quarta-feira, 22 de abril de 2020

PL►Y: Gloria Bell

Julianne e John: química que faz a diferença. 

Em 2013 chileno Sebastián Lelio lançou um verdadeiro hit do cinema latino-americano. Exibido no Festival de Veneza, o filme concedeu à sua atriz, a magistral Paulina García, o prêmio de melhor atriz pelo papel de uma mulher madura que olhava para a frente do seu tempo presente. Era o tipo de papel que grandes atrizes adoraram interpretar. Sendo assim, não me surpreende que Julianne Moore seja fã do filme e resolveu produzir uma versão estadounidense para conceber a sua Gloria, a Gloria Bell. Julianne até convidou o próprio Lelio para dirigir e escalou um elenco interessante de coadjuvantes para ter por perto. Sei que refilmagens americanas são bastante criticadas por sua falta de autenticidade e pela antipática dificuldade que o povo do Tio Sam possui em lidar com legendas... mas vou tentar analisar o filme desconsiderando estas questões - o que é relativamente fácil, já que vi o original há algum tempo. Para começar é redundante dizer que Julianne está magnífica como a protagonista, ela defende a personagem madura com um divórcio e dois filhos crescidos no currículo aparentemente sem fazer esforço (o que é muito complicado, já que tem a tarefa de tornar interessante e palpável o retrato de uma mulher comum). Gloria ocupa seu tempo com o trabalho, com aulas de ioga, com terapia do riso e baladas noturnas. Trata-se de uma mulher independente, espirituosa, mas que acredita no romance. Quando aparece Arnold (John Turturro, excelente), ela percebe a chance de viver um grande amor que evolui aos poucos (mas com cenas bastante tórridas e a primeira é até engraçada). Arnold também sobreviveu a uma cirurgia complicada e um divórcio, mas parece que sua família não. Suas filhas sempre ligam para ele pedindo alguma coisa, numa dependência irritante, o que atrapalha vários momentos do casal. Gloria tenta ser compreensiva, relevar mas... melhor assistir ao filme. Gloria Bell segue a mesma estrutura do filme chileno, mas aqui senti o humor um pouco mais agudo, para render gargalhadas mesmo, além disso, existem diálogos que são irresistíveis. É verdade que o ritmo irá causar estranhamento para quem curte a estética americana de fazer cinema, seja pelo seu intimismo ou a forma como constrói a história com pequenas pontuações sobre o que acontece no interior de sua protagonista. O filme poderia ser menos óbvio na escolha das músicas que Gloria canta no carro, mas não chega a atrapalhar a sessão, afinal, ajuda a compor o painel cotidiano da personagem (que ainda tem um vizinho à beira do surto e um gato que aparece não se sabe de onde). Apesar de não se distanciar muito do original (e vale registrar que o contexto político foi completamente banido desta refilmagem), Gloria Bell pode ser um deleite para quem aprecia boas atuações e um roteiro sutil. Se Julianne dá conta do recado com maestria imprimindo um novo olhar sobre a personagem, vale registrar que Turturro faz o mesmo como o namorado imperfeito, é a química da dupla que faz a diferença no desenvolvimento deste remake. 

Gloria Bell (Chile/EUA - 2018) de Sebastián Lelio com Julianne Moore, John Turturro, Caren Pistorius, Michael Cera, Rita Wilson, Jeanne Tripplehorn e Brad Garrett. 

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