Roth e Eloise: olhar terno sobre os pequenos e grandes dramas da adolescência.
É sempre interessante quando um diretor procura uma abordagem mais séria da adolescência. Afinal, o único problema dos zilhões de filmes sobre curtições teens é que as transformações da adolescência não gera tantas curtições assim. Quebrado é o filme de estreia de um diretor teatral que conseguiu alguns papéis no cinema até resolver mudar de lado no uso da câmera, o estrante Rufus Norris utiliza o livro de Daniel Clay para falar sobre aquele doloroso momento onde o mundo adulto assusta uma pessoa que está deixando a infância. A promissora Eloise Lawrence é Emily, mais conhecida como Skunk, uma pré-adolescente que precisa lidar com o fato de ser diabética e que já superou o fato da mãe ter abandonado a família. Seu pai é um advogado paciente (Tim Roth), que cuida dela e do irmão, Jed (Bill Milner) com a ajuda de Saskia (Faye Daveney), mistura de babá e secretária do lar que namora o jovem professor Mike (Cillian Murphy). Apesar do medo de ingressar na nova fase de sua vida escolar, pode se dizer que Skunk tem uma vida confortável no subúrbio ao norte de Londres onde vive, pelo menos até o dia em que a violência invade seu universo que parecia tão confortável. Skunk tem um vizinho meio tímido e que ela demonstra um caminho especial chamado Rick Buckley (Robert Emms) e um dia ele é espancado por um vizinho sem maiores justificativas diante dos olhos dela. Além de apanhar um bocado ele é preso e ninguém entende muito bem o que está acontecendo (a narrativa ressalta esse efeito optando por sempre mostrar um fato e somente depois o que o precedeu). Não demora para sermos apresentados à família daquele homem violento, Bob Oswald (Rory Kinnear) e suas três filhas endiabradas, uma delas acusou Buck de tê-la molestado apenas para que o pai não quebrasse a TV após encontrar uma embalagem de preservativo no seu quarto. É a partir desse episódio que o mundo de Skunk parece se transformar, já que a narrativa cruza seu caminho várias vezes com a família de Buck e a do Sr. Oswald. O cineasta conta sua história sem grandes saltos (apesar do uso do título em vários momentos como um efeito da violência), prefere construir lentamente o rumo dos seus personagens - seja o fim do namoro de Saskia com Mike, o envolvimento de Jed com uma menina do barulho e o namoro inocente de Skunk com um menino novo no bairro que vive dizendo que ela é lésbica (vivido por George Sargeant). Pequenos dramas da personagem se mesclam aos dos outros, na construção de um universo coerente e interessante, mas que vive em constante ameaça, seja através da violência física, mentiras ou omissões que seus personagens encontram pelo caminho. Rufus Norris mostra-se um diretor atento aos detalhes, sendo inevitável nossa identificação com sua pequena protagonista que descobre o mundo aos poucos e decepciona-se em vários momentos, mas, como o final deixa bem claro, existe algo que vale a pena em estar nele, nem que seja para dizer que não foi derrotado. Além da personagem, existe ainda o dócil Buck, que torna-se cada vez mais estranho, arredio e capaz de reações violentas que podem comprometer a vida de quem está por perto, mesmo de Skunk - que em sua visão límpida dos fatos ainda enxerga nele o vizinho inofensivo vítima de uma grande injustiça. Apesar dos momentos cômicos (especialmente os temperados com a sensação superlativa da adolescência) e até poéticos sobre as dores do crescimento, o filme pode cansar um pouco em sua reta final, quando os dramas dos personagens convergem para uma tragédia que só reflete a conexão por fios invisíveis entre eles. Apesar dos nomes conhecidos no elenco (Tim Roth está discreto e Cillian Murphy nem se preocupa em aparecer muito), o destaque vai mesmo para os atores adolescentes, especialmente para Eloise Lawrence que universaliza a protagonista ao ponto de nos lembrar o fim de nossa própria infância.
Quebrado (Broken/Reino Unido-2012) de Rufus Norris com Eloise Lawrence, Tim Roth, Cillian Murphy, Rory Culkin e Robert Emms. ☻☻☻
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