Selton e Johnny: precisamos falar sobre meu pai.
Quando a comédia Bingo: O Rei das Manhãs/2017 de Daniel Rezende foi o escolhido pelo MinC para concorrer a uma vaga no páreo do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que afirmavam estar torcendo para O Filme da Minha Vida, terceiro filme dirigido por Selton Mello. Minha surpresa não tem ligação alguma com as qualidades dos filmes, mas por notar como o filme de Selton é querido. Embora retrate novamente um núcleo familiar, a realidade aqui é bem diferente da que vimos em sua estreia com Feliz Natal (2008) que chamava atenção não apenas por seus maneirismos, mas também pelo tom sombrio temperado com humor agressivo. O Filme da Minha Vida também se mostra um degrau acima de O Palhaço/2011, filme de Selton que foi pré-indicado ao Oscar mas que deve ter causado estranhamento por sua narrativa leve e quase episódica. Desta vez Selton investe numa narrativa mais tradicional, mas não menos envolvente ou interessante ao contar a história de Tony (Johnny Massaro que é um ator bem mais interessante do que eu imaginava), filho de um francês (vivido por Vincent Cassel) com uma brasileira (Ondina Clais); Tony é bastante ligado à família, mas foi para a cidade estudar francês e quando volta formado é para ver seu pai partir para a terra natal sem maiores explicações. Deste ponto em diante, o filme segura a emoção de seus personagens, mantendo uma respiração quase suspensa sobre o que teria acontecido com o patriarca da família. Mas a vida segue quase em círculos com Tony lecionando francês numa escola local e tendo interesse por duas irmãs da região, Petra (Bia Arantes) e Luna (Bruna Linzmeyer) e, de vez em quando instigando a mãe a pensar sobre os motivos do pai ter partido. Agora a figura paterna de Tony é Paco (Selton Mello), uma amigo rústico do pai que está sempre por perto como se fosse realmente parte da família. Ainda que O Filme da Minha Vida tenha um humor discreto (embora destoe sempre que aparece aquele menino querendo ir para o bordel da cidade), trata-se de um filme bastante introspectivo. Embora tudo pareça caminhar para o previsível, o roteiro reserva algumas surpresas que são cuidadosamente bem trabalhadas para evitar a sensação de "reviravolta" e realmente a ajudar a contar a história daqueles personagens, que no fundo, guardam segredos que ninguém imaginava. Tecnicamente o filme é uma beleza! A bela fotografia (de Walter Carvalho) valoriza bastante as locações serranas e a reconstituição de época (anos 1960), os atores estão bem em cena e a trilha sonora sempre traz densidade para as cenas (embora nem sempre ela seja necessária). No fim das contas, acho que o filme agrada por saber contar a história que tem em mãos (baseada no livro Um Pai de Cinema de Antonio Skármeta), ousando, ironicamente, fazer o que Tony afirma desde o início: não poder contar o final desta história.
O Filme da Minha Vida (Brasil/2017) de Selton Mello com Johnny Massaro, Selton Mello, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Ordina Clais e Bia Arantes. ☻☻☻☻
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