Drolas e Pilar: Lado a lado sem se ver.
Costumo ser implicante com comédias românticas. Menos por ser de um gênero que é visivelmente mal compreendido por todos e mais por conta de um bando de produções que não conseguem fazer rir e nem dar aquela vontade gostosa de namorar. A grande maioria dos filmes costuma irritar por colocar homens de mulheres como um bando de idiotas imaturos que não sabem o que quer - e a maioria da plateia acredita que engatar um romance é viver assim, aos trancos e barrancos, aceitando grosserias e impossibilidades de diálogo de ambas as partes - mas se a plateia estiver rindo e rolar um beijinho no The End está tudo certo. O problema é que na vida, quando os outros riem dos outros não tem graça, assim como o The End pode não ser feliz. Por isso, vale a pena destacar esta produção argentina que fez até algum sucesso nos cinemas de arte aqui no Brasil - ele poderia muito bem ter entrado em grande circuito, mas como é latino os distribuidores consideram que só um público restrito e elitizado é capaz de gostar [sic]. Para dar uma popularizada chegaram a colocar o aposto toscão de "Buenos Aires na Era do Amor Virtual" (eu nem vou dizer quantos parcos minutos os protagonistas devem gastar no computador conversando) que deve ter afugentado metade das pessoas que se interessaram ao assistir o trailer! O filme conta a história de Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala), dois jovens urbanos comuns (apesar de sempre ressaltarem suas manias e fobias, mas quem não as tem?) e solitários, que moram em prédios vizinhos, mas não se conhecem. Martin vive sozinho com uma cachorrinha - que ficou de lembrança do último namoro - e vive fazendo tudo através da internet (conforme o personagem diz, "a internet nos conectou com o mundo, mas nos afastou da vida"), ele baixa cds, filmes, se relaciona e faz compras através da rede mundial. Mariana é formada em arquitetura e ganha a vida fazendo vitrines em lojas de grife (na esperança de quem as vê queira conhecê-la), sua companhia são alguns manequins companheiros de trabalho e o livro de sua vida - "Onde Está Wally", no qual ainda não encontrou o personagem na parte referente à cidade grande. O Wally é apenas uma das referências pop que o diretor Gustavo Taretto tempera o filme - ainda tem espaço para Woody Allen, King Kong, Star Wars - mas o que faz a diferença mesmo são as reflexões sobre a selva de concreto onde os personagens vivem. Os comentários são sempre elaborados para construir a ideia de como um lugar que reúne tanta gente gerar sentimentos de depressão, isolamento e solidão? Em alguns momentos consegue ser mais do que poético ao relatar as plantas que emergem do concreto ou as janelas que desafiam as regras ao serem abertas nas medianeras (aquele lado dos prédios que não tem janelas e que geralmente são usadas para publicidade - na Argentina a construção de janelas nestas paredes chega a ser proibido por lei, mesmo assim, várias pessoas a descumprem em busca de maior claridade nos seus apartamentos.). Mas nada disso funcionaria se Taretto não conseguisse construir um casal de verdade, desses que passam por nós todos os dias nas ruas. Embora o filme se concentre em mostrar os tropeços amorosos de Martin e Mariana (geralmente equilibrando drama e humor nas figuras que aparecem) é evidente que os dois irão se encontrar e viver um romance, resta ao espectador cruzar os dedos para que percebam a presença do outro dentre as inúmeras vezes que o destino roteiro tentou colocá-los juntos. Vale a pena encarar o divertido teste de paciência que o diretor nos impõe até o final deliciosamente açucarado. Medianeras é uma comédia romântica gostosa de assistir, mas poderia ser melhor se o diretor não exagerasse em alguns momentos de melancolia - maldosamente embalados por um terrível vizinho pianista que faria qualquer um cortar os pulsos em seus piores dias... sorte que Mariana é das minhas!
Medianeras (Argentina/Espanha/Alemanha - 2011) de Gustavo Taretto com Javier Drolas, Pilar López Ayala, Inés Efron, Adrián Navarro e Rafael Ferro. ☻☻☻☻
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