Wood e Hurt: O mundo desencantado dos matemáticos.
O título genérico deste filme lançado direto em DVD não ajuda, mas se olhar com atenção existem nomes nos créditos capazes de atrair cinéfilos dedicados a se arriscar. Pra começar a direção é assinada pelo espanhol Alex de La Iglesia - e quem o viu anos atrás numa impagável entrevista no Programa do Jô sabe o estilo bonachão que o cara tem, suas respostas foram bastante coerentes com a linguagem de seus primeiros filmes entitulados de nomes sugestivos como Perdita Durango de 1997 (estrelado por Rosie Perez e Javier Bardem - só o nome já dá vontade de rir) e O Dia da Besta (1995). O diretor se tornou queridinho da crítica com Crime Ferpeito (2004) e Enigmas de um crime é quase uma consequência deste filme anterior. Além de Iglesia, o elenco conta com nomes interessantes como John Hurt, Elijah Wood, Leonor Waitling e o francês Dominique Pinon tornam os créditos deste suspense atraente. Embora baseado num livro argentino, a trama se passa na renomada universidade de Oxford na Inglaterra e tem seu ponto de partida quando Simon (Wood), um estudante americano chega à renomada instituição com a intenção de convidar um famoso matemático, Arthur Seldon (Hurt) para orientá-lo no doutorado. Quase sem querer hospeda-se na casa de uma senhora (velha amiga deste professor) que mora com uma sobrinha esquisita.Tudo começa com o pé esquerdo quando assiste a uma palestra ministrada pelo matemático e o desentendimento é inevitável - já que o jovem acredita no universo atuando dentro de uma lógica matemática e o professor despreza essa ideia. Apesar disso os dois ainda vão se encontrar várias vezes quando a velha amiga é encontrada morta. O filme tem a ideia interessante de mostrar dois matemáticos tentando desvendar o assassinato (se você lembrou do seriado Numb3rs, eu também...) que aos poucos parece estar ligado a outros dentro de uma lógica aparentemente indecifrável. Mas enquanto o aluno acredita numa lógica universal que pode ser matematizada, o professor, que era contra essa ideia, acaba caindo em contradição ao seguir pelo mesmo caminho. Desista de ficar entendendo as várias citações filosófico-matemáticas que transbordam do roteiro, tudo parece estar ali para confundir e Iglesia por pouco não padece em motivar que nossas suspeitas caiam sobre cada personagem que aparece na tela - o que envolve até uma bela enfermeira (Waitling) que é cobiçada pela dupla de matemáticos. Apesar das reviravoltas e dos enquadramentos interessantes o filme promete mais do que cumpre. Iglesia sempre foi famoso pelo seu deboche e aqui ele parece engessado, sério demais. Embora o motor de seu filme seja uma crítica contundente ao pensamento da ciência moderna, seu fim mostra claramente que a realidade é menos lógica e mais moldada pelas interações de acordo com a vontade de quem a observa. Essa premissa aparece na primeira cena, num dos melhores momentos do veterano Hurt em cena, mas se perde nos caminhos que o roteiro e o diretor seguem a partir de então. O filme ainda causou certo alvoroço por ter Wood em cenas picantes com Leonor, especialmente por uma falada cena com espaguete -mas esta tem menos erotismo do que humor. O filme é todo assim, quando deveria ser romântico é cômico, enquanto deveria ter mais suspense, se recheia de curiosidades matemática. Pode até funcionar em alguns momentos, mas depois começa a parecer uma simples tabuada repetida à exaustão quando já aprendemos que dois e dois são quatro.
Enigmas de um Crime (The Oxford Murders/França-Espanha-Reino Unido-2008) de Alex de La Iglesia com Elijah Wood, John Hurt, Julie Cox e Leonor Waitling. ☻☻
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