Reilly, Winslet, Waltz e Foster: tentando manter a pose.
Meu senso de humor é bastante peculiar, talvez por isso eu salivava quando descobri que Roman Polanski iria levar para as telas a peça O Deus da Carnificina, escrito da francesa Yasmina Reza os menos informados deveriam pensar que se tratava da premissa de uma chacina, ou um filme de serial killer - sabe aquele tipo de gente que vai para o shopping e decide qual filme irá assistir meio que aleatoriamente e depois sai reclamando do que viu, pois é, acredito que muitos consideraram o filme uma armadilha ao serem seduzidos ao ver o nome do quarteto que estrela este filme provocador (somando, o elenco chega a impressionante 12 indicações acumuladas). Os mais atentos, devem ter matado a charada assim que souberam que Jodie Foster e Kate Winslet foram indicadas ao Globo de Ouro de melhor atriz em comédia. Existem também os sortudos que puderam ver a peça em São Paulo com Paulo Betti, Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Deborah Evelyn. Trata-se de um texto de humor negro, de estética bem simples, mas ainda assim interessante pelos jogos de cena propostos pelo diretor e as performances do elenco que encontra-se isolado num apartamento de Nova York. O filme começa com o desentendimento entre dois adolescentes - e a câmera se mantém distante enquanto a trilha farsesca embala o que parece ser um desentendimento até o momento em que um deles agride o colega com um galho. No decorrer do filme descobriremos que a vítíma perdeu dois dentes, está tomando remédios fortes para a dor, alguns nervos da boca foram afetados, encontra-se inchado e mesmo assim frequenta as aulas. Sabemos das consequências do ocorrido quando aparece em cena o quarteto formado por dois casais, os bem vestidos (e visivelmente mais ricos) Alan (Christoph Waltz, pedante como sempre) e Nancy (Kate Winslet) e os mais humildes Michael (John C. Reilly) e Penelope (Jodie Foster). Os primeiros são pais do agressor e os outros são os pais da vítima, - estes pretendem conseguir uma espécie de esclarecimento para o ocorrido ao conversar com os outros pais, mais que isso, querem providências quanto à educação do menino. Enquanto Nancy e Alan ficam quietinhos e aceitam os termos do outro casal tudo vai bem, mas quando a tal conversa começa a se estender por quase duas horas a coisa começa a complicar. É interessante como os diálogos começam a descascar os personagens vagarosamente, arrancando-lhes a civilidade e expondo as pequenas crueldades de que todos são capazes de fazer. Do hamster abandonado no parque, passando por um polêmico bolo de maçã e pêra - além de um celular que insiste em tocar nas horas mais impróprias - o que o filme quer dizer é que é fácil manter-se civilizado... até ser provocado. Dar uma alfinetada na intolerância contemporânea parece ser a intenção de Polanski. Tem gente que odiou a troca de farpas entre os casais, sinal de que perdeu de vista o quanto é saboroso ver um elenco de primeira linha brincando de se digladiar diante da câmera (e na brincadeira Polanski até aparece bisbilhotando a pendenga por uma fresta na porta). Enquanto Waltz e Reilly conseguem ser interessantes em suas zonas de conforto (e acho que os melhores momentos da dupla são quando a disputa entre casais se torna uma guerra dos sexos numa lavagem de roupa conjugal explícita), Foster e Winslet atingem momentos hilários ao virar suas personagens do avesso. Eu já disse isso no Diáriw que sempre acho interessante quando atrizes sérias soltam a franga em personagens diferentes das que costumas fazer. Winslet começa elegante, mas depois se mostra uma pinguça tresloucada enquanto Foster é tão politicamente correta que beira a arrogância mais insuportável - sem falar em suas caretas que revelam alguém à beira do colapso nervoso. Quem gosta de efeitos especiais e edição picotada irá achar o filme uma chatice, mas quem curte o trabalho do diretor e dos atores escalados por ele irá se divertir um bocado com uma discussão que parece não chegar a lugar algum. Irônica, a cena final dos casais soou insatisfatória para alguns, mas cai como uma luva para quem percebeu que livre é o hamster que deixado do lado de fora daquele cenário... sem falar nos dois meninos, que, no fim das contas, mostram-se mais sensatos do que a maioria dos adultos.
O Deus da Carnificina (Carnage/EUA-2012) de Roman Polanski com Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly e Roman Polanski. ☻☻☻☻
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