Johnny e Jashaun: a bela estreia de Chloé Zhao.
Chloé Zhao é a favorita para levar para casa o Oscar de melhor direção deste ano por seu terceiro filme (Nomadland). Se ganhar, será a segunda mulher a levar o Oscar de melhor direção e será a primeira de origem oriental - o que ajuda muito no momento em que as mulheres cineastas clamam por oportunidades e reconhecimentos na indústria cinematográfica. No entanto, acredito que quando Zhao aceitou a proposta da atriz Frances McDormand para dirigir seu novo filme, ela não imaginava que faria história na maior premiação do cinema americano. Para a maioria das pessoas a chinesa nascida em Beijing em 1984 é uma ilustra desconhecida (porém, os fãs de filmes de quadrinhos devem ter se acostumado a ouvir o nome dela já que será a responsável por levar para as telas Os Eternos da Marvel). Quem já acompanha a carreira da cineasta até aqui deve ficar imaginando como a Marvel imaginou que uma diretora querida no circuito independente se tornou o nome adequado para um filme de super-herói. Zhao chamou a atenção já em seu filme de estreia, Songs My Brothers Taught Me, que foi aclamado em festivais (incluindo Cannes e Sundance que ajudou a idealizar o filme em um dos seus laboratórios) e indicado a três Independent Spirit (melhor primeiro filme, fotografia e cineasta revelação) e premiado com o Gotham destinado a diretoras mulheres. O filme conta a história de uma família que vive em uma reserva indígena dos Estados Unidos, a Pine Ridge localizada na Dakota do Sul. Aqui o destaque é para o jovem Johnny (John Reddy) e sua pequena irmã, Jashaun (Jashaun St. John), ambos vivem com a mãe (Irene Bedard) após a prisão do irmão mais velho (Kevin Hunter). A cineasta já demonstra aqui seu interesse em construir uma narrativa entre o documental e a ficção, parecendo muitas vezes apenas espiar a vida daqueles personagens (em sua maioria vividos por atores amadores) em seu cotidiano repleto por atividades comuns que aos poucos apresentam alguns dilemas. Com estética mais etnográfica do que dramática, aos poucos sabemos o que aconteceu com o "prolífico" pai daquela família, que o primogênito prefere estar na prisão do que conviver com a mãe e conhecemos um pouco mais daquelas pessoas que vivem em um mundo bastante particular entre manter os antigos costumes enquanto a preocupação com o uso de álcool e drogas só aumenta (especialmente se levarmos em conta a falta de segurança que ronda a reserva). Existe também uma certa carência de perspectiva daqueles personagens, especialmente de Johnny, que acaba realiza contrabandos entre a fronteira da reserva e o mundo exterior e acaba pagando o preço por isso. Beneficiado pelas belas paisagens valorizada pela fotografia caprichada, atmosfera bucólica e uma bela trilha sonora, Songs My Brothers Taught Me é bastante contemplativo e até relaxante ao não ter pressa em acompanhar o cotidiano daqueles personagens que ainda procuram seus lugares no mundo em que vivem. Neste ponto, pesa bastante a relação entre Johnny e sua irmã que se torna uma espécie de âncora naquela família, especialmente quando ele planeja mudar de vida com a namorada e respirar novos ares e fecha o filme com seu momento mais bonito e poético. Quem assistiu ao filme seguinte da cineasta, Domando o Destino (2017) irá perceber aqui muitos elementos que Chloé voltou a explorar de forma ainda mais contundente e que a tornou um dos nomes mais relevantes do cinema indie nos últimos anos. Por isso, na expectativa de Nomadland chegar logo por aqui, escolhi o filme de estreia da diretora para abrir o Ciclo Diretoras 2021.
Chloé Zhao: equilíbrio entre a realidade e a ficção.
Songs my Brothers Taught Me (EUA-2015) de Chloé Zhao com John Reddy, Jashaun St. John, Irene Bedard, Kevin Hunter e Keanna Rowland. ☻☻☻
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