Ingemar: "Tem algo errado com esse amiguinho..."
O Cineasta Lasse Hallström foi descoberto pelo mundo quando lançou Minha Vida de Cachorro, um filme simples e comovente sobre um menino sueco que vai morar com os tios quando a mãe adoece no fim da década de 1950. Toda a graça do filme está na leveza e na forma poética como o diretor trata temas corriqueiros do cotidiano, tudo flui com naturalidade como se fossemos parte daquela cidadezinha em que Ingemar (o irresistível Anton Glanzelius, de 12 anos) vai morar. O roteiro é baseado no livro de Reidar Jonsson) e ganha esse título em português devido as comparações que o menino faz de sua vida com a cachorrinha Laika, que foi mandada para o espaço e acabou morrendo de fome. Perceba a sensação de solidão e inadequação que esta situação traz e você terá ideia do que o filme realmente trata. Sua mãe aparenta estar cada vez mais nervosa que o recomendável e decide mandar seus dois filhos para casa de parentes diferentes. Ingemar é enviado para a casa dos tios numa cidadezinha bucólica onde tudo parece girar em torno de uma fábrica de vidro. Obviamente que tudo no filme é contado a partir da ótica de seu pequeno protagonista e os maiores acontecimentos nas redondezas acabam ficando por conta das brincadeiras que as crianças inventam. Seja o joguinho de futebol com os amigos, as conversas com um velhinho excêntrico que guarda catálogos de lingerie no quarto ou o malfadado experimento espacial preso à uma corda... tudo exala ao mesmo tempo melancolia e alegria. Além do relacinamento de Ingemar com os adultos que o cerca (que além dos tios e do velhinho ainda inclui uma loura que posa para um artista) o pequeno ainda irá descobrir o amor por uma coleguinha andrógina do time de futebol (Melinda Kinnaman) que é uma graça (e que se faz de durona para não ser feita de boba pelos meninos locais. É nesta relação amorosa infantil que o filme consegue alcançar alguns de seus momentos mais delicados e divertidos (como quando duas meninas disputam o coração de Ingemar e ele começa a... latir). Apesar de toda sua leveza e formato irresistível o filme aborda temas complicados, como a morte, a solidão e a descoberta da sexualidade a partir da vida de uma criança que vive refletindo sobre o peso da vida. Hallström teve muita sorte em escolher o elenco certo para defender uma galeria de personagens curiosos que nunca caem na caricatura (como os casal de tios gente boa do menino, cortesia de Tomas von Bromssen e Kicki Rundgren), além de ter um protagonista irresistível como o pequeno Anton para estrelar esta obra-prima. Pelo olhar terno sobre o cotidiano o filme concorreu ao Oscars de direção e roteiro e serviu para que Hallström carimbasse seu passaporte para Hollywood (e fizesse o irmão direto deste filme: Gilbert Grape/1993) mas sabia que dificilmente repetiria a deliciosa atmosfera deste filme inesquecível que ganhou mais de uma dezena de prêmios internacionais. Para os brasileiros o filme ainda tem um atrativo ainda maior, já que o tio de Ingemar é fã do Brasil (do futebol ao samba).
Minha Vida de Cachorro (Mit liv som hund/Suécia-1985) de Lasse Hallström com Anton Glanzelius, Anki Liden, Manfred Serner, Melinda Kinnaman, Tomas von Bromssen, Ing-Marie Carlsson e Kicki Rundgren. ☻☻☻☻☻
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