Bradley Cooper), atriz coadjuvante (Jennifer Lawrence, que pode levar), figurino, edição, design de produção e roteiro original, num total de 10 chances de levar a estatueta para casa.  

Philomena Histórias humanas quando bem realizadas são sempre bem vindas! Prova disso é o sucesso que o último filme de Stephen Frears faz desde que foi lançado no Festival de Veneza no ano passado. Baseado numa história real (completando cinco histórias verdadeiras no páreo de melhor filme), o longa retrata a história de uma senhora que resolveu buscar o paradeiro do filho dado à adoção. Em sua jornada ela conta com a ajuda de um jornalista (Steve Coogan, que assina o roteiro) de temperamento bem diferente do dela. O filme tem 4 indicações - com chances na categoria de roteiro adaptado ainda concorre a melhor filme, atriz (Judi Dench) e trilha sonora. 

O ESQUECIDO: Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum. Quem diria que depois de uma consagrada estreia em Cannes o novo filme dos irmãos Coen seria tratado com tanto pouco caso pela Academia. Talvez o Oscar tenha se cansado de histórias sobre artistas talentosos fracassados. O filme sobre o fictício Llewyn Davis pode não ter agradado pela atmosfera lúgubre e pelos personagens melancólicos, mas chega a ser maldade deixá-lo de fora até da categoria melhor canção original. O filme ainda poderia estar fácil nas categorias de melhor filme, diretor, roteiro original e ator (Oscar Isaac), mas a Academia o reconheceu somente nas categorias de fotografia e mixagem de som. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

KLÁSSIQO: Passagem para Índia


Davis: engolida pelos mistérios indianos. 

Já escrevi várias vezes a minha admiração por Judy Davis, uma atriz australiana que sempre me pareceu nunca receber a atenção que deveria. Às vezes tenho a impressão que apenas eu e Woody Allen lembramos que ela existe, mas Judy sabe capitalizar sua aura de atriz cult dando conta de participações especiais em filmes esporádicos (como Maria Antonieta/2006 de Sofia Coppola), produções para TV e curtas metragens. Nascida na cidade de Perth em 1955 e atuando no cinema desde 1977, o mundo reconheceu seu talento quando foi estrelou o belo Passagem para Índia de David Lean - pelo qual cravou uma indicação ao Oscar de atriz em 1985 (ano que consagrou Sally Fields por Um Lugar no Coração). Provavelmente a atriz não levou o prêmio porque sua personagem atormentada surge numa interpretação bastante introspectiva, direcionada com bastante inteligência mas que torna toda a experiência do filme um pouco mais complexa do que a plateia está acostumada. Famoso pelos filmes épicos de imagens grandiloquentes, cheias de planos abertos exuberantes (basta ver Lawrence da Arábia/1962 e Doutor Jivago/1965), o diretor ficou tão frustrado com o fracasso do grandiloquente A Filha de Ryan (1970)  que ficou quatorze anos sem lançar obra alguma. Quando retornou ao batente, realizou um filme onde a história fala mais do que a forma como a Índia e seus encantos são apresentados. O filme conta a história de duas mulheres que vão para Índia no período em que o país ainda era dominado pelos ingleses. A experiente Srª Moore (Peggy Ashcroft, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante) resolve visitar o filho que ocupa um cargo diplomático na Índia. Ela leva a futura nora, Adela (Judy Davis) e as duas percebem que existe bastante preconceito na forma como os seus conterrâneos ingleses tratam os indianos. Quem também percebe isso é o superintendente da escola local Richard (James Fox) que mantêm laços de amizade com o excêntrico brâname Godbole (o mutante Alec Guiness, divertido, irreconhecível e genial) e que acolhe as duas. Ao grupo de amigos se juntará o simpático doutor Aziz Ahmed (Victor Banerjee), viúvo bastante atencioso com as inglesas. Eis que por um golpe do destino, Ahmed e turistas irão visitar cavernas misteriosas que são pontos turísticos da região e ele será acusado de ter estuprado Adela. É neste momento que David Lean mostra todo o seu talento ao conjugar cenas e que falam mais do que as palavras, existindo tanto o horror da suspeita de estupro, como também o pavor de que seja feita uma injustiça com Aziz devido ao preconceito latente dos ingleses. Com quase três horas de duração, Lean constrói lentamente a narrativa e revela seus personagens aos poucos para a plateia. Talvez por isso, Aziz seja bem menos suspeito do que a instável Adela, mesmo no tribunal - onde a verdade irá se confrontar com fantasias e a construção da identidade de ambos os envolvidos. Baseado na obra de E.M. Forster, Lean faz um filme sobre o processo violento que foi o domínio inglês na Índia (que permaneceu até o século XX). O esmero na realização do filme lhe valeu 11 indicações ao Oscar, dos quais levou o de atriz coadjuvante para Peggy Ashcroft (numa interpretação bastante teatral) e trilha sonora. Completando vinte anos, o filme merece ser redescoberto. 

Passagem para Índia (A Passage to India/EUA-Reino Unido-1984) de David Lean com Peggy Aschcroft, Judy Davis, Alec Guiness, James Fox e Victor Banerjee. ☻☻

DVD: É o Fim

Franco e seus convidados: piadas no apocalipse.

