Com o final de mais uma ano cinéfilo quem resiste a escolher os seus favoritos de 2014? Escolher os os melhores do ano é uma tarefa árdua, mas entre os filmes que assisti alguns prometem ficar na minha mente por mais tempo. Sendo assim, na opinião desse modesto cinéfilo, os melhores do ano foram os seguintes (com o escolhido em destaque e os outros comentados em sentido horário):
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FILME
Chega a ser covardia colocar o filme de Richard Linklater nessa categoria, afinal, para quem busca novas experiências na sala de cinema acompanhar o elenco envelhecendo por doze anos, apoiado por um roteiro sutil sobre a passagem do tempo, torna o filme num verdadeiro acontecimento. Diante dele, a jornada country pelas dores do casal belga de Alabama Monroe, o raro olhar do cinema americano sobre a escravidão em 12 Anos de Escravidão , a solidão tecnológica de Ela, as misturas do Grande Hotel Budapeste e as espertezas espetaculosas de Trapaça, por pouco não ficaram no topo do pódio.
Quando acabei de assistir Boyhood tive uma sensação muito estranha, ainda que considerasse que algumas situações estavam frouxas, somente depois entendi as intenções do diretor, afinal, sua obra é sobre as mudanças que o tempo causa nas pessoas, mais do que na aparência, as mudanças muitas vezes surgem de momentos aparentemente sem importância. Some isso à dura tarefa de filmar três dias com o elenco por doze anos, construir o roteiro aos poucos para mutilar tudo na sala de edição e ainda assim fazer sentido. Richard merece o título por sua audácia no trabalho. Ainda assim, o sentimento que Daniel Ribeiro impregna em Hoje eu Quero Voltar Sozinho, a agilidade de David O. Russell em Trapaça, as camadas costuradas por Felix Van Goreningen em Alabama Monroe, as violências cruas de Steve McQueen em 12 Anos de Escravidão e o estilo inconfundível de Wes Anderson (misturado a novos ingredientes) de Grande Hotel Budapeste merecem destaque.
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ELENCO
Para um filme funcionar a sintonia entre os atores é um dos elementos fundamentais, mas somente em alguns a coesão funciona de forma impressionante. Em Trapaça, David O. Russell conseguiu um time de ouro e mesclou as atuações vigorosas do elenco com maestria (até as menores participações funcionam com a eficácia de protagonismo). Outros filmes também trouxeram times de famosos ao lado de desconhecidos com uma eficiência poucas vezes vista, seja na lavagem de roupa suja de Álbum de Família, na colcha de personagens curiosos de Grande Hotel Budapeste, nos desajustados que se tornam heróis em Guardiões da Galáxia, nas testemunhas de O Lobo Atrás da Porta ou nos excessos do sonho americano de O Lobo de Wall Street.
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ATRIZ COADJUVANTE
Lupita Nyong'o (12 Anos de Escravidão)
Pode se dizer que esse ano nasceu uma forte candidata à estrela. A mexicana Lupita Nyong'o tem longa carreira nos bastidores do cinema, mas diante das câmeras, 12 Anos de Escravidão foi sua primeira e marcante experiência. Na pele da escrava que é forçada a ser amante do seu senhor e que considera o suicídio uma salvação, Lupita tem poucas falas, mas ilumina toda cena em que aparece. Porém, não podemos esquecer de Jennifer Lawrence soltando a franga em Trapaça, Julia Roberts amarga e muito bem acompanhada por Julianne Nicholson em Álbum de Família, a sagaz June Squibb de Nebraska e Patrícia Arquette em seu brilhante retorno ao cinema como a mãe que rouba a cena em Boyhood.
Acho que Jared Leto andava decepcionado com o cinema depois que suas esforçadas atuações não eram levadas a sério. Depois de quatro anos de jejum cinematográfico, o ator de 43 anos encontrou reconhecimento como o transexual Rayon, uma mescla de figuras reais que enfrentaram o aparecimento da AIDS como podiam na década de 1980. Imerso em seu papel, Jared tem momentos realmente memoráveis - mas a sensatez de Ali Mosaffa (O Passado), o agente da CIA que beira a psicose de Bradley Cooper (Trapaça), a contenção salvadora de Matthew Boomer (The Normal Heart), o desejo sufocado pela crueldade de Michael Fassbender (12 Anos de Escravidão) e o ceticismo de Steve Coogan (Philomena) também tem muito valor na safra que termina.
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ATOR
Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão)
Eu costumava brincar que o inglês Chiwetel Ejiofor ainda não tinha sido indicado ao Oscar ainda porque as pessoas sempre se enrolavam na hora de escrever o nome dele. Depois de sua espetacular atuação em 12 Anos de Escravidão - em que seu olhar é capaz de transbordar os pensamentos da dolorosa jornada de seu personagem, não teve jeito, quem curte cinema teve que aprender a grafia (e a pronúncia) de seu nome, o que não é pouco num ano em que as atuações masculinas surpreenderam como do comediante francês pouco conhecido por aqui Guillaume Galliene em papel duplo em Eu, Mamãe e os Meninos, Jake Gyllenhall personificando O Abutre da desgraça alheia, Matthew McConaughey definhando em Clube de Compras Dallas, Ralph Fiennes na pele do cômico concierge de O Grande Hotel Budapeste ou Wagner Moura escandalizando os fãs de Capitão Nascimento em Praia do Futuro.
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ATRIZ
Veerle Baetens (Alabama Monroe)
Vi Alabama Monroe como se estivesse vivenciando uma espécie de transe e a atuação magistral de Veerle foi fundamental para essa experiência. A atriz belga é formada no Instituto de Arte Dramática de Bruxelas e tem sólida carreira na TV e no teatro, no papel da multitatuada Elise, sua personagem vai da alegria plena à tristeza mais profunda de maneira comovente. Num ano de grandes destaques como a Amy Adams mais sexy de todos os tempos (Trapaça), Leandra Leal como a vilã em pele de cordeiro (O Lobo Atrás da Porta), Marion Cotillard como a imigrante que come o pão que o Tio Sam amassou (Era Uma Vez em Nova York), a megera no limite da sanidade de Meryl Streep (Álbum de Família) e a arrepiante esposa Rosamund Pike (Garota Exemplar), Veerle tem excelente companhia no pódio.
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ROTEIRO
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se conhecem e apesar das diferenças vivem um grande amor regado à música country americana. Juntos tem uma filha que o destino irá utilizar para testar o sentimento que existe entre eles. Amor, sexo, morte e religião se misturam na narrativa da peça escrita por Heldenbergh que vira um filme visceral nas mãos de Felix Van Groeningen que fragmenta a narrativa, ampliando o sentido de cada gesto dos personagens. O belo texto foi um dos mais marcantes do ano por sua originalidade em abordar temas difíceis. Eu também curti a adaptação da peça de Tracy Letts com os conflitos de Álbum de Família, o texto sutil de Boyhood, o olhar de Spike Jonze de um homem que se apaixona por um sistema operacional em Ela, a precisão assustadora de O Lobo Atrás da Porta e a engenhosidade de Trapaça.
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