sábado, 6 de março de 2021

CICLO DIRETORAS: Inpire, Expire.

 
Sadjo e Patrik: empatia verdadeira. 

A primeira coisa que nos vem a cabeça quando pensamos na Islândia é o fato de ser um país extremamente gelado, depois disso até lembramos de Björk, Sigur Rós e time de futebol formado por voluntários na Copa do Mundo. A maioria das pessoas não devem ter visto nenhum filme islandês na vida (aqui no blog eu devo ter comentado uns cinco) e por isso mesmo é interessante que o premiado Inspire, Expire esteja em cartaz na Netflix para um número gigantesco de pessoas que dificilmente o assistiria se estivesse nos cinemas. O primeiro longa metragem da cineasta  Isold Uggadottir trata de um tema bastante recorrente no cinema europeu recente, os imigrantes ilegais, mas o faz por um viés bastante original ao estabelecer um laço de duas mulheres de origens diferentes, mas que descobrem na amizade uma forma de resolver seus problemas que são até parecidos. Uma delas é Lára (Kristín Þóra Haraldsdóttir), mãe solteira que não tem dinheiro para arcar com as despesas ao lado do filho. Ela começa a trabalhar no aeroporto enquanto passa a viver no carro com o pequeno Eldar (Patrik Nökkvi Pétursson). É no trabalho que Lára conhece Adja (Babetida Sadjo), mulher nascida em Guiné-Bissau que se vê separada da filha após ter seu passaporte falso descoberto antes de embarcar para o Canadá. Separada da família, sozinha e num lugar gélido, a sua angústia só cresce no abrigo para refugiados. Porém, o roteiro irá juntar o trio de personagens em meio a sentimentos como insegurança, medo e o desejo de manter-se próxima de quem se ama. Aos poucos a amizade cresce e ganha contornos de uma família diferente. É neste laço que se constrói entre os personagens que o filme cresce e se torna ainda mais comovente na evolução sutil de uma narrativa um tanto rígida, mas consegue revelar o que estas personagens tem de mais forte e também de mais frágil. Se distanciando do sentimentalismo enquanto as personagens tentam resolver seus problemas, Inspire, Expire foge dos lugares comuns e apresenta algumas cenas assustadoras sobre a realidade que ainda buscam seu lugar no mundo. São estas cenas que nos fazem pensar no que é realmente certo ou errado perante uma realidade dura e excludente. Não bastasse o excelente trabalho das atrizes, a diretora Isold Uggadottir demonstra aqui aquela habilidade rara de conduzir o drama de seus personagens gerando um verdadeiro suspense. A forma como conduz a jornada de suas personagens é quase um manifesto contra um mundo à beira do abismo individualista. Embora sua ambientação transpire o ar gélido da Islândia, Inspire, Expire emana calor humano através do seu trio protagonista e se transforma em uma lição de enxergar o outro em seus desejos e necessidades. A empatia nada forçada que emana do filme lhe valeu elogios e um prêmio no Festival de Sundance.  

Isold Uggadottir: melhor direção internacional no Festival de Sundance. 

Inspire, Expire (Andið eðlilega / Islândia - Suécia - Bélgica / 2018) de Isold Uggadottir com  Kristín Þóra Haraldsdóttir, Babetida Sadjo, Patrik Nökkvi Pétursson e Bragi Arnason. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário