Grace, Ben, Adam e Marvel: ajustando os laços familiares.
A Netflix provocou uma grande discussão no Festival de Cannes desse ano por conta de ter duas de suas produções originais entre os concorrentes à Palma de Ouro em Cannes. Houve tanta polêmica pelo fato de um dos seus filmes ganhar o mais prestigiado Festival do mundo que era inútil exaltar as qualidades dos filmes. Quando Okja entrou em cartaz na plataforma foi adorado por público e crítica, agora chegou a vez de The Meyerowitz Stories mostrar que pouco importa para a qualidade de um filme se ele é lançado na Netflix ou na sala de cinema. Dirigido por Noah Baumbach o filme repete vários aspectos da carreira do diretor que desde o sucesso de A Lula e A Baleia (2005) investe em analisar pessoas com pendores artísticos e que são, quase sempre, incompreendidos. Aqui ele reuniu um elenco invejável para formar a família de Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman), artista plástico que se prepara para uma retrospectiva em sua carreira. Harold é atualmente casado com a riponga Maureen (Emma Thompson) e tem três filhos, o perdido Danny (Adam Sandler), a discretíssima Jean (Elizabeth Marvel) e o "meio irmão" Mathew (Ben Stiller). Não existe propriamente um fio condutor na história, mas um conjunto de situações que revelam aos poucos as relações daquela família. Assim descobrimos que Danny desistiu de ser músico (e encontra alguma realização com a filha aspirante a cineasta vivida por Grace Van Patten), que a relação de Mathew com o mundo ao seu redor não é das melhores (e as conversas com a esposa e o filho acontecem acidentadas através do celular), embora tenha tentado fazer tudo certinho na vida, além de Jean ser uma personagem bastante incomum (e Elizabeth Marvel a encarna de forma realmente surpreendente). Embora o trio de filhos tenha mais tempo em tela, tudo gira em torno do patriarca e seu relacionamento com os três e, neste ponto, foi uma sábia escolha ter Dustin Hoffman no papel, afinal, ele transita com leveza durante todas as situações do filme, seja um jantar, uma vernissage, uma troca de ternos e um problema de saúde. Por conta dele, nem mesmo os sustos que a família leva no meio do caminho torman o filme um dramalhão. Em termos de narrativa o diretor faz o de sempre, cria personagens curiosos, faz cortes bruscos (que às vezes acontecem no meio de uma palavra), faz gracinhas com os "muderninhos" e mantem o mesmo tom cômico despretensioso de quando começou a namorar Greta Gerwig (e sepultou de vez o pessimismo insuportável que lhe subiu a cabeça em Greenberg/2010). Assim, o resultado é tão interessante, quanto simpático! Bem distante do tom amargo do início de carreira do diretor. Para muita gente o destaque do filme é a atuação de Adam Sandler que de vez em quando mostra que tem salvação. No entanto, seu trabalho chama menos atenção do que a do grande Hoffman e de Marvel, que roubam a cena sempre que aparecem por perto. Desde Cannes os críticos apontam que o filme pode aparecer nas premiações do fim de ano, mas, sinceramente, acho que depois de tantos anos sendo esnobado, Baumbach não está nem aí para isso. Talvez por isso, seu estilo continue o mesmo.
Os Meyerowitz - Família não se Escolhe (The Meyerowitz Stories: New and Selected/EUA-2017) de Noh Baumbach com Adam Sandler, Dustin Hoffman, Ben Stiller, Elizabeth Marvel, Emma Thompson, Grace Van Patten e Sigourney Weaver. ☻☻☻
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