Carol Duarte: ótimo trabalho como Eurídice Gusmão.
Escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga no páreo de melhor filme estrangeiro, A Vida Invisível dirigido por Karim Ainouz começou muito bem a sua carreira com o prêmio da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes. Conseguiu críticas positivas por aqui e algum sucesso de público, mas ficou de fora da disputa pelo careca dourado. O motivo é desta derrota é bem simples, o filme de Ainouz baseado no livro de Martha Batalha se apresenta como um melodrama tropical e deve dialogar melhor com um público muito específico do que o hollywoodiano. A trama gira em torno de duas irmãs que vivem no Rio de Janeiro nos anos 1940, a cena inicial é bastante evocativa do que se verá ao longo da sessão, quando uma se perde da outra e a angústia misturada com tristeza está instalada. Mas não é neste ponto que Euridice (Carol Duarte) deixará de ver sua irmã Guida (Julia Stockler), diante de uma sociedade ainda bastante conservadora, bem longe da transgressão das décadas seguintes, as duas se veem ainda presas e impossibilitadas de seguir os planos que fazem para suas vidas. Guida tenta mudar isso ao fugir com um marinheiro estrangeiro, mas a tímida e talentosa Euridice, aceita se casar e deixar suas ambições de pianista de lado. Na vida das duas, a presença do pai é determinante para o caminho que seus destinos irão seguir e a atuação de António Fonseca deixa bem claro o peso do patriarcado sobre esta família. A esposa não tem direito de fala e se as filhas decepcionarem seus planos para ambas, estão condenadas a viver para sempre num limbo. Euridice e Guida seguirão caminhos diferentes, mas igualmente solitários pela ausência uma da outra. Guida adotará para si uma nova irmã que será fator determinante na história e Eurídice ganha um marido, Antenor (Gregorio Duvivier) que tem apetite sexual tão voraz quanto o revelado por sua quieta esposa (com direito até a uma cena bem explícita feita por um dublê). O casal terá desentendimentos, filhos e a vida seguirá deixando os planos de Euridice para depois. Embora não apresente aqui o mesmo vigor de sua obra-prima (Madame Satã/2002), Ainouz faz um filme interessante, de cores caprichadas, dramas sobrepostos, sexualidade aflorada e atores talentosos que compensam o ritmo irregular. Carol e Julia estão ótimas em cena, fortes e convincentes como duas irmãs que desde muito jovens sentem um peso que não lhes pertence. Gregorio também está divertido como o marido certinho e um tanto sem graça (mas que tem um fogo surpreendente)! Não por acaso, o pai é vivido pelo ator português António Fonseca, o que torna ainda mais clara uma herança cultural que já existe faz tempo... no desfecho temos a participação da brilhante Fernanda Montenegro para nos comover com poucos minutos em cena. Longe de ser perfeito, A Vida Invisível é um filme que poderia ser um pouco mais enxuto (140 minutos) e de maior sutileza em alguns momentos, mas que tem coisas importantes a dizer.
A Vida Invisível (Brasil / 2019) de Karim Aïnouz com Carol Duarte, Julia Stockler, Gregorio Duvivier, António Fonseca, Flávia Gusmão, Fernanda Montenegro e Cristina Pereira. ☻☻☻☻
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