sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

KLÁSSIQO: A Era do Rádio

Os Needleman: divertido retrato da era de ouro do rádio nos EUA. 

Muitos filmes de Woody Allen podem ser cultuados, mas poucos conseguem ser tão queridos quanto A Era do Rádio. É um bocado difícil fazer filmes a partir de histórias fragmentadas, especialmente se for baseado em memórias de um período bastante específico da história cultural de um país. Na história dos EUA, as décadas de 1930 e 1940 são consideradas a época de ouro rádio e o filme traz uma colagem das lembranças sobre as histórias desse tempo em que era menino e, desde sempre, pertencente à uma família judia de Nova York. É verdade que muitas das histórias são absurdas (como o show de ventríloquo transmitido ao vivo pelo rádio), mas conseguem gerar gargalhadas por conta disso. Além de mostrar como como esse meio de comunicação influenciava a vida das famílias, existem situações que retratam um pouco como era a vida nesse universo radiofônico. O filme tem vários acertos, a própria escolha do menino encarregado de ser um Woody Allen em miniatura foi um deles, Seth Green tinha doze anos quando ganhou o papel do menino ruivo e esperto que observa o mundo ao seu redor com astúcia de gente grande - e se depara com situações engraçadas como o dia em que sua tia Bea (Diane Wiest, ótima) saiu para namorar e foi abandonada pelo namorado que estava com medo da invasão alienígena (anunciada por Orson Welles em sua famigerada adaptação de Guerra dos Mundos para o rádio). Sabe-se que muita gente acreditou que se tratava de um real ataque de extraterrestres, mas não lembro de um filme ter mostrado essa situação de forma tão tragicômica. Não poderia faltar o dia em que junto aos pais ele se encontra com um menino gênio anunciado no rádio (o que retrata bem o culto das personalidades que davam o ar da graça na programação) e o tal guri parece mais antipático do que inteligente. Também não podia faltar o dia em que a menina que caiu no poço salvou o pequeno ruivo de tomar umas chineladas. Mas nem tudo gira em torno das histórias da família Needleman, existem aquelas histórias que só poderiam sair da cabeça de Woody, como a saga do jogador de beisebol que se mete em acidentes até o dia em que vira o melhor jogador do céu ou o dia em que a família dubla um número de Carmem Miranda. Mas talvez, o maior destaque do filme seja Mia Farrow como Sally White, uma moça que sonhava em virar artista de rádio, mas que a voz de taquara rachada mal permitia que vendesse cigarros. Farrow cria mais uma das personagens antológicas de Allen, demonstrando uma dramaticidade impressionante, mesmo nas cenas mais engraçadas. A cena em que seu choro parece uma sirene quando é sequestrada por um gangster é de rolar de rir, assim como o jantar ao lado do bandido (vivido por Danny Aiello) e da zelosa mãe do malfeitor. Sei que estraga a surpresa, mas Farrow consegue uma impressionante transição da personagem com ajuda da fonoaudiologia. É através da história de Sally White que conhecemos um pouco os bastidores das estações de rádio, o sonho e glamour que existia acerca desse meio de comunicação que até hoje faz companhia para muita gente. Ao final da sessão, Allen consegue traçar uma carinhosa ode a esse período bastante específico, exaltando a forma como existia um estímulo à imaginação dos ouvintes através daqueles programas e personagens. A direção de arte caprichada e o roteiro concorreram aos Oscar e o filme ainda conta com as participações de Diane Keaton e (da brasileira) Denise Dumont como cantoras daquele período. Curiosidades: A atriz Julie Kavner que faz a mamãe Needleman é a atriz que há anos empresta a voz para Marge Simpson e Jeff Daniels tem participação especial como um personagem parente do que interpretou em A Rosa Púrpura do Cairo (1985).

A Era do Rádio (Radio Days/ EUA-1987) de Woody Allen com Martin Rosenblatt, Hellen Miller, Julie Kavner, Seth Green, Dianne Wiest, Mia Farrow e Jeff Daniels. ☻☻☻☻

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