Charlotte e Jamie: afrodisíaco ou sonífero?
Muito do que eu tinha a dizer sobre as pretensões de Lars Von Trier com Ninfomaníaca eu já escrevi quando assisti ao Volume 1 dessa desventura cinematográfica do cineasta dinamarquês. Se era preciso ter muita paciência para assistir ao primeiro capítulo, devo dizer que precisamos de muito mais para aturar mais duas horas da tediosa verborragia que almeja colocar tintas filosóficas na trajetória da protagonista viciada em sexo. A verdade é que Trier se encheu tanto de si mesmo que nem percebeu que não precisava de tão longa duração para contar a história de Joe, fosse um curta de meia hora poderia ser excelente. Se no primeiro capítulo sua personagem tinha aquele ímpeto adolescente para seduzir variados parceiros, aqui ela envelhece no casamento e deixa de sentir prazer com o sexo no conforto de sua relação com Jerome (Shia Labeouf), o grande amor de sua vida. Até a transição da personagem jovem (vivida pela esquelética Stacy Martin) para a mais madura é apressada, afinal numa passagem temporal de três anos ela perde a aparência de ninfeta para ganhar a cara da quarentona Charlotte Gainsbourg (atual musa de Trier). Será que o diretor quer dizer que a ausência de prazer envelhece precocemente? Essa reflexão poderia ter aparecido em meio aos tediosos diálogos de Joe que continua narrando sua busca por prazer ao desconhecido Seligman (Stellan Skarsgard) que agora revela ser virgem (oooh!). Agora a narrativa de Joe abordam o período após a permissão de Jerome para que ela procure outros parceiros. A partir daí ela parte para experiências mais intensas, como ter relações sexuais com dois negros ao mesmo tempo ou procurar K (Jamie Bell), que é procurado por mulheres que procuram ser agredidas para sentir prazer. Acho interessante como a gentileza e devoção de Jerome é incapaz de dar prazer a esposa que procura um homem que a agride violentamente para sentir alguma coisa. Os fãs consideraram que o filme aprofunda mais a personagem, especialmente por suas mazelas familiares, mas - na minha modesta opinião - a história só mostra que Joe finalmente percebeu o que a obra anterior já revelava: ela é completamente vazia. Diante de sua visão tediosa da existência o sexo parece ser a única saída para ter alguma graça na vida. Casamento? Filhos? Amor? Sexo? Tudo isso não importa mais, Joe ainda persegue algo que ainda é incapaz de preencher seu vazio. Fosse melhor escrito, o filme poderia ser uma obra fascinante, mas Trier continua no meio do caminho, acho que seu problema é o medo de ser moralista ou confundido com pornográfico, mesmo assim, o filme resulta na obra mais inútil do cineasta, soando apenas uma provocação fútil em seu currículo. Nem mesmo o embate de Joe com Seligman chega a animar, já que é óbvio o que aconteceria desde a primeira cena juntos. No fim das contas, Ninfomaníaca está mais para sonífero do que para afrodisíaco.
Ninfomaníaca - Volume 2 (Nynphomaniac - Vol 2 / Dinamarca - Bélgica - Alemanha - Reino Unido - França - Suécia / 2013) de Lars Von Trier com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Shia Labeouf, Jamie Bell, Stacy Martin e Udo Kier. ☻
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