Owen e Andrea: A vida é dura.
Existem aqueles atores que te motivam a ver um filme só de ver o nome deles nos altos dos créditos. Feito para a televisão inglesa e exibido no Brasil pela HBO, Agente C - Dupla Identidade me chamou a atenção por ter dois intérpretes que sempre me chamam a atenção. Um deles é Clive Owen, que desde que foi considerado velho demais para fazer 007 (perdendo o posto para Daniel Craig) parece lidar com essa frustração interpretando variações de agentes desiludidos com a vida e o trabalho. Outro membro do elenco é Gillian Anderson, a eterna musa de Arquivo X que interpreta uma colega de trabalho de Owen, mais cética do que ele pode imaginar. O terceiro vértice de interesse para minha pessoa é a ainda pouco conhecida Andrea Riseborough, a inglesa que ganhou impulso na carreira com um fiasco de bilheteria (?!), o madonnesco W.E.(), em que ela era a melhor qualidade do filme (a segunda era o figurino e a terceira a fotografia, rs). Quem está acostumado ao ritmo frenético dos filmes de espionagem americanos irá se irritar um pouco com a narrativa lenta impressa pelo diretor James Marsh, que concentra-se na interpretação dos atores e o jogo de relações que se estabelece entre o agente Mac (Clive Owen) e Collete McVeigh (Andrea Riseborough). Desde a infância, a vida de Collete foi cortada por uma tragédia relacionada ao Exército Republicano Irlandês, o IRA. Crescida, o envolvimento de sua família com a organização terrorista torna-se evidente e ela é procurada pelo MI5 para fornecer informações sobre possíveis ataques e líderes da organização. Para isso, Collete terá que entregar membros de sua própria família e colocar sua vida em risco. É estranho, mas Marsh filma como se estivesse com o dedo segurando as engrenagens de um relógio. Enquanto a trama avança vagarosamente, ele prefere explorar a relação quase paternal que Mac nutre por Collete, enquanto esta se mostra-se uma complexa muralha. Andrea mostra-se mais uma vez que é uma das atrizes que merecem mais atenção no cinema atual. Sua personagem mostra uma expressão tensa do início ao fim, como se desde a primeira cena já soubesse que a tragédia já foi anunciada e não há nada que possa fazer para impedir que se concretize. Sentimentos como maternidade, fraternidade, amizade, confiança e ideologias políticas geram conflitos na personagem que o simples olhar da atriz é capaz de expressar. Famoso por ganhar o Oscar de melhor documentário com O Equilibrista (2008) constrói uma atmosfera seca, opressora e realista, auxiliada pela fotografia belamente saturada, mas que pode incomodar pela lentidão com que embaralha os fios de sua narrativa baseada no livro de Tom Bradby (que assina o roteiro dessa adaptação).
Agente C - Dupla Identidade (Sahdow Dancer/Reino Unido-Irlanda/2012) de James Marsh com Andrea Riseborough, Clive Owen, Gillian Anderson e David Wilmot. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário