quarta-feira, 29 de abril de 2020

NªTV: The Plot Against America

Morgan e Zoe: problemas no sonho americano. 

Outra produção da HBO que deve fazer bonito nas premiações de final de ano é The Plot Against America. Baseada no livro homônimo de Phillip Roth (lançado em 2004), os criadores Ed Burns e David Simon (os mesmos de The Wire), fazem uma minissérie tão incômoda quanto pertinente para os dias atuais. A obra imagina como seria os Estados Unidos se Charles Lindbergh houvesse derrotado Franklin Roosevelt na campanha presidencial no início da década de 1940. O aviador Lindbergh era filho de congressista, mas nunca foi candidato à presidência, mas se tornou uma espécie de herói nacional após atravessar o Oceano Atlântico de avião rumo à França sem fazer escalas em 1927. Ele também ficou famoso após o trágico sequestro de um dos seus filhos em 1932, fato que acabou rendendo sua mudança com toda a família para a Europa. Lindbergh era famoso por seu perfil conservador e era até acusado de simpatizar com o nazismo. Não por acaso, ele é a figura escolhida por Roth para criar um cenário bastante nefasto na Terra do Tio Sam quando os regimes totalitários começavam a assustar na Europa. Este é o cenário em que acompanhamos os Levin, família de origem judaica formada por Herman (Morgan Spector), Bess (Zoe Kazan) e os filhos Sandy (Caleb Malis) e Phillip (Azhy Robertson), em torno deles ainda está a irmã de Bess, Evelyn Finkel (Winona Ryder), que sempre se envolve com os homens errados e o primo Alvin Levin (Anthony Boyle) que ainda busca um rumo na vida. Nos primeiros episódios o que vemos é a ascensão de Lindbergh rumo à Casa Branca, com apoio do rabino Lionel Bengelsdorf (John Turturro) e um bando de seguidores dotados de histeria por um herói nacional. É Lionel que tem o papel de amenizar todos os medos que a comunidade judaica tenha do aspirante à presidência. Colocando panos quentes em seus discursos e intenções, Lionel se fascina com o poder que começa a estar ao seu alcance e não percebe o perigo iminente que se intensifica conforme a narrativa avança. A série foi um tanto nos primeiros episódios, por aparentar que nada está acontecendo, mas a intenção é esta mesmo: apresentar pessoas comuns seguindo suas vidas sem se darem conta que uma escalada fascista acontece. Composta de seis episódios, é em sua metade que a tensão se instaura e o preconceito, as medidas de segregação e os movimentos extremistas começam a mostrar suas garras. Neste ponto o desespero dos personagens é palpável e demonstra o poder que a boa literatura tem de reler o passado e mostrar como ele ainda está presente.  Ponto crucial para esta tensão são os trabalhos excepcionais de Morgan Spector e Zoe Kazan. Na pele do pai, Morgan transparece perceber a cada instante a delicada situação que se constrói em torno de sua família. Ótimo ator (e que merecia maior reconhecimento) ele funciona em excelente contraponto com Zoe, que interpreta sua esposa que, com serenidade, tenta lidar com a mesma realidade - até que a situação com sua irmã Evelyn se torna insustentável. Bem realizada, a minissérie desliza apenas na organização de seu desfecho que parece um tanto apressados, mesmo o sexto episódio tendo quinze minutos a mais que os outros, muitos fatos importantes acontecem numa sobreposição que não condiz com a cadência dos anteriores. Talvez uma reorganização dos primeiros episódios evitasse esta sensação, mas nada que atrapalhe The Plot Against America de surpreender com sua ficção de época que, infelizmente, parece tão real. Vale ressaltar que não foram poucos que consideraram esta a  a melhor adaptação de uma obra de Phillip Roth, que é cultuado por produtores e diretores, mas que costuma render adaptações truncadas para o cinema como Pastoral Americana/2016 e Indignação/2016.

The Plot Against America (EUA - 2020) de Ed Burns e David Simon com Morgan Spector, Zoe Kazan, Winona Ryder, John Turturro, Anthony Boyle, Caleb Malis e Azhy Robertson. 

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