Hillary e Emmy: as intocáveis?
Houve torcida para que Hilary Swank recebesse uma indicação ao Oscar de melhor atriz esse ano. Parte de seus fãs elogiaram sua atuação no denso Dívida de Honra e outros nesse drama açucarado dirigido pelo meloso George C. Wolfe. Em ambos Hillary alcança bons momentos, mas o peso de ter dois Oscars na estante pesa muito quando a Academia lembra dela, especialmente quando pensam em algumas presepadas que ela já se meteu nos últimos anos. Um Momento Pode Mudar Tudo (alguém pode me explicar o sentido desse título?) foi comparado com o sucesso francês Intocáveis (2012) por tratar do relacionamento de uma pessoa com doença degenerativa e um cuidador pouco convencional. As semelhanças param por aí, já que o filme tenta criar sua história por caminhos próprios. Baseado no livro de Michelle Wildgen, nós acompanhamos a vida de Kate (Hillary Swank), uma mulher de vida confortável, casada com um empresário com porte de modelo da Calvin Klein (Josh Duhamel) e de amigas endinheiradas. A vida de Kate poderia ser perfeita se ela não começasse a desenvolver esclerose lateral amiotrófica logo na primeira cena. Existe um corte na narrativa e quando revemos Kate, sua vida mudou bastante, torna-se dependente da ajuda de outros para realizar tarefas simples para a maioria das pessoas, mas, quando decide contratar uma jovem universitária chamada Bec (Emmy Rosssum) para ajudá-la no dia-a-dia, a decisão parece arriscada - afinal, a garota está longe de ser uma acompanhante experiente. No entanto, desde os primeiros momentos, percebe-se que Kate quer mais a companhia de Bec do que ajuda especializada. Hilary consegue construir uma personagem forte, que disfarça as emoções com o mesmo sorriso tranquilo na face a maior parte do tempo, não importa a situação constrangedora a que é exposta ou a sensação de que seu quadro se agrava. O problema é que o filme tropeça em algumas bobagens, como nunca aprofundar a crise no casamento de Kate ou investir em clichês batidos para vender a imagem de que Bec seja uma adolescente problemática em busca da fama. Quando o texto investe na amizade das duas, o filme flui que é uma beleza, quando pesa a mão para que o resultado valorize mais as gracinhas do que a densidade, a situação complica. Parece que Wolfe quer dar conta de uma história dolorosa, mas tem pena de fazer essa dor alcançar o espectador, criando um paradoxo na narrativa criada no filme. Ainda assim, o filme consegue dar o seu recado, humanizando uma personagem que não deseja a piedade de quem a observa, mas que seja vista como um sujeito consciente do mundo ao seu redor. Num ano em que o Oscar premiou dois atores com trabalhos calcados no avanço progressivo de doenças (Eddie Redmayne por A Teoria de Tudo e Julianne Moore por Para Sempre Alice), o trabalho de Hillary perdeu fôlego nas premiações, mas, ainda assim, a atriz tem a oportunidade de honrar as duas estatuetas numa atuação bem construída capaz de salvar o filme.
Um Momento Pode Mudar Tudo (You are not You/EUA-2014) de George C. Wolfe com Hillary Swank, Emmy Rossum, Josh Duhamel, Ali Lartes e Julian McMahon. ☻☻☻
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