Marsden & Cameron: um milhão por um botão.
Lembro que vi A Caixa no cinema em seu dia de estreia, antes que o mundo fosse contaminado pelas críticas negativas que recebeu desde então. Em primeiro lugar, devo dizer que gostei muito do filme (e continuo gostando, especialmente pelo dilema moral que instala entre o casal protagonista - e que leva a plateia a refletir mais do que a maioria dos filmes que entram em cartaz toda semana), segundo que aprecio muito o trabalho do diretor Richard Kelly - que foi celebrado pelo cult Donnie Darko/2001 e massacrado pelo confuso Southland Tales/2009 (que funciona melhor em sua versão em HQ do que na telona). Aqui, Kelly cria sua obra mais emocional e, motivo forte para isso, é que se inspirou em seus pais para criar os personagens vividos por James Marsden e Cameron Diaz. Marsden é Arthur Lewis, que trabalha na NASA e Cameron é Norma Lewis , uma professora ginasial que, junto ao esposo, tenta educar o filho, Walter (Sam Oz Stone) da melhor forma possível em meados da década de 1970. De repente o casal mergulha numa crise financeira, o salário de Arthur é reduzido e Norma ficará afastada das aulas por um tempo. No meio dessas dificuldades, um homem misterioso aparece oferecendo uma caixa para o casal. A caixa possui um botão, que eles devem decidir se apertam ou não. A boa notícia é que se apertarem, ganharão um milhão de dólares na manhã seguinte (e resolverão todos os seus problemas). A má notícia é que se apertarem o botão, uma pessoa que eles não conhecem irá morrer (o que seria um fardo e tanto na consciência). Tudo é apresentado como um teste, uma experiência aplicada aos seres humanos (e que a ficção sempre encontra na década de 1970 o cenário ideal para isso). O casal pensa nos prós e contras da situação e as consequências de suas escolhas irão gerar situações estranhas, ameaçadoras e até trágicas até o final da sessão. Sinceramente não concordo com tanta gente classificar o filme como moralista, já que ele funciona dentro da estrutura concebida no conto de Richard Matheson (chamado Button, button) e que virou até episódio de Além da Imaginação, mesmo que o roteiro force as referências à obra de Sartre e a máxima "o inferno são os outros" trata-se de uma espécie de fábula moral então... o que seria mais criticável seria a confusão que Richard Kelly cria na segunda metade do filme, mostrando que o experimento é bem mais amplo do que simplesmente apertar um botão, envolvendo mais instituições e pessoas do que o casal pode supor (prova disso é toda a pressão que existe sobre eles para que apertem o tal botão). No entanto, as pontas soltas servem para tornar o programa mais instigante, embora, impeça o filme de ser tão exemplar quanto ambiciona ser. O figurino e a reconstituição de época são irretocáveis, as atuações são ótimas (em especial as de Cameron Diaz (perfeita como a dona de casa comum que se mete num mundo esquisito) e Frank Langella (que expressa sua desilusão diante das respostas ao teste com expressões sutis) e a ideia principal é sensacional - o resto é apenas pompa de um diretor ambicioso que foi alçado ao posto de gênio aos 26 anos. Vale lembrar que A Caixa foi o primeiro filme de Richard Kelly a ser lançado nos cinemas brasileiros, já que os outros foram lançados direto em DVD e que merece ser visto várias vezes - nem que seja para tentar compreender o incompreensível, mas acredite, o mais importante da história, você entende rapidinho.
A Caixa (The Box/EUA-2009) de Richard Kelly, com Cameron Diaz, James Marsden, Frank Langella, Sam Oz Stone e Gillian Jacobs. ☻☻☻
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