Naomi e Jake: bom só pela metade.
Jim é um corretor casado com a filha do chefe. Tem uma bela casa, um belo carro, belas roupas e um cuidado quase excessivo com a aparência. Quando ele aparece na primeira cena conversando com a esposa, o maior problema de suas vidas parece ser a geladeira que está pingando. Parece. Após uma armadilha do destino, Jim começa a perceber a vida de uma forma diferente, mas voltando-se cada vez mais para dentro de si, ele se depara com um imenso vazio. Nada do que construiu até ali tem valor, sua formação se deu graças a um amigo que lhe ajudava mais do que devia, a casa confortável se confunde com um conjunto de objetos sem sentido e as relações pessoais no trabalho também não tem muito significado. O estranho é que ao mesmo tempo ele passa a perceber detalhes cotidianos que antes não tinham importância, tornando tudo ao seu redor numa grande metáfora (seja a geladeira que pinga ou uma árvore que foi arrancada pelo vento) o mundo de Jim está prestes a implodir. O campo da metáfora é o território deste último filme de Jean Marc-Valée, diretor que ficou na mira do Oscar com seus trabalhos anteriores (Clube de Compras Dallas/2013 e Livre/2014), que garantiram indicações ao Oscar para seus atores. O papel de Jim não valeu indicação para Jake Gyllenhaal, mas ele precisa dar conta de uma tarefa complicada por aqui, principalmente porque Demolição funciona bem mesmo só na primeira parte. Aos poucos Jim revela uma curiosidade pitoresca por mecanismos, um desejo de saber como tudo funciona, por isso mesmo ele desenvolve uma compulsão por desmontar tudo o que atravessa o seu caminho. Talvez o seu comportamento revele o quanto gostaria de desmontar a si mesmo e perceber o que tanto lhe incomoda, no entanto, é bem provável que não encontre. Essa busca por respostas e motivações é destacada pelo trabalho do diretor e especialmente pela montagem no primeiro ato, com cortes bem encaixados e palavras que se repetem na boca do protagonista como se buscassem sentido numa fluência original da narrativa. O problema é quando Jim começa a amizade com uma mulher que trabalha no serviço de atendimento a clientes de uma empresa. O relacionamento poderia aprofundar as inquietações do personagem, mas faz o oposto, seguindo por caminhos que são bem menos interessantes do que o início da história sugeria. Embora Naomi Watts seja uma boa atriz, ela não tem muito o que fazer com uma personagem mal escrita e sem muito o que fazer em cena além de fumar maconha e ser mãe de um adolescente (que também ainda não sabe direito quem é). Aos poucos Jim parece ser apenas um inconsequente, um homem que recusa-se a crescer e procurar um rumo e o que poderia ser uma, mais uma vez, metáfora sobre a ilusão do bem-estar de uma pessoa bem sucedida, torna-se um filme meio desengonçado. Não há novidade em dizer que Marc-Valée consegue manter bom ritmo na narrativa (embora eu considere que ele leve a sério demais o que deveria ser uma "comédia existencialista maluca"), mas é inevitável a sensação de que a história já tinha acabado na metade da sessão. Assim como seu protagonista, o filme fica sem saber para onde ir ou o que fazer, assim, chega ao final se rendendo a revelações que justificariam a inquietação do personagem (só que não) e o choque provocado pelo mundo real com o que você escolhe ser. Pode ser até um ponto "para emocionar" da trama, mas que não deixa de ser frustrante para um filme que desejava ter o frescor da originalidade.
Demolição (Demolition/EUA-2016) de Jean Marc-Vallée com Jake Gyllenhaal, Naomi Watts, Chris Cooper, Judah Lewis, C.J. Wilson e Heather Lind. ☻☻
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