Justin, Cate e Juno: colagens de outros filmes de Woody Allen.
Sempre curti os filmes de Woody Allen e sei sobre toda a polêmica em torno de sua pessoa nos últimos anos, mesmo assim, acho complicado exigir o boicote às suas obras por conta disso. No entanto, acho impossível ver seus filmes sem ter um outro ponto de vista depois de tudo que se falou acerca do artista. Talvez este tenha sido meu problema com Roda Gigante. O filme foi o último do diretor a seguir a rotina de um lançamento por ano, saiu em meio à toda polêmica sobre as alegações de Mia Farrow sobre aquela situação com a filha do casal e tudo mais. Por conta disso a pauta das entrevistas de divulgação do filme caiam neste assunto e Kate Winslet, que estava toda prosa com seu primeiro trabalho com o diretor teve que lidar com perguntas sobre abuso sexual e o quanto ela não dava a mínima para todas aquelas acusações. Tanto alarde gerou a fria recepção ao filme e o total desprezo à boa atuação de Kate. A atriz inglesa parece confortável em seu trabalho no papel da garçonete Ginny, que é casada com um operador de carrossel (James Belushi) num parque de diversões. Desde a primeira cena, Ginny deixa claro que sua vida não foi fácil, embora ela sonhasse em ser atriz, ela acabou num casamento complicado que lhe rendeu um filho que está com mania de tacar fogo em tudo (o bom Jack Gore da série As Crianças Estão Bem). Casada novamente, este segundo casamento parece mais cômodo do que realmente feliz, mas tudo muda com a chegada da enteada Carolina (Juno Temple) que enfrenta problemas com a máfia. Para complicar ainda mais, Gnny conhece o salva vidas Mickey (Justin Timberlake, saradão e propositalmente canastrão) que é o narrador desta história e parece não valer muita coisa. Mickey e Ginny acabam engatando um romance proibido, que é temperado com uma mentira aqui e outra ali, mas que é incapaz de deixar a protagonista relaxada. A tensão parece ser o tom da personagem. Winslet constrói uma personagem constantemente desesperada por estar presa à uma vida que não lhe agrada, o tipo de personagem que já vimos em vários filmes do diretor. No entanto, ela não é indefesa como a Mia Farrow de A Rosa Púrpura do Cairo /1985 ou pedante como Cate Blanchett em Blue Jasmine /2013 (o último filme memorável de Allen), Ginny está sempre a um passo de um grande tropeço., seja em seu relacionamento com a família ou com o amante que é mais distante do que ela consegue notar. Quando um triângulo amoroso se instaura e o ciúme toma conta, o filme caminha para aqueles desfechos criminais que Allen sempre curte, mas que aqui soa um tanto previsível. Talvez por ter identificado vários lugares comuns da obra de Allen o filme não me empolgou, parece uma colagem de tudo que já vimos várias vezes em sua obra, mas aqui o final é ainda mais melancólico. No entanto, além do trabalho de Winslet ainda merecem destaques a reconstituição de época e a belíssima fotografia de Vitorio Sttoraro, no entanto, não considero um filme memorável de Woody Allen. Lançado em 2017, este foi o penúltimo filme de Allen a ser exibido por aqui, o seguinte, Um dia de Chuva em Nova York encontrou espaço somente em novembro do ano passado e, sem previsão de lançamentos futuros, os fãs que se acostumaram com um filme de Allen por ano devem estar com saudades.
Roda Gigante (Wonder Wheel / EUA - 2017) de Woody Allen com Kate Winslet, Justin Timberlake, James Belushi e Jack Gore. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário