Jackman e Jeanney: frágil fachada.
Diante a pandemia mundial do Corona Vírus, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos fez uma revisão de seus critérios para que os filmes sejam candidatos ao Oscar. Sendo assim, filmes que tinham previsão de lançamento nas telonas e foram direto para os serviços de streaming devido ao fechamento dos cinemas se tornaram candidatos em potencial para as estatuetas. Infelizmente este critério deixa de fora este Má Educação, que foi comprado pela HBO após sua exibição no Festival de Toronto. Sem pretensão de chegar às telonas, Má Educação é um belo filme que não faria feio entre os melhores do cinema neste ano conturbado. Este é o segundo filme de Cory Finley, jovem cineasta que estreou nos cinemas americanos com o maldoso Puro Sangue (2018), que fez sucesso no circuito independente, concorreu ao prêmio de Melhor Roteiro no Independent Spirit e que praticamente ninguém viu. Provavelmente a venda para um canal com o prestígio da HBO ocorreu para que seu segundo trabalho tivesse maior audiência, lhe dar maior visibilidade e amparar seus novos projetos. O fato é que Cory é muito bom mesmo! Tanto que conseguiu um astro do porte de Hugh Jackman e da oscarizada Allisson Janney para os papéis principais deste filme. Se em seu primeiro trabalho ele buscava equilibrar humor com uma trama sinistra sobre duas adolescentes malévolas, aqui ele utiliza o humor para contar uma história verdadeira que consegue ser assustadora. A trama tem como cenário principal uma escola pública que se torna referência em sua região. Com altos índices de aprovação nas melhores universidades dos Estados Unidos, a Roslyn School em Nova York é fruto de muito trabalho de seus administradores e do corpo docente. Os maiores méritos parecem ser do superintendente Frank Tassone (Hugh Jackman), que está sempre atento ao que pode fazer para melhorar a escola. Ele trabalha ao lado de Pam Gluckin (Allisson Jeanney) que cuida das finanças da escola e está prestes a implementar uma obra ambiciosa. A coisa começa a complicar quando a jovem Rachel (Geraldine Viswanathan) começa a fazer uma matéria para o jornal da escola sobre a tal obra e algumas suspeitas começam a aparecer. Não demora muito para que a escola se envolva em um verdadeiro escândalo financeiro com mais gente envolvida do que qualquer um poderia imaginar. Com isso, começam a surgir alguns segredos que só colaboram para construir um painel interessantíssimo sobre um mundo de aparências que custa muito caro aos personagens (e aqui eu não falo só de dinheiro sob a ótica do roteiro muitíssimo bem amarrado de Mike Makowsky, que antes só escrevera outro filme inédito por aqui, Eu Acho que Estamos Sozinhos/2018 com Peter Dinklage e Elle Fanning). Cory Finley já havia trabalhado com a ideia desta fachada admirada em seu filme anterior, mas deixava o espectador seguro no distanciamento que estabelecia com aqueles personagens, aqui a coisa se mistura e o resultado é ainda mais envolvente. Embora você considere as atitudes daqueles personagens bastante condenáveis, eu senti compaixão daquelas pessoas que se perderam cada vez mais em suas ambições mais materialistas. Acho que não precisa dizer que Jeanney e Jackman estão sensacionais em todas as cenas e desenvolvem personalidades bastante complexas para Pam e Frank, não duvido que sejam indicados e até premiados no Emmy e no Globo de Ouro. No entanto, mas o maior elogio vai mesmo para Hugh Jackman em mais um esforço para que as pessoas deixem de vê-lo como o Wolverine. Envelhecido, mas com o mesmo charme habitual, é fácil simpatizar com o ator na pele de Tassone, não por acaso, isso intensifica o gosto amargo que vem logo depois.
Má Educação (Bad Education / EUA -2019) de Cory Finley com Hugh Jackman, Allisson Jeanney, Ray Romano, Annaleigh Ashford, Geraldine Viswanathan, Rafael Casal e Alex Wolff. ☻☻☻☻☻
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