Nisa e Aras: amor contra a truculência.
Em tempos de isolamento social outro sucesso da Netflix no mês de abril foi Milagre na Cela 7 produção turca do ano passado que ganhou projeção nas redes sociais por conta do seu alto teor lacrimogênico. O longa assinado por Mehmet Ada Öztekin conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um homem que tem... algumas dificuldades cognitivas. Mesmo assim, ele se casa e tem uma filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur). Anos depois, a avó (Celile Toyon Uysal) diz para a neta que o pai tem uma personalidade especial, afinal, aparenta ter a mesma idade mental da menina. A menina acolhe a ideia com carinho, vendo seu pai como um amigo, o qual, por vezes, ela terá que cuidar. Vivendo em uma comunidade pobre em Anatólia, a menina sonha com uma mochila vermelha que termina comprada pela filha de um oficial turco, que mais tarde, por conta de um acidente irá acusar Memo de ter cometido um crime. Se a plateia já havia simpatizado com o núcleo familiar de Memo nos minutos iniciais, toda essa simpatia será convertida em choradeira quando começar os sofrimentos do personagem. Memo deve apanhar por uns trinta minutos de filme. É preso, torturado, hostilizado na prisão e maltratado até que que seus parceiros de cela percebam que ele é um homem diferente, inocente, bondoso e vítima de uma injustiça. O Milagre da Cela 7 deve ser o fato daquele bando de prisioneiros se tornarem pessoas bondosas ao mesmo tempo e ajudarem o protagonista em tudo o que for possível - e não vou dizer o que acontece para não estragar as surpresas de um filme em que são elas que conduzem a história. O filme possui fãs fervorosos que não se importaram com qualquer exagero que o filme utilize para emocionar, afinal, um melodrama é feito para isso mesmo e há um público cativo para isso. É um filme que se assiste com facilidade, mas exige certo esforço para não ficar chateado com os golpes que o roteiro utiliza para arrancar mais lágrimas da plateia (aquela cena enganosa perto do final é o maior exemplo disso). Nem precisava, afinal, o tema da injustiça extrema já é um tema que causa identificação na plateia e não por acaso o filme é ambientado na Turquia dos anos 1980. Existe uma base histórica para esta história, já que a Turquia sofreu uma grande mudança nos últimos vinte anos, se você ficar atento, não aparecem advogados no filme. Afinal, vigorava o código penal otomano de inspiração religiosa desde 1926, que só foi alterado em 2004. Somente então houve a criação de um artigo que contempla as pessoas que possuem alguma particularidade mental. No universo do filme, a brutalidade está sempre presente, mas o amor de Memo e Ova sempre surge como um contraponto, uma espécie de ponto de esperança em meio a tanta truculência. Aos curiosos, vale a pena dizer que o filme é uma refilmagem de um filme coreano de 2013, que já rendeu versões na Indonésia e nas Filipinas nos últimos anos.
Milagre na Cela 7 (Turquia / 2019) de Mehmet Ada Öztekin com Aras Bulut Iynemli, Nisa Sofiya Aksongur, Celile Toyon Uysal e Sarp Akkaya. ☻☻☻
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