Em 1988 o Príncipe Akeem (Eddie Murphy) estava prestes a se casar com sua princesa prometida para no reinar no futuro sobre o próspero país africano de Zamunda. Para infelicidade do seu pai, o rei Jaffe Joffer (James Earl Jones), o príncipe planeja fazer algo diferente antes de se casar e parte para Nova York, mais especificamente para o bairro Queens (afinal, conforme o personagem mesmo justifica, qual seria o lugar melhor para encontrar sua futura rainha?). Akeem parte para aquele mundo distante das mordomias da realeza, vivendo várias situações de choque cultural que funcionam muito bem por não levar-se a sério e, especialmente, por ter um certo ar de sátira fantasiosa irresistível. Acompanhado de seu fiel escudeiro, Semmi (Arsenio Hall) eles vão morar na periferia da Big Apple disfarçados de humildes estrangeiros, trabalham numa cópia genérica do McDonald's, frequentam cultos de um pastor mais animado do que deveria, cortam o cabelo numa barbearia frequentada por senhores sempre dispostos a destilar algum comentário ácido sobre o mundo e conhecem pessoas que emplastam Soul Glo no cabelo. Como a grande maioria das comédias estreladas por Eddie Murphy esta aqui não tinha compromisso com o politicamente correto e, por isso mesmo, muitos consideram que o filme envelheceu mal (convenhamos que poucas comédias tem este mérito), mas o fato é que assistido ainda hoje, nota-se como o diretor John Landis (que antes dirigiu Eddie em outra comédia clássica dos anos oitenta, Trocando as Bolas/1983) e a trama imaginada pelo astro se afastaram de todos os clichês miseráveis sobre a forma como a África é retratada no cinema (e confesso que lembro de um país do continente, ainda que fictício, ser apresentado como rico e próspero somente em Pantera Negra trinta anos depois). Se hoje fala-se muito de representatividade, Um Príncipe em Nova York já apresentava um elenco majoritariamente negro e o fazia com naturalidade. Não por acaso o filme fez um sucesso estrondoso com suas piadas ágeis e um tanto de acidez equilibrada com a ingenuidade do seu príncipe. No fundo, o longa torna-se uma roupagem diferente para o que é a velha fórmula das comédias românticas (com direito a final feliz e tudo), o que lhe garante um certo frescor. Murphy estava no auge de sua popularidade e o filme concorreu aos Oscars de figurino e maquiagem (especialmente por conta das transformações que Murphy e Hall ao longo do filme).
Quando disseram que o filme teria uma sequência o público olhou com desconfiança, mas quando o filme foi lançado no Amazon Prime Video se tornou um fenômeno do streaming. Boa parte do sucesso é por conta do primeiro filme e a forma como a sequência capitaliza a nostalgia em sua primeira parte. A direção desta vez fica por conta de Graig Brewer, cineasta responsável por dar uma animada na carreira de Eddie Murphy com Meu Nome é Dolemite (2019) após anos sendo espinafrado por seus projetos. Nesta continuação, Akeem está prestes a herdar o trono de Zamunda, mas por conta dos conflitos com um país vizinho (governado por Wesley Snipes que trabalhou em Dolemite e aqui prova mais uma vez merecer mais filmes) começa a se ressentir por não ter um herdeiro do sexo masculino. Em seu feliz casamento com Lisa (Shari Headley que aparece pouco no filme) ele teve três herdeiras, que terão problemas com a tradição de mulheres não poderem herdar a coroa. Akeem acaba então descobrindo que deixou um filho para trás em Nova York e assim conhece Lavelle (Jermaine Fowler), um rapaz comum que descobre ter sangue nobre. Curiosamente o filme é divertido até esta parte, conforme Lavelle ganha mais destaque na trama o filme sente falta do carisma de Akeem para funcionar. Para dar uma atualizada no texto, existe pelo menos o ensaio de um discurso de empoderamento feminino por parte das mulheres da vida de Akeem, porém, a maior parte do tempo fica a sensação de que Um Príncipe em Nova York 2 funciona mesmo quando retoma os personagens do filme anterior, mas não convence muito quando precisa amparar os novos personagens deste universo. Seria até covardia comparar o filme com a destreza do primeiro. Menos original e banhado em nostalgia, esta sequência tropeça em sua segunda parte, mas tem a graça de promover um reencontro com personagens que já renderam tanta diversão para a plateia ao longo do tempo.
Um Príncipe em Nova York (Coming to America / EUA - 1988) de John Landis com Eddie Murphy, Arsenio Hall, James Earl Jones, John Amos, Shari Headley e Paul Bates. ☻☻☻☻
Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America / EUA -2021) de Craig Brewer com Eddie Murphy, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Arsenio Hall, Wesley Snipes, James Earl Jones, Shari Headley, John Amos, Tracy Morgan, Kiki Layne e Bella Murphy. ☻☻
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