Holt e Groof: nos labirintos de mentes criminosas.
O agente John Douglas se tornou pioneiro no FBI por buscar compreender o perfil de assassinos perigosos num tempo onde rotulá-los como loucos já bastava. Nos anos 1970 ele foi o primeiro a tentar entender a lógica por trás dos serial-killers - isto quando eles nem tinham este nome. Para desenvolver seu trabalho, Douglas esteve frente a frente com alguns dos assassinos mais assustadores dos Estados Unidos amparado não apenas pela curiosidade mas pelo foco na ciência comportamental. Douglas fez história e sua experiência foi retratada no livro Mindhunter que inspira esta série produzida por David Fincher. Logo no primeiro episódio fica evidente o que chamou atenção de Fincher para o material, conhecido por seus trabalhos em filmes como Se7en (1995) e Clube da Luta (1999), já que compartilha com o investigador o interesse por mentes, digamos, complicadas. Em cartaz no Netflix desde o dia 13 de outubro, a série (de dez episódios) é um grande acerto ao surpreender por se distanciar da grande maioria dos programas sobre investigação, uma vez que o centro de sua narrativa não é a morte ou a violência, mas o processo em que mergulha seus personagens. Já nos primeiros episódios, o uso de anticlímax deixa claro que a ideia de perseguir "o vilão da semana" ou desvendar "o crime do dia" não é o objetivo por aqui. Valorizando os personagens e os diálogos, Mindhunter demonstra como os protagonistas buscam entender melhor como funciona a mente de um criminoso capaz das maiores atrocidades. Neste ponto, a escolha de Jonathan Groof para viver o agente Holden Ford é excepcional, já que o ator o faz crescer diante da câmera, nos surpreendendo com as qualidades e defeitos do personagem. Trata-se de um belo trabalho do ator que já fizera as séries Glee (2009-2015) e Looking (2014-2015), mas que aqui tem seu trabalho mais notável. Durante a série, o que vemos é um personagem que começa sendo um negociador de reféns em crise com o que enfrenta em serviço, insatisfeito ele passa a treinar novos profissionais até perceber que entre sua teoria e a prática existe um enorme abismo. Colabora muito para essa mudança de paradigmas seu namoro com uma estudante de Sociologia, Debbie (Hannah Gross) que o faz pensar em aspectos diferentes do trabalho. Ao lado de Ford em suas descobertas está o agente mais experiente Bill Tench (Holt McCallany) e a psicóloga Wendy Carr (Anna Torv da cultuada série Fringe) - que se juntará á equipe como consultora do FBI. Claro que de vez em quando o trio terá problemas entre si, com os meandros do FBI, com autoridades variadas e dilemas próprias da pesquisa que desenvolvem. Um ponto crucial para o andamento da trama são os encontros com versões dos mais assustadores assassinos da história dos Estados Unidos, neste campo obscuro, o destaque fica com Cameron Britton que causa arrepios ao encarnar Edmund Kemper, figura importantíssima no trabalho dos agentes. Com seu jeito desprovido de emoção, fala pausada e postura insuportavelmente controlada, ele funciona de excelente contraponto aos olhos expressivos do agente Holden, cada vez mais confiante e cheio de si perante suas descobertas. Com ótimo roteiro, atuações sólidas e uma estética que remete diretamente a Zodíaco (2007), David Fincher (que além de produtor, dirige quatro episódios da série) conseguiu uma das melhores estreias do ano - e já aguardo a segunda temporada ansiosamente (enquanto ela não vem, já comprei o livro de Mark Olshaker e John Douglas para conhecer um pouco mais do que vem pela frente).
Torv: foco no método científico.
Mindhunter (EUA-2017) de Joe Penhall com Jonathan Groof, Holt McCallany, Anna Torv, Hannah Gross, Cameron Britton e Joseph Cross. ☻☻☻☻☻
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