Nada como juntar os amigos e fazer uma farra, mas quando essa farra acontece quando se está trabalhando o efeito deve ser ainda maior. Essa foi a sensação que tive ao assistir ao besteirol É o Fim, idealizado por Seth Rogen e estrelado por ele, James Franco e sua patota. Sob a premissa de contar o fim do mundo de acordo com o texto bíblico do apocalipse, o roteiro serve de colagem para uma série de situações cujo o único objetivo é fazer o espectador rir. É verdade que não é para o gosto de todo mundo a quantidade de bobagem presente no filme, mas se você entrar no clima as gargalhadas serão muitas. Existe um subtexto de camaradagem e amizade, mas o que vale mesmo são as brincadeiras dos atores interpretando a si mesmos de acordo com a forma como as pessoas os enxergam (Jonah Hill é o bom moço, James Franco é arrogante e alvo de boatos sobre sua sexualidade, Jay Baruchel é o rapaz que tenta se enturmar e não consegue...) enquanto o mundo está acabando. Tudo começa quando Seth Rogen convida o amigo de muitos anos Jay Baruchel para uma festa na casa de James Franco. Jay não demonstra estar muito animado, mas vai mesmo assim como uma forma de se reconciliar com o amigo, com quem quase não tem contato. Chegando na festa existe um bando de celebridades em participações especiais (Rihana, Jason Segel e Michael Cera que interpreta uma personalidade mais desinibida do que vemos nos filmes em que encarna o eterno adolescente desajeitado). A festa ocorre bem em seus excessos, mas uma série de acontecimentos estranhos começam a aparecer. Luzes brancas levam pessoas não se sabe para onde e um enorme buraco se abre para engolir boa parte das pessoas. O excesso de desespero pode causar risadas na plateia e a coisa permanece misteriosa quando Seth, Franco, Jay, Jonah, Craig Robinson e Danny McBride (o penetra na festa de Franco) ficam isolados na casa do anfitrião em meio à sua coleção obras de arte de gosto duvidoso. Cenas como a contagem de alimentos, a busca de água, a visita de Emma Watson e as explicações de que estão diante do fim do mundo convivem num ritmo apressado e que não tem a mínima pretensão de ser levado a sério. Apesar dos efeitos especiais, tudo é descaradamente absurdo e divertido. Não sou muito fã desse tipo de filme que exagera nas baixarias para fazer rir, mas a forma como os atores brincam com os estereótipos que lhes cabe é bastante engraçado. Destaco a cena em que Jonah Hill está possuído e o filme consegue conjugar muito bem uma mistura de terror com humor que eu não via tão eficiente desde o primeiro Pânico (1996) de Wes Craven. Acrescente uma discussão despretensiosa sobre o que é ser bom, digno de salvação, cenas pós-apocalípticas com bons efeitos especiais e  a vontade ilimitada de se fazer rir e você terá uma ideia do que é o filme até o final paradisíaco mais nonsense de todos os tempos. Agora só falta avacalhar outros gêneros para ficar ainda melhor!

É o Fim (This is The End/EUA-2013) de Evan Goldberg e Seth Rogen com Seth Rogen, Jay Baruchel, James Franco, Jonah Hill, Craig Robinson, Danny McBride, Michael Cera e Emma Watson. ☻☻

domingo, 23 de fevereiro de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014: DIRETOR


Alfonso Cuarón (Gravidade) O mexicano tinha alguns filmes de prestígio no currículo (talvez o maior deles seja E Sua Mãe Também/2001 que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de roteiro original), mas Hollywood nunca pareceu levá-lo muito a sério. Ainda bem que ele contou com a ajuda de Sandra Bullock para tirar o roteiro sobre uma astronauta perdida no espaço do papel. Cuarón  consegue universalizar a trajetória da protagonista e, de quebra, criar um espetáculo de tirar o fôlego, nos colocando no espaço junto com a personagem. Ganhador de vários prêmios da temporada (incluindo o Globo de Ouro e o BAFTA de direção) é o favorito na categoria. Cuarón também já concorreu aos prêmios de edição e roteiro adaptado por Filhos da Esperança (2006).

Alexander Payne (Nebraska) Lançado ao estrelato indie em 1996 e nascido em (adivinhe?) Nebraska, Payne pode ser considerado um dos melhores diretores surgidos na década de 1990. Nebraska é o reencontro com as raízes de sua carreira, conta uma trama improvável que fala sobre mais coisa do que parece acontecer na tela. Pela condução da história de um senhor (Bruce Dern, na foto com o diretor) que tenta resgatar o prêmio de um milhão de dólares (que existe só na cabeça dele), Payne concorre ao Oscar de diretor pela terceira vez (antes ele concorreu por Sideways/2004 e Os Descendentes (2011), no currículo ele também tem duas estatuetas (pelo roteiro adaptado de ambos) e uma indicação pelo roteiro adaptado do sensacional Eleição (1999). 

David O. Russell (Trapaça) O novaiorquinho se tornou o novo queridinho de Hollywood. Depois de começar a carreira com filmes um tanto estranhos (lembra da estreia no incestuoso  A Mão do Desejo/1994) e cheia de discussões com o elenco, Russell já soma sua terceira indicação ao Oscar ao de direção (as anteriores foram por O Vencedor/2010 e O Lado Bom da Vida/2012 , que lhe valeu ainda uma indicação pelo roteiro adaptado) nessa espécie de homenagem ao cinema de Martin Scorsese. O filme mistura agentes federais, trambiqueiros e políticos numa trama estapafúrdia (que também indicou o trabalho do diretor na categoria roteiro original) que se tornou sucesso mundial de bilheteria. 

Martin Scorsese ( O Lobo de Wall Street) O ítalo-americano de NY prova mais uma vez que é o único diretor de sua geração que não se acomodou. Atendendo ao pedido de Leonardo DiCaprio ele topou dirigir a biografia de Jordan Belfort - que fez fortuna enquanto consumia drogas, saia com prostitutas e realizava uma série de crimes de colarinho branco na década de 1990. Apesar de não ser o favorito, trata-se de uma honra estar no páreo com o mestre que já concorreu ao Oscar de direção oito vezes (sendo a última por A Invenção de Hugo Cabret/2011). Scorsese é o único da categoria que tem um Oscar de direção na estante (por Os Infiltrados/2006)

Steve McQueen (12 Anos de Escravidão) Na minha modesta opinião, o diretor inglês merecia uma indicação ao Oscar desde o seu primeiro longa metragem (Fome/2008). Parceiro de Michael Fassbender (de chapéu na foto ao lado) - com quem ainda realizou o excepcional Shame/2011. A Academia reparou nele somente agora, quando ele toca numa das feridas mais escondidas do cinema americano: a escravidão. Contando a história de um negro livre que é escravizado e submetido a várias crueldades, McQueen faz um manifesto doloroso sobre um período que o cinema americano prefere não abordar. 

O ESQUECIDO: SPIKE JONZE (Ela) Revelados nos video clipes e aclamado desde a sua estreia em Quero Ser John Malkovich (1999) - pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar de direção. Jonze (com fone de ouvido na foto ao lado)se tornou expert em filmes tão estranhos quanto cativantes. Ela concorre em cinco categorias no Oscar (filme, roteiro original, trilha sonora, canção e design de produção) mas ficou de fora da categoria de direção. Pelo menos ele tem chance de levar a estatueta de roteiro original pela a história de um homem que se apaixona por um sistema operacional (enquanto fala de nossa necessidade em se conectar com alguém). Talvez a Academia esteja aguardando o dia em que o diretor fará um filme mais convencional para lembrar dele, mais uma vez, como cineasta. 

DVD: Bem-Vindo ao Mundo

Cruz e Hirsch: faltou sintonia. 

