Sean Penn: misturando The Cure, Siouxsie e Ozzy.
Paolo Sorrentino é um diretor italiano que alcança cada vez mais projeção nos dias atuais, com o prêmio do júri no Festival de Cannes por Il Divo/2008 (que contava a história do homem que serviu ao primeiro ministro italiano desde a restauração da democracia em 1946) o cineasta chamou atenção mundial para seu novo projeto, a dramédia This Must be the Place (que ganhou o prêmio ecumênico em Cannes). O filme ficou famoso por conter uma caracterização, digamos, bastante eclética de Sean Penn na pele do roqueiro Cheyenne, roqueiro da década de 1980 que se afastou dos holofotes há décadas e que ainda carrega o visual semelhante ao de Robert Smith do The Cure, mas com uma personalidade que parece a de Ozzy Osbourne (efeito do consumo de bebidas variadas e cheiradas em heroína, já que Cheyenne tem pânico de agulhas). Vivendo dos royalties de suas canções, o ex-astro vive em Dublin com a esposa, Jane (Frances McDormand), e tem como melhor amiga uma adolescente cujo o irmão desapareceu há três meses. Fica evidente que Cheyenne não tem muito o que fazer, mesmo assim ele não aceita convite para uma apresentação especial na MTV ou para produzir uma banda de jovens roqueiros. Ele chega a cogitar que está deprimido, mas a esposa acha que ele está apenas entediado. Quando nada demais acontece com o rockstar, ele recebe uma ligação comunicando que seu pai está nas últimas e parte para Nova York (de navio, porque ele odeia viajar de avião). Depois de trinta anos sem contato com o pai, Cheyenne recebe a missão de encontrar o oficial nazista que torturou seu pai durante a Segunda Guerra Mundial e parte numa jornada em que busca o perdão de si mesmo, não apenas pelos anos de ausência na vida do pai, mas também por conta de dois fãs que se suicidaram inspirados pelas músicas de sua banda (que, conforme Cheyenne afirma, eram depressivas para jovens deprimidos e com o objetivo de ganhar dinheiro). O que era para ser um filme de vingança segue por um outro caminho, um caminho quase surreal dado o olhar do protagonista sobre a história. Sean Penn compõe o personagem com precisão, nutrindo-o com um humor inocente, quase infantil, que deixa latente a sua inadequação pela vida. Percebemos que existe grande energia nele, mas ela em poucos momentos é externalizada. Cheyenne parece anestesiado, ainda que tenha uma visão bastante sóbria do mundo. Existem cenas impagáveis como a visita à esposa do tal torturador e outras realmente comoventes, como o momento em que toca a canção que inspirou o título ou a cena em que Cheyenne rasga seus tormentos para o amigo David Byrne. Aqui é o meu Lugar é um filme bastante diferente, com humor peculiar e que funciona dentro de uma lógica própria, o que lhe confere bastante originalidade - e quem viu o filme seguinte de Sorrentino, "A Grande Beleza" que ganhou o Oscar de Filmes Estrangeiro desse ano, sabe que o diretor foge do óbvio. Quem busca um filme de vingança ou uma comédia rasgada irá decepcionar-se, mas quem deixar se envolver pela lógica do filme irá se surpreender com as sensações que o filme desperta. Bela fotografia, ótima trilha sonora e um elenco perfeito completam esse primeiro trabalho em língua inglesa do diretor.
Aqui é o Meu Lugar (This Must Be the Place/Itália-França-Irlanda/2011) de Paolo Sorrentino com Sean Penn, Frances McDormand, Judd Hirsch, Eve Hewson, Sam Keeley e Kerry Condon. ☻☻☻☻
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