MacKay: a guerra imersiva de Sam Mendes.
Antes da surpresa de ver Parasita (2019) ser premiado nas categorias de melhor filme e melhor diretor no Oscar desse ano, havia a certeza de que a produção que levaria estes dois prêmios para casa seria 1917 de Sam Mendes. O filme ambientado na Primeira Guerra Mundial onde dois soldados precisam levar uma carta para um pelotão que encontra-se afastado (e prestes a encontrar um massacre) parte de uma premissa simples, mesmo levando em conta que o irmão de um dos soldados está no tal pelotão fadado ao fracasso. A diferença toda está no trato que Mendes oferece para esta jornada clássica do herói ao recriar um plano sequência, sem cortes, com a câmera transmitindo a sensação de estarmos ao lado destes dois rapazes o tempo inteiro. A ideia (e Mendes disse várias vezes que o filme tem cortes e emendas a cada sete ou oito minutos) não parece aqui ser apenas uma questão autoral ou de virtuosismo, mas de enriquecer ainda mais a experiência cinematográfica que sente estar realmente ao lado dos personagens em seus medos e emoções. Se em Dunkirk (2017) Christopher Nolan enveredou pelo caminho imersivo com o som ensurdecedor de aviões e bombardeios, mas picotou as narrativas do filme ao limite, Mendes imaginou o oposto com a ausência de cortes perceptíveis. O diretor ainda demonstra toda a sua capacidade de imprimir ritmo com movimentos de câmera e com as boas atuações de seu elenco, neste ponto o destaque vai mesmo para o inglês George MacKay que faz tempo demonstrou ser talentoso (basta vê-lo em Os Garotos Estão de Volta/2009, no engajado Orgulho e Esperança/2014 ou o recente Capitão Fantástico/2016). Atuando desde os dez anos de idade, George sabe exatamente o que precisa fazer para manter nossos olhos grudados nele, além de conseguir dar densidade a um personagem que não tem muito mais do que uma missão a cumprir. Apesar da carinha de garoto, George já tem 28 anos e bem que merecia ser reconhecido nas premiações pela tarefa de carregar a emoção do filme nas costas. Mendes também capricha e cria cenas belíssimas no decorrer de sua narrativa, desde Além da Linha Vermelha (1998) acho que não houve um filme de guerra tão poético na construção de suas imagens. O filme ainda fez as pazes da academia com Sam Mendes, que foi premiado com estatueta de melhor diretor pela sua estreia no magistral Beleza Americana (1999) e desde então foi ignorado pela Academia. Depois que Mendes fez o melhor filme de James Bond de todos os tempos (Operação Skyfall/2012) parece que os olhos se voltaram para ele novamente - e ele soube aproveitar o momento com mais um filme que une emoção, ação e invejável técnica cinematográfica. O filme pode não ter levado o Oscar de Melhor Filme para casa (conquistou os de Fotografia, efeitos especiais e mixagem de som), mas conquistou um honroso segundo lugar no imaginário de quem assistiu o Oscar deste ano.
1917 (EUA - Reino Unido - Canadá / 2019) de Sam Mendes com Goerge MacKay, Dean-Charles Chapman, Daniel Mays, Collin Firth, Andrew Scott, Paul Tinto, Billy Postlethwaite e Benedict Cumberbatch. ☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário