Brody: performance excepcional em obra-prima de Polanski.
Roman Polanski é um diretor que pode se gabar de ter várias obras-primas eu seu currículo - eu não conseguiria dizer qual é o melhor entre os filmes que dirigiu. Obviamente que existem aqueles dos quais não gostamos muito (A Morte e a Donzela/1994 e O Último Portal/1999), mas o impressionante é que depois de alguns anos se dedicando a filmes menores, ele foi capaz de criar algo colossal como O Pianista. Apesar de curtir outros filmes premiados de 2002, posso afirmar que a cinebiografia de Wladyslaw Szpilman foi o melhor lançamento daquele ano. O filme é baseado na biografia escrita por Szpilman para exorcizar os fantasmas do holocausto, no entanto, oferece um foco diferente, voltado para um lado mais intimista: o de quem sobreviveu ao genocídio e seu poder de gerar solidão, impotência e, simplesmente, testar sua sobrevivência às adversidades. Szpilman (numa soberba atuação de Adrien Brody que levou para casa o Oscar de ator) era um músico reconhecido quando os judeus passaram a ser perseguidos na Polônia. O interessante é que Polanski prefere mostrar a ascensão das medidas nazistas pelas bordas, a partir do olhar de pessoas comuns que não acreditavam que as proporções daquelas circunstâncias se tornariam monstruosas. O diretor nos brinda com cenas impressionantes, como o momento em que ficam isolados no gueto de Varsóvia ou quando são retirados de suas casas para irem aos campos de concentração - onde ninguém sabia ao certo o que aconteceria. É neste momento em que o mundo conhecido chega ao fim, que Wladislaw consegue escapar, menos por iniciativa dele e mais pela afeição de um amigo. Por um breve instante ter escapado causa alegria, mas quando volta para Varsóvia e encontra a devastação e o isolamento de seus familiares e amigos, estar vivo torna-se quase um fardo. Wladyslaw irá passar por circunstâncias que irão testar os seus limites físicos e psicológicos enquanto foge da perseguição dos soldados nazistas. São tantos apuros e humilhações tratados com tanta seriedade que dificilmente outro diretor alcançaria os momentos sublimes desta produção. Basta comparar com A Lista de Schindler (1993), embora o filme de Spielberg seja notável em vários sentidos, não é difícil notar que em vários momentos o sentimentalismo beira a irritação (aquela cena do anel ao final é uma das coisas mais toscas que já vi). Em O Pianista tudo é preciso e a dor do protagonista nos contamina sem que o cineasta precise apelar para excessos. Sem dúvida um dos grandes méritos do filme é a atuação de Brody, que foi convidado pessoalmente por Polanski depois que mais de 1400 atores foram testados e descartados para o papel. Apesar de Hollywood (até hoje) não saber muito bem o que fazer com ele (talvez por conta de seu tipo esguio e de nariz proeminente), o rapaz mereceu se tornar o mais jovem ator a ter um Oscar de protagonista na estante (ele tinha 29 anos na época). Além da força de sua trama defendida por um ator de verdade, o filme conta com um belo apelo visual já que a fotografia, os figurinos e direção de arte são de primeira (conjugado à trilha sonora, que não podia deixar de ser excepcional) - sem contar que a força narrativa do filme se deve às conexões da história de Wladyslaw com o próprio Polanski, que escapou do Gueto de Cracóvia após a morte da mãe e viveu na fazenda de um polonês até o fim da Guerra, Polanski só reencontrou o pai ao final da Guerra (um pensando que o outro havia morrido). O Pianista é um desses filmes que provam que fazer cinema é realmente fazer arte!
O Pianista (The Pianist/França-Alemanha-Reino Unido-Polônia/2012) de Roman Polanski com Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Emilia Fox e Frank Finley. ☻☻☻☻☻
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