Sam e Suzy: o primeiro amor com a lente do Fantástico Senhor Wes Anderson.
Tenho uma atração especial pelas obras de Wes Anderson, tem gente que acha seus filmes uma chatice, esquisitos e sem emoção. Bem, eu não me enquadro nesse grupo. Anderson construiu uma filmografia que possui um estilo próprio, com visual arrebatador, atuações contidas em um universo bastante peculiar. Depois de dois filmes irregulares (o chato A Vida Marinha com Steve Zissou/2004 e o melhorzinho Viagem à Darjeeling/2007) ele voltou às origens ao realizar a animação O Fantástico Sr. Raposo (2009) que o fez voltar ao ponto do qual nunca deveria ter saído. É como se ao ter contato com a obra clássica de Roald Dahl ele voltasse ao que fez de Três é Demais/1998 e Os Excêntricos Tennenbaums/2001 as obras tão especiais que se tornaram. Em Moonrise Kingdom o diretor privilegia a forma como os não adultos enxergam o mundo, ampliando o que já aparecia em Três e Tennenbaums. Em 1965 o escoteiro cáqui Sam (o irresistível Jared Gilman) foge de seu acampamento (liderado por um cômico Edward Norton) criando um grande problema para a tropa, até que eles descobrem que ele fugiu para viver numa ilha com Suzy (Kara Hayard). Ele passa a ser perseguido pela polícia (personificado por Bruce Willis) e escoteiros, enquanto Suzy causa preocuapação em seus pais psicólogos (Frances McDormand e Bill Murray). O roteiro (escrito por Anderson e Roman Coppola) explora os inusitados desdobramentos dessa situação, sem nunca perder a ingenuidade de seus personagens - não por acaso o filme acontece pouco antes da Guerra do Vietnã e, talvez por isso, Wes trate seus escoteiros como os soldados mais bem intencionados do mundo quando descobrem as punições que Sam irá sofrer após sua aventura amorosa (que envolve até uma funcionária do Serviço Social vivida por Tilda Swinton, já que descobrem que o garoto é adotado). Em sua trama, Anderson trata escoteiros como se fossem do exército (a cena do dilúvio é o ápice da maluquice) e seus dois protagonistas como se fossem Romeu e Julieta em miniatura (a cena em que Bill Murray os surpreende na barraca é antológica), no entanto, todo senso de humor fala muito sobre os adultos da plateia ao nos fazer pensar sobre onde foi que perdemos a sensação de que o primeiro amor nos tornava invencíveis e habitantes de um mundo diferente. É curioso como Anderson borra as fronteiras entre o comportamento infanto-juvenil e o adulto de uma forma bastante peculiar - e espero que continue investindo nisso com a mesma desenvoltura apresentada aqui. Selecionado para abrir o Festival de Cannes e indicado ao Globo de Ouro de melhor comédia do ano, Moonrise Kingdon deve aparecer em várias listas de melhores do ano e é merecido! Wes Anderson comprova aqui que se sai muito melhor quando tem uma trama ultraviajante nas mãos, além disso ele conseguiu agregados que tornaram a sua patota cinematográfica ainda mais interessante (McDormand, Swinton, Norton, Willis, Harvey Keitel, todos aparecem totalmente a vontade no universo do diretor) e ainda tem aquela estética que já é notória na carreira do cineasta. Vendo Moonrise Kingdom eu lembrei das brincadeiras malucas que eu criava com meus amigos quando era criança - e esta sensação é o máximo que eu posso esperar de um filme como esse.
Moonrise Kingdom (EUA/2012) de Wes Anderson com Jared Gilman, Kara Hayard, Edward Norton, Bruce Willis, Frances McDormand, Bill Murray, Tilda Swinton e Harvey Keitel. ☻☻☻☻☻
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