segunda-feira, 9 de outubro de 2017

PL►Y: Nossas Noites

Fonda e Redford: reencontro apóes 28 anos. 

Jane Fonda e Robert Redford já fizeram vários filmes juntos e fazem parte de uma geração que revolucionou a forma como Hollywood fazia filmes. Influenciados pelo cinema europeu, ajudaram a politizar o que antes era apenas entretenimento e abordar temas polêmicos ao lado de cineastas que estavam dispostos a fazer a plateia perceber que o mundo era bem mais complexo do que se via nas telas. Redford nunca parou de fazer filmes (seja como ator, diretor ou produtor) e ainda ajudou a alavancar uma outra revolução no cinema americano ao instituir o Festival de Sundance que evidencia até hoje o trabalho de centenas de cineastas interessantes que viviam à margem da indústria do entretenimento. Já Jane Fonda escolheu dar uma longa pausa (quinze anos) na carreira para se dedicar ao casamento e a família, o que gerou algumas críticas - já que era um símbolo de politização e feminismo, quanto a isso, ela foi categórica de que a liberdade lhe dava o direito de escolher o que considerava melhor para ela dentro de todas as opções que tinha. Em 2005 ela voltou a filmar, privilegiando o trabalho em comédias inofensivas, tão inofensivas quanto este Nossas Noites, produzido por Redford e dirigido pelo indiano Ritesh Batra. Batra ficou conhecido pelo seu trabalho no ótimo Lunchbox (2013), mas aqui, ao adaptar o romance de Kent Haruf ele opta misturar água com açúcar e fazer um filme que se assiste com facilidade, mas que dificilmente ficará na memória por muito tempo. O interessante é que o livro apresenta grande sensibilidade ao abordar temas delicados como envelhecimento, solidão, sexo na terceira idade e morte, mas aqui tudo é apresentado de forma um tanto diluída, sem que os aspectos mais incômodos da história recebam destaque. Resta então curtir Jane e Robert juntos em cena com o carisma intacto depois de tantos anos dedicados ao cinema. Jane é Addie, viúva que mora sozinha desde que o filho cresceu e foi viver a própria vida e Redford é Louis, professor aposentado, igualmente viúvo e que tem uma filha que não mora por perto. Com dificuldade de dormir à noite, Addie convida Louis para dormir em sua casa, mas logo esclarece que não se trata de sexo, apenas de ter companhia para conversar. Ele fica desconfiado, mas acaba aceitando o convite, o que gera alguns comentários maldosos pela cidade e  um relacionamento que se intensifica cada vez mais, especialmente quando chega Jamie (Iain Armitage, que atualmente está em tudo), o irresistível neto de Addie, para passar um tempo na casa da avó. O filme funciona quando  o casal maduro tenta encaixar um na vida do outro e as lembranças do passado também dão ao filme um ar nostálgico que funciona, mesmo que não aprofundando as várias questões sinalizadas apenas levemente - na clara intenção de tornar o filme sempre agradável de ver. No entanto, eu adoraria ver um desenvolvimento mais elaborado dos dois personagens cheios de história para contar... mas esta não é a ideia do filme. As antigas fãs da Jane Fonda vão estranhar o final e a maioria das pessoas irá apenas ficar revoltada no que mais parece uma propaganda de telefonia celular, mas o filme alcança um resultado bem simpático. Pelo menos a exibição do filme no Festival de Veneza deste ano rendeu uma justa homenagem às carreiras de Jane e Redford ao lhes conceder um Leão de Ouro honorário pelo conjunto da carreira. Eles merecem.

Nossas Noites (Our Souls at Night/EUA-2017) de Ritesh Batra com Jane Fonda, Robert Redford, Mathias Shoenaerts, Iain Armitage e Judy Greer. ☻☻☻

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