Veerle e Didier: mais do que o caipirão e a pin-up
Alabama Monroe é um dos filmes mais interessantes que vi em 2014, sendo o mais bacana a forma afetuosa como trata os seus personagens. Num olhar menos atento eles parecem dois estereótipos bem demarcados, ele pode parecer um caipira e ela uma pin-up nos cafundós da Bélgica. Cada um à sua forma parece personificar o sonho americano, ele com sua banda de bluegrass (vertente do country) ela pelo seu estilo. Ele toca na banda, ela faz tatuagens (inclusive nela mesma, às vezes funcionando até como elemento narrativo da história) e quando se encontram é amor à primeira vista. A vida dos personagens é contada em diversos tempos a partir de um ponto que quebra no conto de fadas que os dois vivem juntos: o diagnóstico de câncer que a filha dos dois terá. Didier (Johan Heldenbergh) e Veerle (a excepcional Elise Vandevelde) vivem um amor intenso, mas que os leva do paraíso ao inferno com a mesma intensidade - e a câmera de Felix Van Groeningen capta essa sensação com precisão. O espectador logo percebe que o filme mistura os momentos em que o casal se conheceu, passando pelo nascimento da filha, a forma como lidam com a doença e o desamparo diante da necessidade de juntar o que sobrou da relação dos dois. A estrutura narrativa me lembrou a de Namorados Para Sempre (2010), inclusive pela melancolia que exala nos momentos mais difíceis. A grande diferença fica por conta dos números em que Didier e Veerle se apresentam juntos com a banda, alcançando momentos plenos de dramaticidade (incluindo o discurso desesperado de Didier que nega tudo o que ele parecia admirar durante todo o filme). Remoendo alegrias, tristezas e cenas tórridas, Alabama Monroe mostra-se uma gratificante montanha-russa de emoções e que consegue abordar temas complicados com uma ternura irresistível. As dores da perda, a plenitude ao cantar uma boa canção, a desilusão de ver os sonhos destruídos por um golpe do destino ou os mecanismos adotados para superá-los tornam-se ingredientes poderosos para o filme. Vale ressaltar que as atuações são fundamentais para que o filme alcance seus objetivos. O casal protagonista está excelente em personagens que passam por grandes transformações durante a história, Johan está muito bem como o grandalhão vigoroso, mas é Elise Vandervelde que tem os melhores momentos em seu apego à religião para encontrar conforto - mas sem melodramas ainda que se afogue na tristeza de Veerle. O filme não erra o tom nem em seu discurso a favor das pesquisas com células tronco sendo tudo muito espontâneo e bem encenado. Alabama Monroe (nome que remete aos gosto do casal e às mudanças que sofrem) é baseado na peça de teatro escrita pelo próprio Johan Veldenbergh que acerta ao não torna-se um filme meloso sobre superação e que cravou uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro em 2014.
Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown/Bélgica-2012) de Felix Van Groeningen com Johan Veldenbergh, Elise Vandervelde e Nell Cattrysse. ☻☻☻☻
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