Tem filmes que tentam abraçar o mundo em suas histórias e acabam perdendo a chance de envolver o espectador. O italiano Bem-vindo ao Mundo (2012) de Sergio Castellito é um desses. Mesmo com a história dos personagens se misturando com a História de Sarajevo, o diretor tenta dar conta de vários elementos e termina com um resultado confuso em suas nobres aspirações. Estrelado por Penélope Cruz e Emile Hirsch, os dois vivem um casal de estrangeiros que se conhece e se apaixona em meio aos conflitos da Bósnia entre as décadas de 1980 e 1990.  No filme conhecemos primeiro Gemma (Cruz) madura, casada, numa vida confortável na Itália ao lado do filho e do esposo. Não demora muito para que conheçamos o seu passado, onde se envolve com o fotógrafo Diego (Hirsch) e, apesar de todo o amor e companheirismo que sentiam um pelo outro, a dificuldade e de Gemma gerar um filho começa a criar problemas para o casal. Gemma sofre bastante com sua possível esterilidade, mas Diego é sempre compreensivo e a apóia em todos os planos da namorada para resolver a frustração. Os conflitos em Sarajevo servem como pano de fundo para a história do casal e ainda para o relacionamento delicado de Gemma com o filho (Pietro Castellito, filho do diretor) no tempo presente, já que ele é convidado a visitar Sarajevo com a mãe e conhecer o trabalho de seu pai que encontra-se em exposição. Fica evidente que todo o passado sofrido de sua terra natal não interessa ao rapaz, existe sempre um desconforto, um mal estar por parte dele como se uma verdade lamentável estivesse para emergir a qualquer instante. Até esse ponto o filme funciona bem, o problema é quando a verdade sobre o filho de Gemma se aproxima e o roteiro se enrola em surpresas que cansam o expectador até o final que pretende ser surpreendente. Porém, o espectador já está cansado perante a guinada que sofre o relacionamento de Diego e Gemma, o que compromete todo o cuidado com que o filme apresentou seus personagens na primeira metade. Penélope Cruz se esforça, mas o filme deixa sua personagem parecendo mais uma mulher desequilibrada do que mãe zelosa,  ainda assim, a atriz espanhola devora seu parceiro de cena em vários momentos. É um tanto frustrante perceber que depois de tanto tempo Emile Hirsch (na época com 28 anos) continua sendo o mesmo ator promissor de sempre, um talento que custa a amadurecer. Talvez por isso, Diego sempre pareça um adolescente, sempre mais novo e sempre agitado demais para conter as necessidades emocionais e afetivas de Gemma. Essa pode ser até a intenção do roteiro, mas incomoda bastante uma certa falta de sintonia entre os dois personagens. Emile parece jovem demais para o papel. Porém, o maior problema do filme é a falta de sutileza como é mostrada a concepção do filho de Gemma, uma história triste, mas que aparece desvalorizada pelos elementos melodramáticos que Catellito utiliza em cena. Talvez no livro de Margareth Mazantini (esposa do diretor) as coisas fossem mais emocionantes, mas, da forma como foi filmado, o ápice da narrativa perde parte de sua força dramática pela mão pesada do diretor. Vale ressaltar que a viagem ao passado da protagonista é de uma qualidade técnica com cara de Oscar. A edição, a fotografia e a trilha sonora são impecáveis, faltou mesmo um pouco de bom senso para contar a parte em que o filme se torna mais complexo e, por isso mesmo, perigoso para um diretor cheio de boas intenções e pretensões.  

Bem-vindo ao Mundo (Venuto al mondo/Itália-2012) de Sergio Castellito coim Penélope Cruz, Emile Hirsch, Pietro Castellito, Sergio Castellito e Mira Furlan. ☻☻

KLÁSSIQO: Cenas de um Casamento

Liv e Erland: a vida de casado no microscópio de Bergman. 

Em uma famosa cena de Manhattan (1979), a personagem de Diane Keaton critica a obra de Ingmar Bergman dizendo que ele disfarça sua visão simplória do mundo com doses de psicologia. O personagem de Woody Allen sente-se insultado com a afirmação (até por conta de Woody ter confessado várias vezes a influência do cineasta sueco em sua obra). Mesmo achando uma provocação bastante cruel, eu até posso entender de onde a personagem de Diane tirou essa ideia - ainda que eu discorde dela. No entanto, apesar de todos os elogios, Cenas de Um Casamento é o filme de Bergman que, visto hoje, menos me impressiona em sua cinematografia. É verdade que o filme serviu de influência para inúmeros outros filmes. Mas o problema deve ser meu, especificamente pela expectativa que a cena inicial da entrevista do casal me causa. Trata-se de um cena extremamente simples, onde o casal Marianne (Liv Ullman, perfeita) e Johan (Erland Josephson) aparecem diante de uma aparente jornalista que busca descobrir mais sobre o casal que todos julgam ser exemplar - num relacionamento que já dura dez anos. Naquela cena curta, direta e sutil, podemos perceber o quanto Marianne é maior do que o casamento com Johan lhe permite ser. Os cortes são precisos, assim como a atuação do casal protagonista. A partir dali, o resto do filme serve para comprovar o que já constatamos em seus minutos iniciais: que Marianne parece presa ao relacionamento e que Johan se alimenta bastante disso. Bergman está longe de resumir o relacionamento dos dois como um jogo de mocinho e bandido, isso torna tudo mais interessante ao exibir os detalhes desse relacionamento. Seja com o fato de Marianne já ter sido casada anteriormente e de Johan sempre dizer que ela foi sua primeira mulher, ou então quando os dois precisam lidar com um casal de amigos que lavam a roupa suja diante de seus olhos após um trivial jantar (algo que lembra bastante a abertura de  Maridos e Esposas/ de Woody Allen - que deve ser o filhote mais gritante desse clássico). Concebido inicialmente como uma série de televisão (com seis horas de duração), o filme contempla quase metade. Ainda assim, a câmera do diretor tenta capturar a alma dos personagens encarnada pelos seus atores com bastante sucesso. Cada cena cria olhares, toques e palavras não ditas que dizem muito mais que os diálogos podem supor. Por outro lado, ver um casal se engalfinhando nos sentimentos que sentem um pelo outro pode ser bastante exaustivo. Entre os desentendimentos, a separação, a reaproximação, as traições e dilemas que acontecem em cena, o espectador pode se perguntar o motivo de se submeter a um exercício quase voyeurístico de dissecar a intimidade de um casal. Sozinhos a maior parte do tempo, em cena,  Ullman (maior musa de Bergman) e Josephson conseguem carregar o filme com bastante dignidade em toda a complexidade que o casal comum pode exalar, mérito que torna-se ainda maior quando vemos a mistura de fatos cômicos e às vezes cruéis da vida a dois. Diferente das simbologias psicólógicas elaboradas utilizadas pelo diretor em outros filmes, Cenas de um Casamento é bastante cru em sua narrativa. Separado em capítulos, lento e com diálogos densos, o filme dá a sensação de que estamos atravessando uma tempestade conjugal no mesmo barco que os personagens.

