Naomi: fazendo o que pode.
Confesso que estranhei quando o alemão Oliver Hirschbiegel assumiu a direção dessa biografia de Lady Di, mas, assim como todo mundo, lhe dei o crédito pelo olhar estrangeiro de uma espécie de entidade inglesa. No entanto, sabia que o renomado diretor de Experiência (2001) e A Queda (2004) teria dificuldades em lidar com um dos maiores ícones do século XX, cuja história foi acompanhada em escala mundial num culto midiático poucas vezes visto. Diana ficou conhecida como a personalidade que aproximou a família real dos súditos, dando-lhes um contorno menos formal e mais palpável. Com a presença cênica de Naomi Watts o filme tem um trunfo perante a plateia, já que, ciente de que era impossível copiar a biografada, Naomi utiliza alguns gestos bastante característico da princesa. O olhar tímido, o sorriso desconfortável e o tom de voz são auxiliados com eficiência pelo figurino, maquiagem e cabelo, que nos faz até esquecer que Naomi não é parecida com a personagem. Embora a imagem que o filme apresenta seja competente, o mesmo não pode se dizer do roteiro desengonçado. Após a morte de Diana Spencer, uma avalanche de livros sobre elas chegaram às livrarias, entre eles "O Último Amor de uma Princesa" de Kate Snell, no qual o livro se baseia para contar os últimos dois anos de vida de Lady Di, embasado no romance com o cirurgião paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Sendo assim, em sua necessidade de transformar a biografada em heroína romântica, o filme desaponta em uma estrutura frouxa de desentendimentos amorosos, perdendo de vista outros aspectos mais interessantes da personagem. A entrevista polêmica concedida para a televisão aparece de forma rasa, o relacionamento com os filhos fica de escanteio e outros membros da família real nem aparecem. O relacionamento com a mídia, que aparenta ser um dos maiores interesses da produção, também é desenvolvido sem muito ânimo, ficando sempre no lugar comum da figura pública que não consegue ter um romance fora dos holofotes - em alguns momentos tive a impressão de ver uma versão desanimada de Um Lugar Chamado Notting Hill (1999). Sobra então todo o peso da produção sobre os ombros de Naomi, que tenta dar dignidade para a personagem com o auxílio de suas missões humanitárias - onde Di utilizou a imprensa para divulgar causas nobres como o combate ao uso de minas terrestres. Talvez se fosse mais experiente em cinema, o dramaturgo Stephen Jeffreys (que antes roteirizou sua peça O Libertino/2004 que virou filme com Johny Depp) conseguisse escapar da armadilhas do livro de Snell, que baseado no ponto de vista da família Khan tem dificuldades em criar um retrato crível de Diana, especialmente sobre seu relacionamento com Dodi Al Fayed (Cas Anvar) antes do acidente que a vitimou. O resultado é um filme de história frouxa e com gosto de tabloide.
Diana (Reino Unido - França - Bélgica - Suécia/2013) de Oliver Hirschbiegel com Naomi Watts, Naveen Andrews, Cas Anvar, Douglas Hodge e Geraldine James. ☻☻
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