Rapace: qual a diferença entre lembranças e fantasmas?
Lançada ao estrelato pela trilogia sueca Millenium, Noomi Rapace me despertava desconfianças por viver a punk Lisbeth Salander. Apesar do corte de cabelo maluco, dos piercings, roupas de couro, cenas de nu e lesbianismo eu ainda achava que a atriz padecia da maior mazela de uma atriz: ter sempre a mesma cara. Quando a vi em Sherlock Holmes 2 a impressão era que Lisbeth havia cansado de ser punk e virou uma cigana. A desconfiança enfraqueceu quando a vi em Prometheus/ 2012 e ela encarnava uma típica heroína da ficção científica moderna, abraçando seus medos e mazelas sem piedade. Teria sido mais fácil ter assistido esse suspense sueco de 2011, que lhe rendeu alguns prêmios em festivais europeus e que não duvido que gere uma refilmagem americana em breve. O filme começa com a angustiante cena de Anna (Noomi) deitada no chão sendo questionada sobre o paradeiro de um tal Anders. Quem é Anders? Aquela cena é o início ou o fim da história? Essas perguntas ficam um pouco na cabeça do espectador, até o momento em que sabemos que Anna tenta construir uma nova vida num apartamento alugado por uma dupla designada para ajudar na superação de seu trauma. Aparentemente o esposo de Anna era um homem agressivo e tentou matar ela e o filho, Anders (Vetle Qvenild Werring) atirando-os pela janela. Para seguir a vida, Anna terá que seguir algumas regras, como matricular o filho numa escola, deixá-lo dormir sozinho no próprio quarto e tentar seguir uma vida normal. Mas nada disso parece fácil para ela, para ajudar a acompanhar o sono do filho, ela compra uma babá eletrônica. O objeto lhe traz segurança, mas com o tempo começa a emitir sons estranhos de pessoas sendo agredidas. Seria as lembranças de Anna? Estaria captando realmente sons da vizinhança? será que tudo isso é real? Aos poucos, a nova vida da personagem começa a demoronar. Colabora para isso o fato da escola não ver com bons olhos o excesso de proteção que demonstra para com o filho e a presença de um amiguinho estranho que teima em visitar Anders. Parece que o único vínculo da personagem com o mundo exterior é o atencioso vendedor Serge (uma bela composição de Kristoffer Joner), que pode ajudá-la a perceber se está enlouquecendo ou não - além de despertar lembranças de sua própria relação com a mãe. O diretor Pal Sletaune consegue construir um clima lento, claustrofóbico e angustiante para o público, principalmente quando ficamos confusos como a personagem numa realidade que sempre flerta com seus fantasmas pessoais. Ainda que as sugestões sobrenaturais do roteiro devam fazer as pessoas amar e odiá-lo na mesma proporção, Babycall (ou Babá Eletrônica como costuma ser exibido na TV por assinatura) pode ser uma boa surpresa para os amantes do gênero carentes de filmes econômicos e eficientes.
Babycall (Suécia/Noruega/Alemanha-2011) de Pal Sletaune com Noomi Rapace, Krsitoffer Joner e Maria Bock. ☻☻☻
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