Brody: boa atuação em filme contraditório.
Eu entendo todos os motivos para que O Substituto seja tão elogiado pela crítica, com prêmios em festivais e fãs fiéis diante da dura realidade que ele retrata. No entanto, as pessoas costumam me xingar quando digo que o filme é o típico caso de produção que busca ser tão fiel à realidade que acaba caindo no exagero. O roteiro não mostra propriamente uma história, mas uma colagem de situações em torno de uma escola pública americana que está em decadência. O protagonista é Adrien Brody, que encarna o professor substituto chamado Henry Barthes. Recepcionado com a fama de ser um dos melhores professores substitutos da região, é interessante como a diretora (Marcia Gay Harden) diz para ele que o mais importante é cumprir o currículo, quando minutos depois Barthes diz que sua função como substituto é evitar que os alunos se matem. Talvez seja o desgaste em filmes sobre professores em suas duras realidades, ou talvez o meu estado de espírito no fim de ano, mas aquela primeira cena em que os alunos o enfrentam Barthes minutos depois de conhecê-lo me pareceu um bocado artificial - e isso perdura por todo o filme. Seu relacionamento distanciado com os alunos, ao mesmo tempo que é questionada pelo filme é exaltada quando aos poucos (sem muita explicação, já que o filme tem poucas cenas em sala de aula) os alunos passam a gostar dele. O filme ainda tem alguns desvios que me incomodaram, como Barthes protegendo uma adolescente que parece viciada em sexo oral pago, sua relação com um único familiar doente, o romance que nunca engrena com uma colega de trabalho (Christina Hendricks) e os repetidos flashes de memória. Além disso, todos os professores me pareceram tão apáticos quanto os alunos, além de reclamarem sobre a realidade que enfrentam, nunca apontam um caminho diferente para fazer a escola voltar aos eixos. Fechados em seus mundos distantes, a escola parece cada vez mais fadada ao fracasso. Não quero julgar os personagens, mas a colagem de imagens e personagens criada pelo diretor (do aclamado American History X de 1998) funciona abaixo de suas intenções. Ao mostrar uma realidade tão insuportável, nunca fica muito claro porque os personagens continuam ali agindo da mesma forma, talvez para justificar isso exista as entrevistas com Barthes dizendo o que pode haver de edificante e frustrante no ofício de professor. Para completar tem a morte de uma personagem na frente de todos, que funciona como uma cereja no bolo de uma trama onde o individualismo chegou no seu auge. Essa deve ser a ideia principal do texto de Karl Lund ao abordar uma escola, repleta de pessoas que não se conectam embora estejam tão próximas. Ainda que os professores de todo o mundo possam se identificar com o filme, lembro de uma amiga que sempre ressalta que o "aluno é obrigado a estar na escola, para o professor não, ele está lá por opção profissional" e se os alunos problemáticos precisam de tanto apoio e orientação como o filme diz, dificilmente será de profissionais tão apáticos quanto os que o filme apresenta. Será que esse é outro ponto que o filme pretende abordar? Já que descolado desse universo, Barthes é o único que apresenta uma postura mais crítica, ainda que acredite estar seguro devido ao seu distanciamento da escola em que trabalha, afinal ficará lá por pouco tempo. O Substituto pretende ser um soco no estômago, mas seus exageros (nas situações e na estética impressa na narrativaa), cansa e anestesia o espectador diante das contradições que a obra critica ao mesmo tempo que celebra.
O Substituto (Detachment/EUA-2011) de Tony Kaye com Adrien Brody, Christina Hendricks, Lucy Liu, James Caan e Blythe Danner. ☻☻
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