Cenas de um Casamento (Scener ur ett äktenskap/Suécia-1974) de Ingmar Bergman com Liv Ullman, Erland Josephson e Bibi Andersson. ☻☻☻☻

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Combo: Meus Zumbis Favoritos

Filmes de zumbis não costumam me empolgar muito, sempre os acho bastante parecidos entre si - e nunca lembro direito qual cena está em qual filme. Porém, existem aqueles que chamaram minha atenção por fazer algo diferente dentro do lugar comum do gênero. Por motivo de parecer óbvio, não vou escrever aqui nada sobre os clássicos de George Romero, afinal, sem os longas dele, os zumbis não teriam o status de hoje! 

5 Zumbilândia (2009) A graça do filme é parodiar os filmes de zumbis de uma forma bastante adolescente, a começar pelo protagonista (Jesse Eisenberg) - que é quase devorado pela namorada e que torna o medo o seu combustível para continuar vivo. Para incrementar ainda mais a aventura ele encontra do durão Tallahasse (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslins). Cada um deles com um objetivo bem demarcado (comer o último bolinho com recheio cremoso do mundo ou visitar um parque de diversões) para desbravar um mundo assolado por zumbis!

4 Zumbis na Neve (2009) Esse deve ser o menos conhecido da lista, mas conseguiu fazer o sucesso necessário para o diretor norueguês Tommy Wirkola ser convidado a dirigir filmes em Hollywood. A ideia é bem simples, mas funciona que é uma beleza: um grupo de amigos estudantes de medicina passam férias numa estação de esqui. Entre farras e bebidas, sentem-se incomodados com as histórias de um velho sobre os nazistas que viviam na região... eis que eles voltam zumbificados para voltarem à atazanar a rapaziada. Esse terror delirante vale a pena ser descoberto!

3 Meu Namorado é um Zumbi (2013) Seria difícil eu deixar o filme de fora (afinal, foi ele que me inspirou a fazer essa lista). O fato é que o filme de Jonathan Levine consegue misturar comédia de humor negro, romance e aventura com bastante desenvoltura. Além disso, consegue fazer tudo que a saga Crespúsculo nunca conseguiu com seus milhares de dólares de investimento e bilheteria. R (Nicholas Hoult) é um zumbi que se apaixona pela filha (Teresa Palmer) do líder (John Malkovich) da luta contra os zumbis e acaba inspirando outros zumbis a deixarem a vida voltar a habitá-los. Com metáforas e nostalgias o filme consegue ser bastante simpático e divertido. 

2 Todo Mundo Quase Morto (2004) Acho que o primeiro sucesso que avacalhou com os zumbis foi esse estrelado por Simon Pegg. A ideia deu tão certo que os estúdios começaram a perceber que os mortos-vivos poderiam render comédias (sátiras?) bastante divertidas. Shaun (Pegg) teve um dia bastante ruim e resolve afogar as mágoas num pub, só que de tão centrado em sua dor, não percebe que as pessoas ao seu redor estão virando zumbis graças a um estranho fenômeno. Esse é o ponto de partida para estratégias bastante arriscadas para sobreviver num mundo dominado pelos mortos-vivos. O filme tornou Pegg em astro e ele vive fazendo chacota com outros gêneros "sérios" do cinema. 

 1 Extermínio (2002) Você nunca se perguntou como de repente os zumbis se tornaram mais ágeis e espertos? Pois é, boa parte da responsabilidade sobre isso é de Danny Boyle que nesse longa escrito por Alex Garland (que provou não ter guardado mágoa do cineasta pela versão micada de seu romance A Praia/2000) dá uma repaginada nos zumbis vítimas da... raiva?! Depois de passar 28 dias em coma num hospital em Londres, Jim (Cillian Murphy) descobre que o mundo mudou muito graças à proliferação de uma peste zumbi. Aos poucos ele encontra outros sobreviventes que tentarão sobreviver até o momento em são descobertos por militares (que podem ser ainda mais ameaçadores). A ideia deu tão certo que gerou até uma sequência e inúmeros filmes que partiram de uma premissa semelhante. 

DVD: Meu Namorado é um Zumbi

Hoult: provando que é o zumbi mais bonito de todos os tempos. 

Os fãs mais xiitas dos filmes de terror fizeram grande campanha contra Meu Namorado é Um Zumbi. O argumento mais ouvido é que se tratava de mais uma tentativa de "desmoralização dos personagens de filmes de terror" -  são acusados pelo movimento filmes que vão de Crepúsculo (2008) até a animação Hotel Transilvânia (2012). Como sou daqueles que tudo pode ser feito em nome de um bom filme, estava aguardando minha oportunidade de assistir ao longa de Jonathan Levine - diretor que ajudou a fazer de 50% (2011) algo bem mais interessante do que previa o roteiro de Seth Rogen. Baseado no livro de Isaac Marion, o filme fez um sucesso considerável nas bilheterias mundiais (graças ao seu orçamento modesto) com sua mistura de comédia de humor negro, terror e (sobretudo) romance. Faz algum tempo que os filmes de zumbi se tornaram o gênero da moda dentro os fãs de terror, nada mais justo que o zumbi tivesse um filme onde o mundo pós-apocalíptico fosse visto pelos seus olhos cadavéricos. Não existe muitas explicações de como o mundo passou a ser habitado pelos mortos vivos, mas diante da narrativa de R (Nicholas Hoult) isso pouco importa. A ideia de ouvirmos a consciência de um zumbi juvenil, já proporciona ao filme um frescor que provoca interesse no público. Da mesma forma, é interessante como o filme cria uma espécie ainda mais assustadora de zumbis, um tipo onde a degradação física torna o homem num esqueleto revestido apenas de uma musculatura seca e retorcida. R vive num aeroporto junto com outros zumbis, vagando de um lado para o outro, até que um "amigo" os convida a sair daquele lugar. É nessa saída que haverá um confronto entre o grupo de R e um grupo de militantes que lutam pela sobrevivência humana num ambiente hostil. Na ocasião, R é atacado por Perry (Dave Franco), namorado de Julie (Teresa Palmer), filha do líder (um discreto John Malkovich) na luta contra os zumbis. No entanto, antes de comer o cérebro de Perry (achei genial a ideia de que os zumbis comem cérebro para viver as memórias da vítima), R vive uma espécie de amor a primeira vista por Julie, que termina sendo salva por ele e levada para o aeroporto. Da convivência entre os dois, o roteiro desenvolve muito bem como aquele relacionamento faz com que o organismo de R se transforme e inspire uma série de outros zumbis a buscar a vida que lhes escapou. É verdade que Levine cria várias cenas arrepiantes e de aventura que servem para empolgar a plateia, mas nunca perde de vista o romance que se instaura entre Julie e R, tudo temperado com uma certa nostalgia que emana das referências aos anos 1980. É verdade que apesar de toda a maquiagem, Hoult (que estreou rechonchudo no cinema com o sucesso Um Grande Garoto/2001 e tornou-se até modelo nas campanhas de Tom Ford quando chegou na adolescência) é capaz de arrancar suspiros da plateia, o que torna muito mais fácil seu relacionamento com Julie. O jovem ator (que namora Jennifer Lawrence) tem bons momentos como zumbi, seja na forma como anda arrastado, na fala titubeante e o olhar fixo que sempre causa algum espanto na sua parceira de cena, sem perder a chance de explorar o humor das situações em que seu personagem se mete. No fim das contas é realmente difícil não comparar o filme com Crepúsculo, mas é necessário dizer que o trabalho de Levine é muito mais interessante do que os quatro filmes da saga insossa - especialmente pela analogia que permite a plateia de todas as idades notarem que somente aquele sentimento bom pode nos fazer parar de ser corpos vagando por aí ao acaso.

