Hanks e Thompson: opostos que não se atraem.
Tom Hanks (dois Oscars de melhor ator e outras três indicações ao prêmio) e Emma Thompson (dois Oscars, um de atriz e outro de roteiro adaptado, além de outras duas indicações ao prêmio) eram duas das estrelas mais reluzentes da década de 1990, de forma que um filme estrelado por eles dificilmente teria passado em branco pelos votantes da Academia. Porém, os tempos mudaram e ainda que ambos tenham o talento reconhecido, perderam a influência entre os votantes do maior prêmio do cinema. O maior problema no entanto não está na personificação dos dois em seus personagens que existiram de verdade, mas no tom tatibitate impresso pelo diretor John Lee Hancock (Um Sonho Possível/2009) - e o título esquisito que o filme recebeu no Brasil só afasta mais ainda o público. Ao contrário do que o título em português anuncia, o foco está totalmente na escritora P.L. Travers (Emma Thompson) e sua relutância quase psicótica de evitar a adaptação de sua obra Mary Poppins para o cinema. O mau humor de Travers aos poucos revela-se relacionado às lembranças que a autora possui do pai, um banqueiro australiano fracassado (vivido por Colin Farrell). Ambientado em 1961, o filme apresenta o relacionamento difícil dos estúdios Disney com a escritora, o que já era esperado depois de vinte anos de insistência de Walt Disney (Tom Hanks) para receber um modesto "talvez" da autora - quando ela estabeleceu que o filme poderia ser feito se ela aprovasse o roteiro por completo. O que poderia parecer uma tarefa simples para os roteiristas mais experientes, se mostrou uma tarefa complicada, já que além de reclamações sobre o elenco e o uso de animação, P.L. proibiu que usassem a cor vermelha em qualquer cena do filme e implicava com as músicas compostas para a produção. Embora Emma Thompson (que poucas vezes o cinema reconheceu como comediante de mão cheia) tenha excelentes momentos em sua atuação ranzinza, o filme tem alguns problemas sérios de execução. Afinal, os flashbacks não conseguem explicar como Travers, criadora de uma obra tão agradável tornou-se tão amarga. Da mesma forma, Walt Disney mostra-se unidimensional demais em sua simpatia, faltando nuances para que Tom Hanks possa enriquecer a atuação. Todo mundo sabe que Mary Poppins tornou-se um sucesso, mas poucos devem lembrar que Travers odiou o filme. Para falar a verdade, Travers odiava muita coisa, morrendo solitária aos 96 anos e dificilmente teria gostado do retrato que recebe nesse filme. No fim das contas, Walt nos Bastidores de Mary Poppins é uma fantasia sobre dois personagens opostos complexos que se desentenderam muito mais do que o tratamento benevolente que o episódio gerou para a telona - ou talvez, seja uma espécie de vingança do estúdio com as implicâncias de Travers (que termina transformada numa personagem cômica, o que ela detestava).
Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks/EUA - Reino Unido - Austrália / 2013) de James Lee Hancock com Emma Thompson, Tom Hanks, Paul Giamatti, Colin Farrell, Ruth Wilson e Jason Schwartzman. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário