Harrelson e Foster: missão ingrata.
Demorei um bocado para pegar este filme na locadora, mesmo com suas indicações ao Oscar de coadjuvante (Woody Harrelson) e roteiro original, faltava-me um pouco de estado de espírito para ver mais um filme sobre a mal-fadada invasão dos EUA no Afeganistão. O Mensageiro ainda tem em no seu currículo o prêmio de melhor roteiro em Berlim2008 e em algumas premiações independentes. O filme tem como ponto de partida um dos trabalhos mais tristes do mundo: ser mensageiros que comunicam aos parentes mais próximos os falecimentos do front. O roteiro segue dois oficiais responsáveis por esta ingrata tarefa, sendo que além de ter que lidar com o desespero das famílias ainda precisam exorcisar seus próprios fantasmas. Aos poucos descobrimos que o capitão Tony Stone (Woody) tem problemas a vencer com o álcool e que seu parceiro, o sargento Will Montgomery (Ben Foster), precisa lidar com as contradições de seu título de herói de guerra. Will é o verdadeiro protagonista da trama, na sua inadequação na volta para a casa, a necessidade do barulho furioso é compensado com toneladas de rock pesado, mas o noivado de sua antiga namorada (Jena Malone em seu primeiro papel adulto) não ajuda muito. Não bastasse essas mazelas pessoais, Will ainda tem que lidar com a tristeza própria de seu trabalho e seu interesse por uma das viúvas a quem dá a nota de falecimento do esposo - e o fato dela ser feita por Samantha Morton sem medo de parecer normal facilita muito compreender a conexão estabelecida entre os personagens. No entanto, o filme não pretende ser um romance, mas um olhar sobre a vida desses dois oficiais - por isso o diretor abusa de detalhes sobre o procedimento da tarefa, usa muita cena de "câmera na mão" para criar um clima quase documental, cria situações diferentes no momento que as famílias recebem a derradeira notícia e outras cenas que tem como único objetivo mostar que apesar do estranhamento inicial, Tony e Will parecem dois amigos de infância tentando crescer. Apesar do esforço em contar uma história realmente original o roteiro mostra-se muito irregular, tentanto equilibrar fortes simbologias (como a aliança da viúva, a identificação com os parentes das vítimas) com fraquezas ao aprofundar os conflitos éticos de Will ao envolver-se com a mulher fragilizada e desvios nem sempre necessários (a surra nos adolescentes no rio, a brincadeira no estacionamento...). A narrativa sempre acaba tropeçando. O diretor Oren Moverman (que também assinou a escrita de Não Estou Lá com Todd Haynes) tem boas intenções neste olhar diferente sobre a guerra, mas precisa aprender algumas manhas em contar uma história. Ainda assim, vale conferir Harrelson num papel sério depois de tanto tempo em participações especiais em todo quanto é tipo de filme. Desde suas indicações aos prêmios de O Povo Contra Larry Flynt () ele não abraçava as ambiguidades de um personagem com tanto gosto. Samantha Morton também consegue atribuir uma força grandiosa num papel pequeno, sendo a atriz certa para destacar uma personagem que poderia ser facilmente apagada. A fragilidade acaba sendo Ben Foster, que já provou ser um bom ator, mas que de vez em quando cai no exagero.
O Mensageiro (The Messenger/EUA-2008) de Oren Moverman, com Ben Foster, Woody Harrelson, Samantha Morton, Jena Malone e Steve Buscemi. ☻☻☻
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