Divine: Glenn or Glenda?
Difícil imaginar, ainda hoje, uma figura tão chamativa quanto a drag queen Divine no cinema. O documentário I am Divine, mostra que em vinte anos de carreira fazem a diferença na carreira de Harry Glenn Milstead quando o objetivo é romper vários paradigmas - em uma época marcada pelo conservadorismo. Divine foi a musa dos primeiros filmes de John Waters, o qual conheceu ainda na adolescência e aceitou participar de seus primeiros filmes amadores vestido de mulher. O documentário de Jeffrey Schwarz, busca entender um pouco da personagem e do homem que se escondia por trás das roupas, perucas e maquiagens espalhafatosas com a ajuda de cenas de arquivo, trechos de filmes e entrevistas com os amigos dessa figura. Ainda que tivesse sua namoradinha na época de escola, muitos já notavam que Glenn era homossexual e após ir a uma festa à fantasia vestido de Elizabeth Taylor, ficou difícil disfarçar o que o rapaz carinhoso e gentil escondia. No entanto, bastou ver um concurso de travestis para perceber que jamais se enquadraria naquele físico esguio e elegante. Sempre gordinho e bem humorado, Glenn criaria o conceito de Divine nos filmes do amigo. A personagem ganhou forma nos curtas do diretor lançados na década de 1960, mas foi em Multiple Maniacs (1970) que Lady Divine nasceu para o cinema. Com seu humor maldoso, piadas despreocupadas com o que era politicamente correto e figurino inconfundível, Divine nascia para o estrelato, numa antítese do que o pacato Glenn era na vida real. Era como se fosse a versão transex de O Médico e o Monstro! Em cena, Divine era capaz de perguntar para uma plateia "quem é capaz de morrer pela arte?" e assim que alguém levantasse, ela o acertaria com um tiro. Esse humor surreal foi consolidado com sua antológica atuação em Pink Flamingos (1972), clássico do humor trash, onde Waters a consolidou como sua musa - ainda que brincando de colocar "A mulher mais linda do mundo" num concurso para descobrir quem era a pessoa "mais suja do mundo"! Os filmes seguintes, Female Problem (1974) e Polyester (1981), tornou a personagem numa referência do underground. Tornou-se a estrela que as estrelas pop queriam conhecer, flertou com a música eletrônica, atuou no teatro, trabalhou com outros diretores e paralelo a tudo isso, Glenn Milstead queria ser reconhecido como artista e não apenas uma drag queen. Glenn ainda enfrentou graves problemas com a balança (chegando a pesar 135 quilos) e com a rejeição da família por boa parte da carreira. Jeffrey Schwarz consegue contar a história de Divine/Glenn com ritmo e bom humor, até o falecimento em 1988 aos 42 anos, quando o reconhecimento parecia finalmente ter chegado. Se Glenn faleceu, um amigo diria que Divine não virou purpurina, mas uma enorme lantejoula!
I am Divine (EUA-2013) de Jeffrey Schwarz com Divine, John Waters, Mink Stole e Greg Gorman. ☻☻☻☻
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