Aura: em busca da própria voz.
Sempre desconfio quando a mídia vem com aquele papo de que um artista é a "voz de uma geração". Isso aconteceu recentemente com Lena Dunhan. A celebrada atriz e criadora do seriado Girls da HBO começou sua carreira em 2006, desde então fez um média metragem, curtas e programas de TV em que não reparavam nela. As coisas mudaram quando lançou seu primeiro longa metragem em Sundance, a dramédia Mobília Mínima. O filme chamou atenção em outros festivais e ganhou o Independent Spirit de melhor roteirista estreante para Lena que exibia ali uma garota diferente no cinema. Pelo que podemos ver em suas obras, Lena deve achar uma grande bobagem essa história de dizer que ela é a voz de uma geração, já que suas obras remetem diretamente àquela fase estranha entre a adolescência e a vida adulta, onde temos que aprender a tomar nossas decisões e escolher os caminhos que nos farão ser nós mesmos. Isso pode ser visto espalhados pelos capítulos de Girls e, sobretudo em Mobília Mínima, onde as preocupações existenciais de sua atriz, diretora e roteirista aparecem de forma condensada em 98 minutos de projeção (rodados com 65 mil dólares e amigos no elenco). Lena interpreta Aura, uma jovem que acaba de se formar na faculdade de cinema, sem emprego e com um relacionamento fracassado, ela volta para casa da mãe, Siri (a ótima Laurie Simmons) que é uma renomada artista que cria fotos utilizando móveis em miniatura. No início seu incômodo se restringe ao relacionamento cheio de alfinetadas com a irmã adolescente Nadine (Grace Dunhan) que parece ter um futuro brilhante em vista - o que só piora a situação de Aura, que não consegue emprego em sua área e se torna uma espécie de secretária de um restaurante. Enquanto tenta colocar a vida nos eixos ela flerta com o chef do restaurante (David Call) e com um artista de vídeos (idiotas) para a internet (Alex Karpovsky), mas nenhum deles lhe dá a atenção que merece. Suas alegrias ficam por conta dos encontros esquisitos com uma amiga de infância que não vê há muito tempo chamada Charlotte (Jemima Kirke, a garota britânica de Girls) - e que sua mãe considera uma péssima influência. O filme acompanha as desventuras de Aura com aquele estilo desglamourizado que Lena utiliza como assinatura, cheio de cenas que parecem ser captadas quase por acaso por uma câmera despojada (às vezes até inacreditáveis como a cena de sexo num tubo!!!) , mas em nenhum momento temos a sensação de que a trama corre frouxa na tela. Embora seus personagens não saibam muito bem para onde ir, Lena sabe exatamente a história que quer contar na busca de garotas sobre si mesma. Em Mobília Mínima, Lena vive um tipo mais frágil do que a sua personagem no seriado. Mais triste que a esperta Jessa de Girls (um seriado que cheguei a acompanhar no início, mas sempre me pareceu amarrado demais), Aura pode não aprender que caminho seguir em sua vida adulta, mas aprende o que não quer (o que já é um ótimo começo) - ainda que a última cena deixe bem claro que o tempo continua passando implacável a cada segundo.
Mobília Mínima (Tiny Furniture/EUA_2010) de Lena Dunhan com Lena Dunhan, Laurine Simmons, Grace Dunhan, Alex Karpovsky, Jemima Kirke e Merrit Wever. ☻☻☻
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