Meu Namorado é Um Zumbi (Warm Bodies/EUA-2013) de Johnatan Levine com Nicholas Hoult, Teresa Palmer, John Malkovich, Analeigh Tipton e Dave Franco ☻☻☻

KLÁSSIQO: Manhattan

Allen e Mariel: risos e corações partido. 

Recentemente houve outro escândalo sobre Woody Allen e uma filha. Depois de toda confusão na década de 1990 quando Mia Farrow descobriu que Allen mantinha um caso com a filha adotiva Soon Yi, as coisas pioraram quando Dylan (hoje casada e com 28 anos e atendendo pelo nome Malone) escreveu uma carta num blog do New York Times contando como foi molestada pelo diretor, além disso, convocava às pessoas a não assistirem mais os filmes do diretor. As discussões sobre associar artista e obra tomaram conta da mídia e, enquanto Allen se defendia das acusações, recebeu o apoio da ex-babá de Dylan que diz ser impossível o fato denunciado, já que ela estava sempre presente e atenta à Dylan nas visitas de Allen à casa de Mia Farrow (os dois não moravam juntos durante o "casamento" nunca oficializado). Allen também recebeu o apoio do filho adotivo com Mia, Moses. Sempre discreto e avesso à mídia, Moses disse que desde o ocorrido com Soon Yi, Mia tenta implantar memórias de que Allen os molestava quando pequenos. Diante do ocorrido, Dylan e Mia cortaram relações com o moço e o chamaram de traidor. Diante de tanto rebuliço, entendo que muitos comecem a ter preconceito com a obra do diretor (algumas celebridades até o fizeram publicamente após os comentários de Dylan), no entanto, tenho alguma dificuldade em categorizar seus filmes como dignos de censura, mesmo em se tratando de Manhattan, clássico do diretor que mostra seu personagem tendo um relacionamento com uma adolescente de 17 anos. Apesar disso, o filme é facilmente considerado um dos mais queridos do diretor. Desde que foi exibido em festivais, o público o abraçou com muito carinho, especialmente pela forma deslumbrante como apresenta Manhattan lindamente fotografada em preto e branco. Além disso, era o filme o qual todo mundo esperava depois que Allen ganhou o Oscar com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) - ah vai, Interiores (1978) é quase uma digressão. Leve, bem humorado e despretensioso em seu olhar sobre as idas e vindas do amor, Allen encarna Isaac, um homem de 42 anos que ainda tenta lidar com o fato da esposa, Jill (Meryl Streep) tê-lo trocado por outra mulher. Além de ter que encontrar tempo para dar atenção ao filho, ele ainda mantém um relacionamento com uma adolescente que ainda cursa o ensino médio chamada Tracy (uma irresistível Mariel Hemingway) e que pretende estudar arte em Londres. Apesar de todo o carinho de Tracy por ele, parece que Isaac tenta manter uma distância segura de um relacionamento sério, sempre apontando a diferença de idade como algo que depõe contra o namoro. Para completar, Isaac tem um amigo (Michael Murphy) que tem uma amante, Mary (Diane Keaton), que gosta de levantar polêmicas e proclamar que veio da Filadélfia. O roteiro indicado ao Oscar embaralha seus personagens e mostra como, aos poucos, Isaac e Mary demonstram ter mais afinidades do que esperavam, mas será que isso é capaz de mantê-los juntos? Allen cria um dos seus filmes mais gostosos de assistir, com diálogos afiados (seja sobre relacionamentos, cinema ou filosofia), sendo realmente tocante a forma como desenha seus personagens e a forma como se conectam numa locação que nunca foi tão belamente filmada. Assistindo ao filme e a fala final de Tracy ("você precisa acreditar mais nas pessoas"), penso que descartar obras como essa por conta da vida particular de Allen beira o pecado. No entanto, o filme é um dos menos apreciados pelo diretor. Já ouvi Allen dizendo que se pudesse teria filmado tudo novamente, que o filme se tornará muito diferente do que tinha em mente. O mais curioso é que apesar do par central (Allen e Diane) ter a mesma química de sempre, a então novata Mariel Hemingway rouba a cena num misto de inocência e anúncio da bela mulher que sua personagem se tornará.  

Manhattan (EUA/1979) de Woody Allen com Woody Allen, Diane Keaton, Mariel Hemingway, Michael Murphy e Meryl Streep. ☻☻☻☻

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

G.I. Joe: A Origem de Cobra + G.I. Joe: Retaliação

Os Sobreviventes: passando a borracha. 

