Sophie e Frances: quase um casal.
Quando o diretor Noah Baumbach surgiu com A Lula e a Baleia/2005 era visível o seu frescor ao tratar o processo de dissolução de seus personagens a partir de um doloroso divórcio. O olhar comicamente amargo sobre o casal e seus dois filhos lhe valeu indicações a vários prêmios, inclusive ao Oscar de roteiro original. Alguns anos depois, o frescor de outrora revelou o gosto do diretor por personagens difíceis, daqueles que ganham a antipatia da plateia com (enorme) facilidade, o auge disso foi em Greenberg/2009, produção tão sacal quanto seu personagem. Se existia algo que poderia nos fazer aguentar aquele filme, era a presença da então desconhecida Greta Gerwig, que vivia a mulher corajosa que se apaixonava pelo personagem título vivido por Ben Stiller. Desde então, a carreira de Gerwig recebeu algum destaque em produções independentes - e num malfadado remake de Arthur: O Milionário Sedutor (2011) - que só serviu para comprovar que o ambiente da atriz é realmente o universo indie. Como eu já disse antes, Gerwig é quase a versão cômica de Chloë Sevigny, mas com a vantagem de ter um diretor com algum prestígio capaz de compartilhar um roteiro... Gerwig e Baumbach voltam a trabalhar juntos em Frances Ha/2012, filme que alcança charme em sua simplicidade. Frances (Gerwig) vive em Nova York e sonha em conseguir um lugar em uma companhia de dança, na qual ainda é aprendiz. Frances divide o apartamento com sua melhor amiga desde os tempos de faculdade, Sophie (Mickey Summer). Frances gosta tanto da companhia da amiga que nem aceita quando o namorado lhe propõe que morem juntos. O problema é que o namorado de Sophie faz o mesmo pedido e ela aceita! A notícia cai como uma bomba na vida de Frances, de forma que quase tudo parece sair do lugar. Além de ter que encontrar outro lugar para morar, ter problemas para conseguir dinheiro para bancar o aluguel, além da vida amorosa ficar em frangalhos, Frances terá que lidar com a ausência de alguém que parece ser sua alma gêmea. Ao contrário de seus outros protagonistas, Frances não é uma pessoa desagradável, pode até ser meio perdida com o rumo que sua vida segue, mas é incapaz de ser desagradável com quem está por perto - ou se é desagradável é por acidente, já que muitas vezes nem ela parece entender suas próprias piadas. Se a vida de Frances parece um tanto improvisada, o cineasta contamina seu filme com essa atmosfera com cenas que parecem ter sido feitas a esmo, como se o diretor e sua câmera desaparecessem e espiássemos as desventuras da personagem por uma janela secreta. Extrapolando o realismo das impressões cotidianas e banais de seus personagens, Baumbach revela inspiração na Nouvelle Vague francesa, que zombava das convenções cinematográficas instituídas, sobrepondo à sua personagem a lógica de sua trama. Sendo assim, temos cenas divertidas com a personagem e seus problemas com as próprias ambições, com a distância da melhor amiga - que rende até uma tediosa visita à França (sem pontos turísticos). Badalado em premiações do cinema independente, o filme pode não agradar a todo tipo de cinéfilo, mas serve para comprovar que Greta Gerwig tem um estilo bastante peculiar, seja atuando (foi indicada ao Globo de Ouro de atriz de comédia pelo papel) ou escrevendo - além de mostrar que Baumbach é capaz de contar histórias sobre personagens simpáticos e sem psicologismos rebuscados.
Frances Ha (EUA/2012) de Noah Baumbach com Greta Gerwig, Mickey Summer, Adam Driver, Michael Zegen, Grace Gummer e Patrick Heusinger. ☻☻☻
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