Madonna: quase trinta anos de serviço ao mundo pop.
Aproveitando os shows de Madonna pelo Brasil eu resolvi lembrar um pouco de sua influência na cultura pop por quase trinta anos. Não lembro de nenhuma artista que tenha conseguido ficar tanto tempo em evidência. Além disso, apesar de suas controversas incursões pelo cinema (seja como atriz ou diretora), não podemos perder de vista sua participação em filmes cultuados até hoje como Procura-se Susan Desesperadamente (1985), Dicky Tracy (1990), Na Cama com Madonna (1991) e Evita (1996) que lhe rendeu um Globo de Ouro de melhor atriz. Isso sem contar as duas vezes em que uma canção defendida por ela levou o Oscar para casa (Sooner or later de Dicky Tracy - que rendeu a melhor apresentação musical do Oscar em todos os tempos - e You Must Love Me de Evita) e sua premiação no Globo de Ouro com a canção Magnificent de W.E. (2011) - isso sem contar as outras canções cinematográficas de sua carreira (Live to Tell de Caminhos Violentos/1986, This Used To be My Playground de Uma Equipe Muito Especial/1992, I'll Remember de Com Mérito/1994 , Die Another Day de 007 Um Novo dia para Morrer/2002 e as inúmeras vezes em que Vogue foi utilizado em filmes sobre o mundo fashion - a mais memorável delas em O Diabo Veste Prada/2006) - para não cansar, nem vou me aprofundar as discussões interpretartivas de Like a Virgin em Cães de Aluguel (1992) de Quentin Tarantino. Como podemos ver, a influência de Madonna é mais do que apenas na esfera musical. Diante de tantas mídias e reinvenções, não importa se contestam seu reinado no mundo pop com ou sem fundamentação. Marcando presença nas pistas mundiais, na moda, no cinema, na literatura ou onde quer que apareça, Madonna influencia e é influenciada com a mesma desenvoltura de sempre. Por isso resolvi fazer essa lista de cinco canções em que vejo essa reciprocidade na cultura pop claramente. Cinco canções que Madonna deve desejar que fossem dela - e algumas até foram influenciadas pela loura:
Madonna e Björk parecem dois lados da mesma moeda pop. Tanto que em 1993, a loura estava louca para trabalhar com a cantora islandesa, famosa por seus experimentos sônicos na banda Sugarcubes ou em seu álbum de estreia Debut (2003). Björk evitou encontrar Madonna, mas lhe enviou a letra e sugestões para a melodia de Bed Time Story, faixa trance produzida por Nelle Hooper e Marius Devries (parceiro constante de Björk) que acabou sendo o título do álbum da cantora em 1994. O resultado não empolgou muito os fãs da loura e ela deve ter ficado chateada já que pouco depois a islandesa lançou essa pérola pop que cairia muito bem em seu romântico álbum de 1994 - e que soa como algumas as faixas mais românticas de Music (2000)
O duo eletrônico de Cambridge formado por Andrew Kocup e Tom Findlay já flertou várias vezes com as músicas de Madonna, seja fazendo versões de suas músicas (como Crazy for You) ou em remixes de sucessos (como a célebre reinvenção de Music). Em 2001 a dupla alcançou seu maior sucesso com esta faixa de vocais e guitarras de uma sensualidade pop que devem ter deixado Madonna arrepiada. Lembra um pouco o que Ray of Light poderia ter sido se fosse mais alegre - um clima festivo que a Rainha do Pop parecia resgatar em Music (2000) e perdeu em American Life (2003). Lançado entre os anos em que a rainha do pop pareceu ter perdido a mão, My Friend é o caminho oposto que Madonna poderia ter pego num momento delicado de sua carreira.
Quem assistiu aos extras de Sticky & Sweet Tour deve ter reparado que Madonna cantarolava I Kissed a Girl durante os ensaios do esquizofrênico número de She's Not Me. Apesar de na época Madonna estar flertando com o Hip Hop, ela não perdeu de vista o tom provocador que Perry utilizava despudoradamente em uma música onde dizia ter beijado uma garota e gostado. Flertar com a bissexualidade no mundo pop deixou de ser novidade há tempos graças à Madonna. Mas se a loura parece mais sossegada depois da maternidade, Kathy Perry nem precisou disso. No álbum seguinte o tom de menina travessa ficou logo pasteurizado feito o de outras pop girls.
O álbum MDNA é puramente Kylie Minogue. O flerte de Madonna com a cantora australiana é antigo. Ambas são fruto da música pop dos anos 1980 e não tiveram medo de se modernizar. Madonna chegou a usar uma camiseta com o nome de Kylie na turnê Drowned World (2001), num período em que Minogue parecia estar no auge com seu álbum Fever (2001). Mas, a rainha do pop deve ter roído às unhas quando viu a australiana cantando Slow, faixa que inspirou o título do álbum Body Language (2003). Com seus vocais sussurrados e uma batida electro pop erotizante por si só, a moça conseguiu tudo que Madonna queria - e não conseguiu com o fiasco American Life lançado no mesmo ano. Mas as duas seguiram em frente: Minogue cantou Vogue numa turnê e Madonna citou Minogue nos figurinos de Vogue em sua versão Sticky & Sweet Tour. A recíproca é verdadeira.
Se o single Ooh La La anunciava uma Alison Goldfrapp mais glam do que nunca, muito se deve ao jeito afrodisíaco de cantar os versos provocantes desta faixa. Era uma sensualidade sônica tão inesquecível que exibia tudo o que Madonna precisava para retomar o rumo do planeta pop com Confessions on a Dance Floor (2003). Enquanto a inglesa Alison radicalizava a estroboscopia de suas músicas em Supernature, Madonna buscava o mesmo caminho em Confessions que foi lançado três meses depois (principalmente nos aspectos discoestéticos do clipe de Ooh La la). Vale lembrar que Ooh La La já tocava em baladas e rádios desde o final de 2002 e inspirou a sonoridade de guitarras e sintetizadores em algumas faixas do álbum de Madonna. Duvida? Escute Ooh La la e Like it or Not que encerra o álbum da rainha. Ooh La La Madonna!
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