Recentemente engoli meus escrúpulos, preconceitos, mágoas e implicâncias para assistir G.I. Joe Retaliation (2013), tentativa descarada de reformular a aventura dos personagens de brinquedo e desenho animado para o cinema. Há motivos para que todo mundo perceba que trata-se de um pedido de perdão a todo mundo que na década de 1980 até meados da década de 1990 se divertia com os bonecos criados pela Hasbro e comercializados no Brasil pela Estrela. Além de sucesso de vendas, o brinquedo gerou histórias em quadrinhos e um dos desenhos animados mais cultuados da TV. Era realmente frustrante assistir à primeira aventura dos heróis no cinema. Comparado ao filme lançado em 1987 (Comandos em Ação - O Filme) ou com qualquer um dos mais de cem episódios exibidos na televisão, o filme dirigido por Stephen Sommers deixava muito a desejar com seu tom infantilóide. O grupo de ataque treinado para deter o grupo terrorista Cobra aparecia com mais pendores para a comédia sem graça do que para os filmes de ação. Cenas de ação e efeitos especiais não conseguiram disfarçar a falta de assunto na aventura que procurava revelar a origem do conflito entre os Cobras e os Joes. A trama era protagonizada por dois amigos militares Duke (um inexpressivo Channing Tatum) e Wallace Weems (o comediante Marlon Wayans), mais conhecido como Ripcord, que transportam nanomites quando são atacados pela equipe Cobra. Depois do acontecimento, os dois são convidados a ingressar na equipe dos Joes. Além da trama sobre o traficante de armas Destro (Christopher Eccleston), que pretende implantar as nanomites em homens e transformá-los em armas de guerra, o roteiro cria pendengas entre os personagens para criar uma certa... tensão emocional. Uma dela é Duke ser o ex-marido da sedutora terrorista Baronesa (Siena Miller) e o mocinho Snake Eyes (Ray Park) ter contas a ajustar com o terrorista Storm Shadow (Byunh Hun Lee) desde a infância. Essas briguinhas movimentam as entrelinhas em cenas que fazem parecer que o maior trabalho dos Joes e destruir o que estiver por perto enquanto soltam piadinhas lamentáveis.  Nem adianta colocar Dennis Quaid (General Hawk) e Brendan Fraser (Sargento Stone) fazendo cara de durões num roteiro frouxo. Com quase duas horas de duração, o filme já torna-se enfadonho em meia hora   (nem a beldade Rachel Nichols - que vive a beldade ruiva Scarlet - consegue manter o ânimo da rapaziada). Apesar da bilheteria considerável (mais de 300 milhões, considerado pouco para os inchados 175 milhões de orçamento) o filme desagradou os fãs em todo mundo por alterar a personalidade dos mocinhos... pelo menos os vilões foram fiéis ao original, mas o gosto de fracasso afetou até a participação deles na sequência. Destro ficou de fora da aventura e a Baronesa nem aparece (sem falar que Joseph Gordon Lewitt queria distância de viver o Comandante Cobra novamente). Com a sequência prometida, restava reescrever o roteiro diversas vezes pelo medo de um fiasco eminente. Diante de tantos dilemas, a Paramount optou quase por um reboot da franquia. Apesar de Channing Tatum ter uma pequena participação, o ataque ao QG dos G.I.Joes que vitima quase todos os personagens no início do filme é a prova de que as coisas serão bem diferentes na sequência. Com início mais sombrio e roteiro menos engraçadinho, o filme agradou mais os fãs dos personagens clássicos, mesmo que a trama se pareça mais com uma paródia pobre de Missão: Impossível do que uma aventura dos Comandos em Ação. Para dar um upgrade no roteiro existe a sensação de conspiração do próprio governo americano (personificado por Johnatan Pryce) contra os Joes depois que eles foram contra um acordo internacional para a produção de ogivas nucleares. Diante do massacre sofrido pelo esquadrão, sobrou apenas Snake Eyes do filme anterior; Soma-se a ele Roadblock (Dwayne Johnson), Flint (DJ Cotrona) e Lady Jaye (Adrianne Palicki), além da novata Jinx (Elodie Yung) que o ajudará na captura de Storm Shadow e saber o que se esconde por trás do atentado ao QG. Dirigido por John M. Chu (mais conhecido pelos seus trabalhos documentais com o fedelho Justin Bieber), o filme tem cenas de ação à exaustão e uma certa dificuldade em desenvolver os personagens que tem em mãos. Tudo é muito rápido (assim como a alardeada participação de Bruce Willis como Joseph Gordon, homem que inspirou a criação do G.I.Joe ou apenas uma brincadeira com Joseph Gordon Lewitt e a trama de Looper/2012?), mas os fãs dos filmes de ação nem vão ligar para o aspecto de recorte e colagem de um monte de outros filmes que já viram. Apesar de melhor que o anterior, os G.I.Joes ainda precisam de um filme de respeito no currículo... talvez se chamassem um diretor de verdade as coisas fossem bem diferentes. No entanto, o orçamento menor (130 milhões) e uma arrecadação maior (372 milhões) demonstram que a franquia merece outra chance - e não duvido que o terceiro traga algumas ressurreições. 

Os primeiros Joes do cinema: hora de dar tchau

G.I. Joe - A Origem de Cobra (G.I. Joe - The Rise of Cobra/EUA-2009) de Stephen Sommers com Channing Tatum, Marlon Wayans, Dennis Quaid, Rachel Nichols, Sienna Miller, Ray Park, Christopher Eccleston e Joseph Gordon Levitt. #

G.I. Joe - Retaliação (G.I. Joe - Retaliação / EUA-2013) de John M. Chu  com Dwayne Johnson, Adrianne Palicki, Ray Park, Bruce Willis, Ray Stevenson, Luke Bracey e Jonathan Pryce. ☻☻

domingo, 16 de fevereiro de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014: ATRIZ

Amy Adams (Trapaça) Faz tempo que Amy Adams merecia um lugar entre as indicadas ao prêmio de Melhor Atriz, afinal ela já foi lembrada quatro vezes na categoria de atriz coadjuvante (Retrato de Família/2005, Dúvida/2008, O Vencedor/2010 e O Mestre/2012). Sem ter levado nenhum para casa, a atriz foi indicada na categoria principal por encarnar um papel mais sexy do que estamos acostumados a vê-la. Na pele de uma golpista adoravelmente sedutora, Amy já levou para casa vários prêmios (incluindo o Critic's Choice Awards de Atriz de Comédia e o Globo de Ouro na mesma categoria). Única no páreo sem ter uma estatueta na estante, somente ela pode surpreender e derrotar a favorita na categoria. 

Cate Blanchett (Blue Jasmine) A atriz australiana andava sumida, dedicava-se somente ao teatro de sua terra natal, mas quem poderia rejeitar o convite de encarnar uma das complexas personagens femininas de Woody Allen? Cate tem levado vários prêmios pela socialite que tem a vida virada de cabeça para baixo. Cate defende a personagem que poderia ser insuportável com uma sobriedade que a torna simplesmente a favorita da noite. A atriz tem um Oscar de coadjuvante por O Aviador (2004) e já concorreu antes na categoria principal por Elizabeth (1998) e a continuação Elizabeth - A Era de Ouro (2007) - além de coadjuvante por Notas sobre Um Escândalo (2006) e por ser a melhor encarnação de (pasmem!) Bob Dylan em Não Estou Lá (2007)

Judi Dench (Philomena) A veterana completa 80 anos em dezembro e arrebatou sua sétima indicação ao Oscar na pele de uma personagem real que teve o filho levado à adoção e que depois de muito tempo resolve ir à procura dele. Um filme pequeno e que agradou em cheio o público, principalmente pela tocante atuação de Judi. Filmando desde 1959, chega a ser curioso como o Oscar descobriu essa dama do teatro inglês somente na década de 1990! Judy concorreu ao Oscar pela primeira vez por Sua Majestade, Mrs Brown (1997) mas ganhou a estatueta somente no ano seguinte como coadjuvante em Shakespeare Apaixonado (1998). Depois, ela concorreu como coadjuvante em Chocolate (2001) e atriz principal por Srª Henderson Apresenta (2005) e Notas Sobre um Escândalo (2006). 

Meryl Streep (Álbum de Família) Precisa apresentar a atriz mais indicada ao Oscar de todos os tempos? Somando 17 indicações (3 como coadjuvante e 14 como principal), a atriz já levou o Oscar três vezes para casa, respectivamente coadjuvante por Kramer vs. Kramer (1979), atriz principal por A Escolha de Sofia (1982) e A Dama de Ferro (2011). Desta vez ela está no páreo por conta da mãe desequilibrada, viciada em remédios e abandonada pelo marido que tem que lidar com os parentes em sua casa. Há quem considere sua atuação exagerada, mas quem já assistiu a atriz fazendo megeras, sabe como ela adora encarnar esse tipo de mulher. 

Sandra Bullock (Gravidade) Bullock foi bastante criticada quando foi agraciada com o Oscar de Melhor Atriz por Um Sonho Possível (2009), por incrível que pareça, ter um Oscar recente na estante pode prejudicar a força dessa sua merecidíssima segunda indicação pelo longa de Alfonso Cuarón, da mesma forma, foi depois de sua primeira indicação que o diretor a convidou a encarnar a astronauta que se perde no espaço (e que precisa carregar o filme sozinha nas costas a maior parte do tempo). Bullock consegue contaminar a plateia com suas emoções numa resultado mais do que memorável. Ter ajudado a chamar atenção para uma produção arriscada já merece um prêmio!

A ESQUECIDA: Emma Thompson (Walt nos Bastidores de Mary Poppins) Se os americanos tivessem acesso ao nome em português eu diria que a culpa foi de quem o escolheu. No papel da criadora de Mary Poppins, Emma prova que ainda tem talento para empolgar as plateias por muito tempo - faltava-lhe apenas um papel de peso. Thompson estava fora do radar das premiações há tempos -  desde que recebeu o Oscar pelo roteiro de Razão e Sensibilidade (1995). A atriz também tem no currículo um Oscar de melhor atriz por Retorno à Howards End (1992) e indicações ao prêmio de atriz por Vestígios do Dia (1993) e Razão e Sensibilidade (1995), além de coadjuvante por Em Nome do Pai (1993). Indicada a vários prêmios da temporada (incluindo o Globo de Ouro e BAFTA), a atriz ficou de fora do ápice da temporada de ouro.

GANHADORES BAFTA 2014

12 Anos de Escravidão: mostrando que ainda está no páreo.

Hoje foram entregues o Prêmio BAFTA, o Oscar britânico que cada vez mais serve de termômetro para o Oscar - especialmente pela proximidade. Vale lembrar que existem categorias em que os concorrentes foram diferentes (tenho alguns comentários abaixo sobre isso) e algumas categorias que servem para aguçar nossa curiosidade sobre diretor e ator estreante (pessoas que ainda não ouvimos falar). Enfim, os contemplados que vão dormir mais felizes na noite de hoje!

Melhor Filme
12 ANOS DE ESCRAVIDÃO
(único prêmio que o filme ganhou, mas valeu esperar)

Filme Britânico
GRAVIDADE
(perdeu o principal, mas levou quatro)

Ator 
CHIWETEL EJIOFOR (12 ANOS DE ESCRAVIDÃO)
(Matthew McConaghey estava fora do páreo...)

Atriz 
CATE BLANCHETT (BLUE JASMINE)
(acho que Blanchett se tornou a obviedade do Oscar)

Ator Coadjuvante 
BARKHAD ABDI (CAPITÃO PHILLIPS)
(sem Jared Leto... acho que Clube de Compras Dallas não estreou lá)

Atriz Coadjuvante
JENNIFER LAWRENCE (TRAPAÇA)
(isso pode ajudar a derrotar Lupita N'Yongo no dia 02!)

Roteiro Original 
TRAPAÇA
(Ela de Spike Jonze não concorria)

Roteiro Adaptado
PHILOMENA
(estava escrito, Steve Coogan...)

Melhor Filme de Animação
FROZEN
(isso já se tornou outra obviedade)

Melhor Filme Estrangeiro
A GRANDE BELEZA
(é o favorito no Oscar também)

Diretor, Roteirista ou Produtor Estreante
KIERAN EVENS (KELLY + VICTOR)
(vale procurar esse romance meio sadomasoquista)

Documentário
O ATO DE MATAR
(Cheiro de Oscar...)

Fotografia
GRAVIDADE
(óbvio)

Design de Produção
O GRANDE GATSBY
(todo mundo sabia que isso salvaria o filme do esquecimento)

Figurino
O GRANDE GATSBY
(idem)

Cabelo e Maquiagem
TRAPAÇA
(merecido)

Melhor Som
GRAVIDADE
(óbvio)

Efeitos Especiais
GRAVIDADE
(idem)

Trilha Sonora Original
GRAVIDADE
(idem)

Ator Revelação
WILL POUTER
(votado pelo público... o ator merecia?)

Edição
RUSH
(serve de consolo para um filme sempre esnobado)

Curta Britânico
ROOM 8
(pode ser visto na internet!)

Curta Britânico de Animação
SLEEPING WITH THE FISHES
(pode ser visto na internet também)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

KLÁSSIQO: Serpico

Pacino: como constuir um mito. 

