Nicole e Firth: consolando uma alma atormentada.
Lançado no início do ano no circuito alternativo dos EUA, Railway Man recebeu bastantes elogios e conseguiu algum sucesso nas bilheterias, mesmo com o pequeno circuito que o exibiu. Fosse lançado próximo das grandes premiações talvez até conseguisse vaga nos Globos de Ouro e talvez até no Oscar. O filme de Johnatan Teplitzky parece uma história de amor convencional, da mulher amorosa que encontra o tímido homem de sua vida. Fascinado por ferrovias e gentil, ele esconde as dores do passado que o casamento revelará, já que, aos poucos, ela descobre que seu amado tem uma alma bastante tortuosa. Eric (Colin Firth) é um veterano de guerra que faz parte até de encontros periódicos com alguns amigos para exorcizarem suas dores em conjunto, mas ele é sempre calado e metódico demais para se expor - mesmo para a esposa compreensiva, Patti (Nicole Kidman). No entanto, a convivência com angústia constante ao lado da esposa que o faz procurar acertar as contas com o passado. O amigo Finlay (Stellan Skarsgard) é o responsável de contar para Patti e para a plateia sobre os horrores que Eric vivenciou durante a guerra e todos entenderão os motivos daquele homem tão gentil sofrer com pesadelos, ataques de fúria e choro. Acho que não cabe dizer aqui o motivo da devastação emocional de Eric, mas posso ao menos elogiar a forma como Teplitzky insere os flashbacks em sua narrativa, transformando a história de amor num filme anti-guerra, onde o jovem Eric é devastado diante dos nossos olhos. O protagonista mais jovem é vivido por Jeremy Irvine, que parece um ator para se levar a sério, mais do que aparentava em Cavalo de Guerra/2011, sua atuação é realmente emocionante, sendo bastante convincente para introduzir a fase seguinte onde Firth também não decepciona no tipo reservado que tenta esconder seus traumas. No entanto, o filme ainda tem o seu último ato - que deve ter inspirado esse título sem graça que o filme recebeu no Brasil - , onde o ex-solado tenta acabar com o fantasma de seu passado (e o elenco ganha um acréscimo de peso com Hiroyuki Sanada). O mais interessante é como o filme avança em densidade em cada ato que apresenta alternando perigosamente os seus gêneros narrativos, passando do romance para o suspense, desviando para o drama de guerra para depois retomar o suspense (que quase não funcionava no início) para ressaltar uma mensagem pacifista. Teplitzky pode não ter feito uma obra-prima, mas criou um filme de momentos memoráveis e que se beneficia da química natural entre Nicole e Firth, que sempre que surgem em cena temos a certeza de que estamos diante de uma boa história.
Uma Longa Viagem (The Railway Man/Austrália - Reino Unido - Suécia/2013) de Johnatan Teplitzky com Colin Firth, Nicole Kidman, Jeremy Irvine, Stellan Skarsgard e Hiroyuki Sanada.☻☻☻
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