Robin: a mais corajosa.
Não lembro de haver dúvidas de que Robin Wright seja uma boa atriz. A celebrada atriz da série House of Cards ficou famosa mundialmente por sua atuação como a amada Jenny de Forrest Gump/1994, mas desde o oscarizado filme de Robert Zemeckis a atriz não alcançou nenhum sucesso de bilheteria, sendo cada vez mais convidada para trabalhos como coadjuvante em todo tipo de produção. Portanto, reconheço o ato de coragem da atriz aceitar o convite para participar do último filme do diretor israelense Ari Folman, onde ela vive a si própria e enfrenta duras críticas à sua carreira. Sabemos que trata-se de uma versão fictícia da atriz - com um casal de filhos adolescentes (vividos por Sami Gayle e Kodi Smit-McPhee), morando de forma quase ilegal num estilizado galpão ao lado de um aeroporto - no entanto, a atriz permite-se ouvir questionamentos árduos sobre o rumo que sua carreira seguiu nos últimos quinze anos, com citação de fracassos profissionais e amorosos, além do peso dos anos sobre a aparência. O roteiro chega a ser ofensivo perante sua estrela, que embarca na empreitada com sua elegância de sempre. No filme, Robin é convidada para participar de um experimento onde a imagem do artista é totalmente escaneada, inclusive em suas emoções, que são captadas, traduzidas em dados e armazenadas com os direitos de uso vendidos para um estúdio (a fictícia Miramount). Depois desse processo de escaneamento, o estúdio terá total liberdade de escolher os filmes em que sua imagem será utilizada, assim como os rumos que sua atuação deverá seguir. No início a estrela hesita em aceitar a proposta, mas diante da progressiva surdez do filho e os poucos convites que recebe para atuar, acaba aceitando - assinando um contrato onde ela deve se comprometer a nunca mais interpretar (nas telas, nos palcos, em festas...), deixando sua imagem e interpretação totalmente sob o domínio do estúdio. Depois vem a segunda parte do filme, ambientada vinte anos depois, onde ela (a contragosto) se tornou estrela de uma série de ficção científica e ícone dessa nova tecnologia, que está prestes a inovar mais uma vez e torna-se pauta de um congresso. A partir desse ponto, o filme de Folman encontra dificuldades para contar a sua história, num resultado tão surrealista quanto confuso. A ideia de criar um distrito de "animação", onde todos são convertidos em desenho animado, parece bem sacado - especialmente pelo seu visual um tanto anacrônico, onde traços de animações clássicas, se mesclam aos cenários gerados por computador - mas, diante de uma revolução iminente, o filme se torna uma sucessão de acontecimentos um tanto atropelados, onde a personagem passa a ser perseguida e busca reencontrar seu filho transitando entre o mundo real e o animado. Depois da genialidade apresentada no documentário Valsa com Bashir (2008), Folman comprova seu gosto gosto por mesclar realidade e ficção, embora aqui se aproxime mais de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988) depois do uso de LSD, o resultado torna-se mais curioso do que propriamente interessante. Existem críticas pertinentes ao uso da captação de imagens no cinema, a propriedade exercida pelos estúdios sobre os atores, o direito de escolha de atores que não gostam de trabalhar em blockbusters e preferen realizar filmes mais modestos e desafiadores, o culto às celebridades... mas tudo isso dilui-se numa trama que não é desenvolvida em suas possibilidades. O resultado é um amontoado de ideias, cheia de intenções, mas nem sempre bem alinhavadas. A única certeza que tive ao final do filme é que Robin Wright além de boa atriz é bastante corajosa (e nem vou lembrar que ela era casada com Sean Penn).
Robin: em versão (des)animada.
O Congresso Futurista (The Congress/Israel, Alemanha, Bélgica, França/2013) de Ari Folman com Robin Wright, Jon Hamm, Harvey Keitel, Danny Huston e Kodi Smit-McPhee. ☻☻
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