Existem filmes que servem fundamentalmente para criar um mito do cinema. Al Pacino teve a sorte e o talento de encontrar alguns desses pelo caminho, seja pela participação na trilogia O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990), no obrigatório Um Dia de Cão (1975) ou nesse Serpico (1973). Por sua atuação na biografia do policial de Nova York que enfrenta o esquema de corrupção de seus pares, o ator recebeu indicação a vários prêmios e muitos consideram que ele merecia aqui o seu primeiro Oscar das oito indicações que já recebeu (a estatueta só veio em 1993 com Perfume de Mulher). Colabora muito para a construção do filme, o talento de Sidney Lumet (1924-2011) na elaboração de uma história contada de forma seca e direta, num realismo que o tornou uma espécie de referência nesse tipo de filme (enxergo muito dele nos trabalhos de Ben Affleck, especialmente em Argo/2012). Desde o início, Lumet está interessado na construção de seu personagem, nas transições que atravessa conforme se depara com a corrupção da instituição em que confiou suas ambições - e que acreditava servir para proteger a população. Desde o início, Serpico está preocupado com a proximidade da polícia com a população, talvez por isso, aos poucos abandone o visual limpinho do início de carreira pelo aspecto quase ripongo das ruas. Com barba e cabelo cada vez maiores, além de roupas acima de qualquer suspeita, Serpico era quase um sujeito disfarçado enquanto seus companheiros de profissão eram discretos oficiais à paisana. As coisas começam a complicar quando ele descobre que vários colegas recebem tributos para não atrapalhar negócios ilegais na cidade. Essa prática renderia grandes montantes de dinheiro aos policiais, mas Serpico não aceitava essa prática. Seu incômodo perante a relação dos policiais com marginais acabam criando grandes conflitos do protagonista com os colegas, o que só piora quando ele efetiva denúncias contra eles. Se a carreira está em perigo, a vida amorosa parece nunca avançar perante as suas namoradas, sempre com uma visão mais séria do relacionamento do que Serpico possuia. Aos poucos,  Pacino revela as nuances de um personagem que torna-se cada vez mais de carne e osso durante a sessão. O ator tinha 33 anos quando o filme estreou, mas parece até mais novo nas cenas em que Serpico mostra-se entusiasmado com seu ingresso na carreira de policial. Gradualmente inquieto, o ator constrói uma aura de herói urbano sem afetação que  torna inevitável nossa identificação com esse personagem real que virou uma espécie de lenda nos anos 1960 e 1970. É interessante como Lumet segura nossa atenção nas cenas iniciais, quando o protagonista parece ter sofrido um atentado e, aos poucos, nos oferece um filme mais dramático do que policialesco. Quando descobrimos de onde surgiu o tiro que atingiu Serpico pensamos o quanto era acaso e o quanto era apenas o resultado de sua oposição ao mundo em que vivia. 

Serpico (EUA/1973) de Sidney Lumet com Al Pacino, John Randolph, Jack Kehoe e Cornelia Sharpe. ☻☻☻

NªTV: True Detective

Woody e Matthew: exorcizando fantasmas pessoaisu.

Nem vou gastar o meu latim exaltando a qualidade sempre ressaltada das produções da HBO, o fato é que desde o dia 13 de janeiro a série protagonizada por Woody Harrelson e Matthew McConaughey está em cartaz simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos. Antes de falar da série em si, não resisto em apontar dois fatores que me chamaram atenção logo nos primeiros episódios. Um deles é que a série é escrita por Nic Pizzolatto, responsável pelo texto de dois episódios do seriado The Killing americano. É bom ressaltar que, tanto um seriado quanto o outro, aborda as investigações de uma dupla de agentes sobre um crime que espanta a comunidade local. As semelhanças entre as séries, aparentemente, param por aí. Um segundo fator (e esse me deixou um pouco mais intrigado) é como o primeiro episódio da série apresenta alguns elementos também presentes no controverso seriado Hannibal, que repaginou o personagem clássico de Anthony Hopkins com a cara de Mads Mikkelsen. As semelhanças aparecem no rastro deixado por crimes cruelmente elaborados, especialmente pela presença de chifres de um animal específico. O seriado apresenta os detetives Martin Hart (Woody) e Rust Cohle (Matthew) como uma dupla de opostos que se aproxima e se repele constantemente. Ambientado em dois tempos, já que os durante a narrativa os dois aparecem dezessete anos mais velhos quando o caso é reaberto, no passado Hart sustenta o casamento (com a personagem de Michelle Monaghan) num lar confortável junto às duas filhas, enquanto Rust é o esquisito da dupla. Rust é capaz de passar noites sem dormir, não possui amigos, namorada ou vínculos sociais. De poucas palavras e um passado de camadas obscuras, o personagem é quem parece mais se aproximar da verdade sobre um assassino que vitima mulheres seguindo um padrão bizarro. Sua proximidade das respostas que buscam, parece ter relação com os fantasmas pessoais que reaparecem conforme a investigação avança. Até a metade da primeira temporada (estão programados oito episódios), a série caprichou na trilha sonora country que só ressalta a danação que permeia a história (destaque para a música de abertura do The Hansome Family). Com elementos religiosos/ritualísticos, o diretor Cary Fukunaga capricha no suspense, mas nem sempre acerta quando explora a vida particular de Hart cruzando com as esquisitices de Cohle na sugestão de um possível triângulo amoroso. O melhor da série é comprovar mais uma vez que a química entre sua dupla de atores permanece intacta (os dois foram irmãos em EdTV de ) ao lidar com personagens tão difíceis. Não por acaso o destaque fica para Matthew McConaughey, que já se reestabeleceu como ator de respeito. Indicado ao Oscar de melhor ator desse ano por Clube de Compras Dallas, a série True Detective se beneficiou da aparência doentia do ator para o longa e construiu um Rust Cohle ainda mais instigante.  Quem conhece a carreira e McConaughey pode até lembrar (como eu) que as latas de cerveja que bebe sem parar tem o mesmo nome do filme que o revelou para os grandes estúdios ("Lone Star", lançado em 1996 - que foi até indicado ao Oscar de roteiro original e que pouca gente assistiu). Preenchendo aos poucos as lacunas de sua trama, sempre deixando um final misterioso para engatar no capítulo seguinte, o formato enxuto do seriado promete mais algumas temporadas sem atrapalhar a agenda dos atores de Hollywood. Resta apenas o programa mostrar que tem uma identidade mais forte do que a de uma colagem de outros seriados policiais. 

True Detective de Cary Fukunaga, com Matthew McConaughey, Woody Harrelson, Michael Potts e Michelle Monaghan. ☻☻☻

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

4EVER: Shirley Temple

03 de abril de 1923 / 10 de fevereiro de 2014

Considerada a maior estrela mirim de Hollywood de todos os tempos, a americana Shirley Temple Black nasceu em Santa Monica e desde pequena já era prodígio. Aos três anos começou a fazer aulas de dança e foi contratada para participar de uma série de curtas que mostravam bebês parodiando adultos famosos. Quando seu primeiro filme foi lançado, ela tinha apenas quatro anos. Aos seis recebeu um Oscar em miniatura pelos seus serviços à sétima arte. Com seu carisma, ela salvou estúdios e bilheterias durante a Grande Depresão americana. Quando cresceu, o sucesso não foi o mesmo e ela aposentou-se do cinema precocemente aos 21 anos. Desde então tentou ingressar na carreira política -  mas teve que se contentar em ser delegada das Nações Unidas, embaixadora (duas vezes) e membro da comissão que avaliava o problema dos refugiados africanos em 1981. Em 2006 ela foi homenageada no Screen Actors Guild por sua carreira.