Ascanio e Maya: ótima dramédia sobre loucura.
É sempre bom ter uma surpresa quando se opta por escolher assistir um filme do qual nunca ouviu falar e, ao final, ter um sentimento inesperado despertado por ele. A Ovelha Negra é um filme italiano de 2010 e o qual assisti neste fim de semana sem grandes expectativas. O mais interessante é que o filme ficou remoendo na minha cabeça nos últimos dias devido à mistura de comédia e melancolia de sua trama. Misturando drama e comédia envoltos por uma fotografia quase sempre sombria, nós conhecemos a história de Ascanio. Um menino que nasceu nos "loucos anos 60" e que desde o início viveu sobre o peso de ter a mãe internada num sanatório. Sua infância foi dividida entre às visitas à mãe, a convivência com a avó que se tornou responsável por sua criação e algumas travessuras de criança que, incompreendidas, só ressaltavam que o garotinho teria algum comprometimento neurológico. Situações como o dia em que conta para o amor de infância que comeu uma aranha, ou quando acredita que existem bolinhas mágicas capazes de realizar seus desejos e até a brincadeira de que poderia ressuscitar os mortos recebem uma conotação mais séria devido ao seu histórico familiar. No entanto, ao ser narrado em primeira pessoa, como se fosse um livro de memórias, é impossível não simpatizar com o olhar de Ascanio sobre o mundo. É a partir de seu olhar que assistimos as situações apresentadas pelo filme - e nem estranhamos quando em meio à narrativa ele parece estar se comunicando com galinhas (se ver o filme você vai entender o que eu quero dizer). Desde o início é fácil simpatizar com a história do menino que é criado pela avó após ser abandonado pelo pai e ser sempre chamado de esquizofrênico pelos irmãos. Apresentado como um menino mal compreendido, a simpatia permanece até quando personagem é interpretado pelo barbudo diretor Ascanio Celestini. Adulto, Ascanio, trabalha no sanatório em que ficou famoso desde o tempo em que sua mãe era uma paciente. Ele ajuda as freiras a zelar pelos pacientes e até a fazer compras, tendo sempre ao seu lado o curioso Nicola (Giorgio Tirabassi). Articulado, Ascanio vê novos ares para o seu futuro quando reencontra Marinella (sua paixão de infância vivida pela bonita Maya Sansa) trabalhando no supermercado. É na nostalgia dos sentimentos que sente por ela que o personagem irá esclarecer ao público o seu vínculo com o sanatório e o seu passado entre os loucos e as crianças que compartilhavam as desventuras de infância em desdobramentos que podem surpreender a plateia. Durante o filme lembrei muito das minhas aulas de psicologia na faculdade quando a professora no segundo período dizia que "a loucura é não saber se comportar no tempo e no espaço" e ao contar a história do ponto de vista do personagem, isso fica ainda mais interessante, já que ressalta uma outra leitura desta frase: é não perceber o que é o tempo e o espaço real ou imaginário. Baseado em uma certa nostalgia e alguma inocência, o diretor Celestini escreveu, dirigiu, produziu e atuou no filme depois de passar três anos fazendo pesquisas em sanatórios. O resultado deste empenho podemos conferir em cada minuto do filme, especialmente na forma como um roteiro bem humorado pode ser lapidado para causar estranhamento no espectador. Apesar dos risos que provoca, A Ovelha Negra deixa ao final um nó na garganta tão forte quanto a simpatia de seu elenco.
A Ovelha Negra (La Pecora Nera/Itália-2010) de Ascanio Celestini com Ascanio Celestini, Giorgio Tirabassi, Maya Sansa e Barbara Valmorin. ☻☻☻☻
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