The Knick: o pretensioso hospital de Soderbergh.
Me preparo para todo tipo de ofensa ao terminar de escrever esse post, afinal, trata-se de minha humilde opinião de duas séries que estrearam recentemente no Brasil com ambições opostas e com aceitação um tanto divergente de crítica e público. The Knick é a badalada série de Steven Soderbergh que retrata a vida no hospital Knickbocker em nova York no início do século XX - com Clive Owen a frente do elenco -, a outra série é a menos pretensiosa Helix, criada por Cameron Porsandeh que tem Billy Campbell (o candidato azarado da primeira temporada de The Killing). Evidentemente que a crítica especializada está toda derretida pela nova obra de Soderbergh (e ele anda tecendo inúmeros elogios pela liberdade criativa que a TV lhe oferece). É verdade que podemos perceber todo estilo do cineasta a cada milimetro de The Knick, o uso de câmera na mão, o não uso de luz artificial, a edição um tanto desconexa... no entanto, ainda preciso de motivos para acompanhar o seriado. O próprio diretor diz que todos nós já vimos essa história de cotidiano hospitalar na TV e seu anseio é justamente mostrar como era no início do século XX, com todas as suas inovações e, ao mesmo tempo, um tanto de horror se comparado aos recursos que temos hoje. Embora crie arrepios com a autenticidade cênica das cirurgias mais escabrosas, Soderbergh promete se embrenhar cada vez mais nos lugares obscuros de seus personagens, especialmente do conceituado John Thackery (Cllive Owen), médico de prestígio que assume a tarefa de manter a reputação inovadora do hospital enquanto lida com seus vícios em cocaína e prostitutas orientais. Por enquanto The Knick chega ao seu terceiro episódio no Brasil, mas falta um pouco de foco no programa. A reconstituição de época é boa, os personagens são promissores, mas Soderbergh investe numa marcha vagarosa que cozinha o grande diferencial do seriado: profissionais inovadores frente às limitações de seu tempo. Nesse quesito o roteiro enrola na abordagem de temas como racismo (especialmente quando os médicos brancos precisam lidar com o colega negro vivido por André Holland), o sexismo (sobretudo com relação à enfermeira vivida por Eve Hewson) e até o otimismo de quem enxerga além de tudo isso (pelos olhos do residente cheio de expectativas vivido por Michael Angarano). O fato é que a liberdade autoral de Soderbergh não percebe o quanto sua pretensão engessa um bocado a narrativa, cozinhando em excesso as possibilidades de seus dez episódios. Até agora, a série exige disposição para embarcar nessa viagem no tempo que começa curiosa, mas que pode se tornar um tanto cansativa durante um episódio. Acho que a própria HBO notou isso ao relegar a série ao canal Max, famoso por exibir produções cabeças, obscuras e alternativas. Já Helix investe no caminho oposto. Ao abordar os problemas de uma base científica localizada no ártico, a série parece começar no meio da história para motivar o clima de mistério. Desde o início sabemos que os cientistas que trabalhavam ali descobriram (ou desenvolveram) um vírus perigoso, que destrói o organismo humano e é transmitido oralmente. Helix tem a difícil tarefa de não descambar para o trash, com sua trama que de certo verniz conspiratório e político, afinal não sabemos ao certo com que os personagens estão lidando, além disso, estabelece conflitos num espaço onde convivem contaminados, suspeitos de contaminação, cientistas, veteranos, membros das forças armadas e agentes de controle de doenças que terão de colaborar de alguma forma se quiserem sobreviver. Pois é, você já viu essa história antes e, talvez, até melhor contada, mas o fato é que Helix consegue criar uma tensão interessante entre os personagens, sem perder de vista uma certa claustrofobia de conviver num ambiente que é, por si só, uma ameaça. Exibida em janeiro pelo canal SyFy americano, o seriado é exibido no Brasil pelo AXN e consegue costurar seus segredos com desenvoltura capaz de satisfazer os fãs órfãos de Lost e Arquivo X. Helix pode não ser genial (e acho que nem quer ser), mas consegue contar uma história que já vimos com eficiência, o que é um ganho diante de outras séries que tem ideias inovadoras, mas não sabem ao certo que história contar. Ao final de seus treze episódios, Helix foi renovada para uma segunda jornada no inverno de 2015!
Helix: suspense regado a nerdices, trashices e eficiência.
The Knick (EUA) de Steven Soderbergh com Clive Owen, André Holland, Michael Angarano, Eve Hewson e Juliet Rilance. ☻☻
Helix (EUA) de Cameron Porsandeh com Billy Campbell, Jordan Hayes e Hiroyuki Sanada. ☻☻☻
Outro sucesso de Soderbergh mas agora televisão, The Knick parece ser uma série muito boa, altamente recomendado
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