Lewyn e seu gato: fiapos de esperança.
Ninguém gosta do sabor do fracasso, mas os filhos do Tio Sam tem verdadeiro pânico! Isso, obviamente, reflete-se em histórias de sarjeta que podem até chamar atenção da crítica, mas acabam ficando longe das grandes premiações - e se aparecem por lá, geralmente não tem seus méritos reconhecidos. Os irmãos Coen são famosos pelos prêmios que já receberam, mas quando resolveram contar a história de um cantor de música folk cuja carreira nunca decola em meio aos anos 1960, tiveram que lidar com um certo desprezo do público e do prêmio máximo do cinema americano. Acho que isso não importa muito para Joel & Ethan, que são autores acima desses pormenores, mas ver Inside Lewyn Davis ser indicado somente aos prêmios de fotografia e mixagem de som no Oscar é de uma maldade sem tamanho. Está certo que a mixagem é muito importante pelas várias cenas em que os personagens músicos se apresentam, da mesma forma, a fotografia leitosa (impressa pelo francês Bruno Delbonnel) confere grande beleza a história... mas eu perdoaria todas as ausências se pelo menos tivessem lembrado do guatemalteco Oscar Issac como dono de uma das melhores atuações do ano. Oscar é um bom ator que chama cada vez mais atenção, seja em sucessos (Drive/2011) ou fracassos (W.E./2011), mas que ainda não recebeu a atenção que merece. Ele interpreta Lewyn Davis, um cantor folk que vive dormindo na casa de amigos enquanto tenta fazer sua carreira funcionar. O roteiro acompanha alguns dias na vida desse homem, suas conversas com o agente que não lhe consegue grana nem para comprar um casaco, o envolvimento num triângulo amoroso com a dupla Jim & Jean (vividos por Justin Timberlake e Carey Mulligan, respectivamente) - que piora muito quando Jean descobre que está grávida de um deles - e sua vida de andanças em busca do reconhecimento (seja em Chicago ou Nova York, local para onde vai com uma dupla que parece destinada a lhe meter em encrenca). Para dar uma descontraída, Lewyn vive às voltas com o gato de um casal de amigos, o qual precisa cuidar até o dia de poder devolvê-lo. Apesar de Lewyn ter uma irmã e um pai, torna-se evidente os motivos de seu vínculo com o felino, que, por boa parte do filme, será sua única companhia amigável. Aos poucos conhecemos a história de Lewyn, os problemas de saúde de seu pai, o destino de uma ex-namorada, o paradeiro de seu parceiro e torcemos para que sua trajetória dê certo, por mais que suas baladas tristes não agradem às gravadoras (fica evidente a diferença de suas canções com do amigo Jim quando tocam "Please, Mr. Kennedy", indicada ao Globo de Ouro). No entanto, as canções caem como uma luva em sua jornada que poderá torná-lo mais amargo e desiludido (ponto magistralmente representado quando ele azucrina a apresentação de uma cantora desconhecida). Inside Lewyn Davis (nome do álbum lançado pelo personagem) é uma jornada um tanto desesperançosa, que lhe tira os fiapos de confiança através dos personagens que cruzam seu caminho - nesse ponto, merece destaque a mal humorada Jean vivida por Carey Mulligan, que parece sentir tanto desprezo quanto decepção por nunca ver Davis crescer na carreira. Com seu humor peculiar e ator principal (com tanta sede de reconhecimento quanto seu personagem), Balada de um Homem Comum merece ser visto como uma crônica melancólica dedicada aos artistas que nem sempre são abraçados pela fama.
Inside Lewyn Davis: Balada de Um Homem Comum (Inside Lewyn Davis/EUA-2013) de Joel & Ethan Coen, com Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, John Goodman, Adam Driver e Garrett Hedlund. ☻☻☻☻
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