J.Lo, Constance e as parceiras: virando um gênero do avesso.
Sou parte do time que torcia por uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante para Jennifer Lopez por As Golpistas. Depois de passar tanto tempo presa às comédias românticas bobocas e suspenses esquecíveis, J.Lo retoma aqui a grande promessa que ela foi nos anos 1990. Ela ficou tanto tempo presa à uma imagem por mais de uma década que ao chegar em determinado momento tudo pareceu ter estagnado para ela. A carreira como cantora acabou recebendo mais destaque do que no cinema e os bons papéis foram rareando. Essa ausência de reconhecimento ficou bem evidente quando a Academia ignorou seu trabalho impecável neste filme aqui, uma espécie de Os Bons Companheiros (1990) em menor escala num ótimo trabalho da diretora Lorene Scafaria (do terno Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo/2012 e do divertido A Intrometida/2015). Embora este aqui seja bastante diferente dos seus filmes anteriores, a diretora ressalta mais uma vez sua maior virtude: alimentar o que a história possui para além de uma primeira impressão. O filme se baseia numa história real e entrega para Jennifer o papel da esperta Ramona, uma mulher da noite que sabe utilizar muito bem seus dotes para conseguir o que quer - e não estou falando do corpão e da sensualidade capaz de derreter geleiras. É quando a grande crise econômica dos Estados Unidos explode que vemos como Ramona é capaz de articular planos para manter seu padrão de vida, mas sem perder de vista quem também passam por dificuldades (e elas vão ganhar muito, mas muito dinheiro num plano que é quase uma vingança em sentido amplo...), no entanto, a sabedoria do roteiro não lhe dá contornos de vilã, mas de uma anti-heroína que sabe articular bem o seu discurso para driblar a consciência de quem possa cair na sua lábia. Ramona só é coadjuvante porque o filme é centrado no olhar de Destiny (Constance Wu que está bem diferente do que vimos em Podres de Ricos/2018) sobre esta tramoia toda. Destiny é descendente de orientais, tem problemas para arranjar emprego e conseguir sustentar a família. Ela também é tímida demais para ganhar dinheiro ao começar os serviços como dançarina em uma boate para homens adultos e endinheirados. Pois é, esqueci de mencionar, As Golpistas é um raríssimo caso de filme sobre mulheres com pouca roupa que funciona muito bem, provavelmente porque a diretora está mais interessada nas entrelinhas da história do que em destacar o corpo de suas personagens. É verdade que o filme tem cenas sensuais de sobra, mas deixa sempre a impressão de não querer cair na vulgaridade desrespeitosa, tanto que a única cena de nudez total que aparece é de um homem (e a função é mais cômica do que sensual). Sem se preocupar em fazer um julgamento moral de suas personagens, o filme funciona como uma crônica marginal com personagens interessantes e um roteiro bem amarrado, redondinho e até comovente. J.Lo me fez chorar! Tudo porque me fez perceber que debaixo de tudo aquilo, existe a história de uma amizade rumo à destruição. Surpreendente!
As Golpistas (Hustlers / EUA 2019) de Lorene Scafaria com Constance Wu, Jennifer Lopez, Julia Stiles, Mete Towley e Ema Batiz. ☻☻☻☻
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