Maguire, Edgerton, Mulligan e DiCaprio: um enorme desperdício.
Nada contra um diretor que possui um estilo bastante particular de contar uma história, pelo contrário, considero isso louvável. Afinal, trata-se de um grande elogio deixar sua marca de identificação autoral nos filmes. O problema é quando o diretor começa a se repetir e achar que está lançando algo moderno e inovador quando, na realidade, parece uma cópia de algo feito anteriormente. O australiano Baz Luhrman exibiu uma linguagem própria para contar suas histórias desde que foi descoberto com Vem Dançar Comigo (1992), que apesar do tom brega rasgado encontrou o sucesso mundial - que lhe garantiu adaptar até Romeu e Julieta (1996) de Shakespeare para as telonas (filme que iniciou o culto à Leonardo DiCaprio com a ajuda do prêmio de melhor ator em Berlim). Se o filme fez sucesso e impressionou a crítica, ele ousou ainda mais com Moulin Rouge! (2001), que com a ajuda de Nicole Kidman, tornou-se o musical de maior bilheteria do século XXI. Não satisfeito fez um épico romântico incompreendido sobre a história de sua terra natal, Austrália (2008) - que era estrelado pelo compatriota Hugh Jackman e sua musa Nicole Kidman. Diante do tropeço, Luhrman deixou sua musa de lado e reatou com o muso DiCaprio para repaginar o clássico de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby - que tinha como versão mais famosa a estrelada por Robert Redford e Mia Farrow em 1974. Quem conhece o cinema de Luhrman sabia o que esperar, mas o resultado é decepcionante. Gatsby ressurge como uma variável de Moulin Rouge ambientada na década de 1920. Parece exagero, mas as semelhanças incomodam os mais atentos. Nem me refiro ao estilo carnavalesco junto à edição frenética que tornou-se sua marca registrada, mas à narrativa realizada por um escritor, o romance proibido, o ricaço ciumento, a anacrônica sobreposição de épocas na trilha sonora, a luz que se apaga ao final do filme... o problema é que no meio de tudo que já vimos em 2001 ainda temos que engolir Luhrman passando batido por tudo que o livro preza ao contar sua história. A crítica ao materialismo do sonho americano desapareceu, assim como o desenvolvimento dos personagens em meio à direção de arte exagerada. A história é narrada por Nick (Tobey Maguire), escritor deprimido que conta como tornou-se amigo do vizinho, o misterioso Gatsby (DiCaprio), quando este na verdade estava interessando em reencontrar o amor do passado, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), prima de Nick e casada com o rico Tom Buchanan (Joel Edgerton). Apesar do esforço dos atores, Luhrman desenvolve a relação entre eles de forma apressada e superficial em meio a festas cafonas - mas o ritmo frenético basta para o espectador não perceber o desenvolvimento pobre da trama e o desprezo à personagens cheios de potencial (como a golfista vivida por Elizabeth Debicki, abandonada no meio do caminho)? Entre brilhos, franjas e música pop mal disfarçadas de jazz (fala sério, vocês acham que tocar Beyoncé e Jay-Z algo moderno?), Luhrman mostra que suas ideias se alimentam mais do passado do que ele imagina. Passaram doze anos do sucesso de Moulin Rouge e seu cinema ainda pensa que reprisando os truques daquele tempo será inovador. O filme levou para casa muitos prêmios pelo figurino e a direção de arte, mas veremos só isso no cinema de Luhrman daqui para frente? A julgar pelo estrago que faz com O Grande Gatsby espero que não.
O Grande Gatsby (The Great Gatsby/EUA-Austrália-2013) de Baz Luhrman com Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher, Jason Clarke e Elizabeth Debicki. ☻☻
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