Madonna: interpretando seu melhor papel - ela mesma.
Aproveitando o fim da temporada de shows de Madonna no Brasil, não custa nada lembrar o filme que a marcou de vez como a rainha do palco no mundo pop - enquanto definia sua personalidade no inconsciente do mundo inteiro. Até o ano de seus lançamento, Na Cama com Madonna foi o documentário de maior bilheteria de todos os tempos. É fácil entender o motivo. Se hoje muita gente ainda compra DVDs por conta dos bastidores, há vinte anos, Madonna mesclou as cenas de bastidores aos seus shows numa espécie de híbrido do que vemos hoje nesse tipo de produto. Dizem que a ideia partiu do cineasta Alek Keshishian que tinha a curiosidade de conhecer a cantora nos bastidores da turnê que se tornou um marco na cultura pop: a Blonde Ambition. Era um projeto tão ambicioso com sua parafernália sonora, cenários grandiloquentes, figurinos de Jean Paul Gaultier e, claro, coreografias sexualmente insinuantes que a ideia arrastaria multidões para assistir. Foi esta turnê que marcou a fase mais glamourosa da cantora e fixou referências como o rabo de cavalo postiço, o microfone Headset e os sutiãs cônicos. O filme até sugere a preocupação de quem participava da turnês se Madonna realmente conseguirira cumprir todos os contratos estabelecidos ao redor do mundo - incluindo Warren Beatty, namorado de Madonna na época que achava tudo (inclusive uma câmera filmando tudo nos bastidores) uma grande sandice. Apesar de vários momentos soarem artificiais (o encontro de Madonna com uma amiga de infância, a visita da cantora ao túmulo da mãe e até a tentativa de censurarem seu show no Canadá) existem outros que conseguem penetrar a casca da cantora e exibir um pouco mais de sua persona. Madonna mostra-se profundamente profissional quando está sobre o palco, não tem pudores em reclamar quando o som não está bom e não reclama de ter que dormir cedo depois de um show exaustivo - nem poderia, afinal fica bem claro que ela é a chefe do pedaço. Não existe produtores pegando em seu pé ou reclamando disso ou daquilo. Ela é a dona da bola. Keshishian optou por colorir somente as cenas de palco (e para os fãs as coreografias de Express Yourself e Vogue devem empolgar até hoje como há vinte anos atrás, graças à percepção de palco notável que a a cantora apresenta) e ajudou a construir a imagem de Rainha do Pop que a cantora proclama até hoje. As cenas de bastidores são em preto e branco granulado, como os documentários jornalísticos mais antigos e sérios - talvez para tentar construir uma atmosfera de que o que vemos é real. Foi muito comentado o envolvimento afetivo de Madonna com seus bailarinos, como se ela fosse uma grande mãe para a sua trupe de marmanjos negros e latinos, mas, por outro lado, houve quem criticasse sua postura, já que para uma pessoa que defende tanto o fim do preconceito, por várias vezes ela trata esse grupo como um bando de subordinados aos devaneios de uma diva caucasiana. Existem alguma brincadeiras que servem apenas para fixar a imagem de transgressora da estrela (como a famigerada cena da garrafa simulando o que muitos filmes preferem usar bananas... ou a cena em que falam abobrinhas em cima da cama - o que acabou gerando o nome do filme que a própria Madonna considera estúpido). O que torna o filme mais interessante são momentos como o momento em que vemos Madonna confessando seu amor pelo ex-marido Sean Penn, ou quando ela ainda parece uma garotinha buscando a aprovação do pai - ou até quando faz orações antes de subir ao palco. Isso, sem falar nas inúmeras participações especiais como Kevin Costner (que é apresentado como chato e é alvo do deboche), Antonio Banderas (pelo qual Madonna tinha um declarado fetiche) e Warren Beatty (que deixa claro que o namoro estava chegando ao fim). A ideia deu tão certo desde o seu badalado lançamento em Cannes que Madonna tentou reeditar a ideia em 2005 com I'm Gonna Tell You A Secret filmado na turnê Re-Invention, mas não repetiu o sucesso deste aqui. Apesar do sucesso, trata-se de um projeto de puro narcisismo marketeiro - mas que pode soar divertido se você entrar no clima (que gera situações como o bullying sofrido pelo único dançarino hetero num grupo de gays). Se todos parecem compor uma família feliz, vale lembra que em 1992, três bailarinos da turnê abriram um processo contra Madonna alegando que haviam invadido sua privacidade e cobraram idenização por fraude, deturpação intencional, supressão da verdade e "inflição intencional de sofrimento intencional" depois que o filme faturou milhões o redor do mundo e eles não receberam um centavo a mais no cachê de dançarinos.
Na Cama com Madonna (In Bed With Madonna/Truth or Dare - EUA/1991) de Ale Keshishian com Madonna, Christopher Ciccone, Martin Ciccone, Warren Beatty, Antonio Banderas e Kevin Costner. ☻☻☻
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