Hurt e Rossellini: lidando com as marcas psicológicas do tempo.
Nascida na Itália, a filha do cineasta Roberto Rossellini e da diva Ingrid Bergman foi um dos nomes mais celebrados dos anos 1980 e início dos anos 1990. Isabella Rossellini começou a carreira como modelo, tornou-se uma espécie de ícone cinematográfico nas mãos de David Lynch quando protagonizou o clássico Veludo Azul (1988) e cantou Blue Velvet em cena. Foi terna em Um Toque de Infidelidade (1988), exibiu todas as curvas como a bruxa mais sensual de todos os tempos em A Morte Lhe Cai Bem (1989) e em 1992 participou do livro de fotos eróticas SEX idealizado por Madonna. Apesar de ter se afastado de grandes produções, a bela Rossellini dedicou-se a participações em séries de TV, dirigiu e estrelou curtas engenhosos que são cultuados na internet. Nos últimos anos ela participou de vários filmes europeus, sendo premiada em Berlim com o holandês Amor e Dor (1998) e elogiada no italiano A Solidão dos Números Primos (2010). Em 2011 ela atuou neste segundo filme dirigido por Julie Gravas, filha do aclamado diretor grego Costa-Gravas. Late Bloomers tem uma proposta que consegue ser bastante interessante e não deixa de ser uma escolha corajosa para uma atriz que já foi símbolo sexual e que agora aparece com acima do peso e com rugas na pele da mãe do personagem principal. Isabella interpreta Mary, uma professora que não leciona mais (aposentada?). Casada com um prestigiado arquiteto, Adam (William Hurt, sempre interessante), com filhos crescidos e percebendo as marcas do tempo, ela percebe que envelheceu. Mary resolve seguir os conselhos de um médico e exercitar-se na hidroginástica, mas as aulas lhe deixam apenas cansada. Resolve então ocupar seu tempo com trabalho voluntário, mas o tom da mocinha que a recebe - e o trabalho que lhe oferecem - fazem com que ela saia de lá antes da primeira hora. Mary percebe, que toda sua experiência e inteligência não são páreo para o estereótipo que a sociedade lhe impõe. Não adianta disfarçar as rugas com maquiagem e lenços em volta do pescoço, um mundo que cultua somente a juventude é cruel. Mary então parece tentar aceitar que envelheceu com naturalidade, sem dramas. É nesse momento que o seu casamento começa a ter problemas. Sexualmente, Mary e Adam (ambos nomes religiosos impregnados de significados) não tem problemas, mas a convivência com o mundo começa a desgastá-los. Colabora muito para isso que oferecem para Adam um projeto de criar abrigos para idosos, quando na verdade ele prefere se juntar aos arquitetos mais jovens e criar um museu modernoso. Essa convivência com os jovens nos trabalhos de madrugada sustentados por RedBull começam a criar problemas em casa e o filme segue de forma simples, mas lidando com alguma habilidade com os clichês cinematográficos e estigmas sobre como a nossa sociedade lida com os mais velhos. Julie Gravas acerta no início, mas lá pela metade erra no que seria mais fácil: as oportunidades de casos extraconjugais que aparecem na vida do casal e a forma como os filhos (todos superficialmente desenvolvidos) lidam com isso. O maior mérito do filme são as atuações corretas de Hurt e Isabella na pele de um casal maduro, ainda atraente e cheio de conflitos com o tempo que teima em passar e lhes oferecer corpos que não combinam com a percepção que tem de si mesmos. Acho que um pouco mais de pretensão não faria mal ao filme que sempre busca um humor mais refinado, mas que às vezes deixa as situações pelo meio do caminho, tornando uma boa ideia em apenas um filme simpático. Só para lembrar, o próximo filme de Isabella será a adaptação de O Homem Duplicado de José Saramago, dirigido pelo canadense Denis Villeneuve (do recente Suspeitos/2013 e do cultuado Incêndios/2010).
Late Bloomers - O Amor não Tem Fim (Late Bloomers/França-Bélgica-Reino Unido - 2011) de Julie Gravas com William Hurt, Isabella Rossellini, Doreen Mantle e Joanna Lumley. ☻☻☻
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